Justiça por Keno
KENO, PRESENTE! 15 anos do assassinato de Valmir Mota de Oliveira
Por Barbara Zem do Setor de Comunicação e Cultura do MST/PR
Da Página do MST
Nesta sexta-feira, dia 21 de outubro de 2022, completa-se 15 do assassinato do agricultor e militante Sem Terra Valmir Mota de Oliveira, mais conhecido como Keno. Neste dia, no ano de 2007, o ataque foi contra os camponeses e camponesas que ocupavam a área de pesquisa da transnacional Syngenta Seeds. A área realizava experimentos ilegais com sementes geneticamente modificadas dentro da faixa de amortecimento do Parque Nacional do Iguaçu, ato proibido, sendo que o parque é considerado patrimônio natural da humanidade.
O crime foi realizado a mando da Syngenta através da contratação de uma empresa de milícia armada para realizar um despejo forçado e portanto ilegal. Com um tiro no peito e na perna, executaram o companheiro Keno, e deixaram mais três trabalhadores gravemente feridos, dentre elas, Isabel Nascimento de Souza, que em tentativa de execução recebeu um tiro na cabeça.
Após o caso ganhar repercussão, a multinacional de transgênicos e agrotóxicos, Syngenta Seeds, foi judicialmente responsabilizada pelo assassinato de Valmir Mota de Oliveira, conhecido como Keno, e pela tentativa de assassinato de Isabel do Nascimento de Souza, 11 anos após o crime. Em novembro de 2018, a 9ª Câmara do Tribunal de Justiça do Paraná confirmou a decisão do juiz de direito da 1ª Vara Cível da Comarca de Cascavel que condenou a empresa suíça em 2015. A Justiça determinou que a empresa indenize os familiares de Keno e de Isabel, pelos danos morais e materiais causados.
Na época com 34 anos, Keno deixou sua esposa Íris Maracaípe Oliveira e seus três filhos: Juan, Keno Jr e Carlos Eduardo. Na área onde aconteceu o assassinato de Keno, funciona atualmente o Centro de Pesquisas em Agroecologia Valmir Mota de Oliveira, o Keno. A área possui 123 hectares e é administrada pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAPAR).
Trecho da poesia criada para homenagear Keno
De um lado encontra-se o sonho da Terra Livre
Do outro, a terra cercada em cativeiro
Os que sonhavam estavam de fora
A terra prisioneira de poucos que estavam dentro
Os de fora ousaram entrar
Os de dentro alvoroçam
Lá dentro, a festa da liberdade
Lá fora emboscada,conluio
Keno altivo e sereno
Sorria a vitório da terra
O povo sofrido é acolhido
Na liberdade do que libertará
Assim era sua sina
Um homem de fé
Um homem de verdade
Relembre o caso
Em 2006, no mês de março, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra juntamente com outros Movimentos da Via Campesina ocuparam a Fazenda da Multinacional Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste, no Paraná. A ocupação começou como forma de denúncia sobre os experimentos que a empresa vinha fazendo com sementes geneticamente modificadas dentro da faixa de amortecimento do Parque Nacional do Iguaçu, considerado patrimônio natural da humanidade.
Os camponeses e camponesas que ali estavam, começaram a plantar alimentos para assim recuperar os danos que o experimento deixou naquele terreno. Após um tempo, foram despejados e permaneceram organizados às margens da BR, até o governo do Estado decretar que a área era de utilidade pública.
Após o decreto do governo do Estado, os camponeses e camponesas voltaram para área ocupada, mas em pouco tempo sofrem mais um despejo e assim montam acampamento no Assentamento Olga Benário, que fica ao lado da fazenda. Nesta época, Keno e outras lideranças já estavam sofrendo ameaças por milícias da Sociedade Rural do Oeste do Paraná e pela empresa Syngenta Seeds.
Foi no amanhecer do dia 21 de outubro de 2007, que cerca de 200 camponeses e camponesas voltaram para ocupar a área pública, que estava sendo preparada para o plantio de milho e soja transgênicos. Por volta do meio dia, um micro-ônibus cheio de seguranças (milícia armada) e um carro repleto de armas chegaram e logo começaram a atirar contra todos.
Keno foi atingido com um tiro na perna e outro no peito, três pessoas ficaram gravemente feridas, além de outras pessoas com ferimentos mais leves. Essa ação foi realizada por cerca de 40 pistoleiros, integrantes da milícia armada da região.
Keno descansa ao lado dos justos, seu legado e seu exemplo de militância segue vivo nas memórias e nas lutas do povo Sem Terra.
Assista no YouTube o documentário: NENHUM MINUTO DE SILÊNCIO!
*Editado por Fernanda Alcântara