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MST inaugura série de aulas públicas no Dia Mundial da Alimentação

“Por que São Paulo passa fome?” é o tema das exposições que acontecerão em cinco pontos da capital paulista
Aula Pública foi realizada na Zona Leste de São Paulo. Foto: Yuri Gringo

Por Wesley Lima
Da Página do MST

Como parte da programação do 1º Festival de Cultura Alimentar e Participação Popular em São Paulo, o MST realizou a Aula Pública “Por que São Paulo passa fome?” com as participações de João Pedro Stedile, da coordenação nacional do MST, e Cristina Stunger, da Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória (Copavi), no assentamento Santa Maria, em Presidente Prudente (PR).

A Aula Pública aconteceu na tarde deste domingo (16), Dia Mundial da Alimentação, no Centro de Referência em Segurança Alimentar e Nutricional (CRESAN) da Vila Maria, com o apoio do Banco de Alimentos Municipal de São Paulo.

Cristina, que atualmente contribui na direção geral da cooperativa, durante sua exposição falou sobre o processo de organização e beneficiamento da produção de cana de açúcar pelas famílias assentadas. Ela destacou que a Copavi nasce com o objetivo de levar alimentos para quem mais precisa e para isso é necessário garantir o acesso à terra e políticas públicas para agricultura familiar camponesa.  

Nesse sentido, ela explicou que “o não acesso à terra é um dos provocadores do aumento da fome e da desigualdade social que vive o nosso país”.  Outro tema que apareceu com força em sua fala é o método de produção familiar, que tem como base a organização coletiva, a relação com o meio ambiente, com a biodiversidade local e a construção de novas relações de trabalho.

Cristina, da Copavi, fala sobre as experiências produtivas. Foto: Yuri Gringo

“No assentamento a gestão produtiva é toda coletiva e o nosso tipo de produção é agroecológica. A cana de açúcar produzido pelo MST é livre das relações de exploração do trabalho e isso é certificado. Tem a certificação nacional da Ecovida e de exportação pelo EBD. A gente não construiu um cultivo de cana apenas, construímos dentro do nosso agroecossistema um equilíbrio dinâmico, que está entre a criação de pecuária leiteira, cultivo da cana e cultivo de autossustento.”

Por isso, Cristina enfatiza que é necessário no combate à fome garantir direitos, como o acesso à terra e a alimentação saudável para todo o povo. “Nós ressignificamos a produção de cana de açúcar e mostramos na prática que é possível construir novas relações de produção com o meio ambiente e essa é a nossa resposta para o aumento do fome”.  

Comida é vida

Stedile em debate a importância do alimento para a garantia da vida. Foto: Yuri Gringo

João Pedro Stedile, analisando o processo social e histórico da fome no país destacou: “o alimento é acima de tudo um direito de qualquer ser humano. Portanto, ele não pode ser tratado como uma mercadoria qualquer, objeto de lucro ou qualquer comida que você dá para as pessoas se sentirem saciadas. Por isso é importante garantir uma alimentação saudável. Ou seja, o alimento é nossa vida e daí a importância do alimento ser um direito. Se quisermos garantir a vida, precisamos garantir que cada ser humano tenha acesso à esse alimento.”

Pensando nisso, ele explicou que o alimento precisa “ser o mais saudável possível” e que o agronegócio não e produtor de comida. “Quem alimenta o povo de verdade é a agricultura familiar camponesa.”

E completou: “Aqui no Brasil, após a crise que se instalou em 2014, o golpe em 2016 e o início do governo Bolsonaro em 2018, chegamos aos dias atuais com 33,1 milhões de brasileiros passando fome todos os dias. Ou seja, não conseguem se alimentar com as necessidades de seu organismo. Além desses que passam fome, temos mais 60 milhões que não se alimentam adequadamente. Se alimentam com baixo nível nutricional.”

Stedile explicou que esse é o problema que enfrentamos hoje, porém o agronegócio continua sendo o principal destino dos recursos públicos: “o agronegócio é o modelo de produção agrícola no Brasil. Mas notem, o agronegócio não produz alimentos, produz commodities. E notem novamente, commodities não é alimento, elas seguem o padrão comercial do mercado internacional”.

Em síntese, ele afirmou que o investimento na produção do agronegócio tem gerado fome no país e que é necessário avançar na construção de políticas públicas, que como explicou Cristina, a partir das experiências produtivas da Copavi, garante o desenvolvimento sustentável, econômico e combate à fome diretamente.

E continua: “a agricultura familiar camponesa se baseia no trabalho familiar, se dedica à produção de alimentos, primeiro, para própria família, e depois para o mercado local. A agricultura familiar camponesa é a base da alimentação dos brasileiros, 80% da alimentação que chega na mesa do trabalhador hoje vem da agricultura familiar. Quando a gente luta por terra, estamos lutando para implementar o método de produção da agricultura familiar. Por outro lado, o Governo Bolsonaro, combateu a reforma agrária e destruiu as políticas que beneficiaram a agricultura familiar camponesa”.

Assista a aula na íntegra do João Pedro Stedile:

Dia Mundial da Alimentação

O 16 de outubro, mundialmente é uma data com mobilizações de movimentos sociais ligados à Via Campesina. A organização, que representa diversos movimentos e entidades, ligada aos povos do campo, da águas e florestas, entre eles, o MST, promove um dia de ações para debater junto à sociedade a construção da Soberania Alimentar, denunciar a expansão destrutiva e violações dos direitos humanos promovidas pelas corporações transnacionais do agronegócio.

A Via Campesina, juntamente com o movimento mais amplo de Soberania Alimentar, propõe a Soberania Alimentar como um caminho alternativo para enfrentar as urgentes crises do aquecimento global, fome, desnutrição e pobreza extrema.

Durante o marco internacional – que teve a data escolhida para lembrar a criação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), em 1945 – a Via Campesina, realiza atos, protestos, plantios, doações de alimentos, debates e formações, com o objetivo de desenvolver uma reflexão a respeito da alimentação no mundo, com o mote: “Ação pela Soberania Alimentar dos Povos contra Corporações Transnacionais”, e com o lema: “A Soberania Alimentar Alimenta os povos! O Agronegócio é fome!”.

Semana da Alimentação de São Paulo

Entre as atividades confirmadas estão uma aula pública com a presença de João Pedro Stédile, da direção nacional do MST, realizado neste domingo (16), a mostra Cinema Entretodos – voltado tanto para o público adulto e infantil – além de ato simbólico da entrega de diretrizes de políticas públicas desenvolvidas ao Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional de São Paulo (COMUSAN-SP), com recomendações sobre o II Plano Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (PLAMSAN) de São Paulo/SP.

*Editado por Solange Engelmann