De ontem para o futuro
Por Lenise Aubrift Klenk*
Da Página do MST
Hoje preciso falar de ontem e de futuro. Não estou acostumada a escrever em primeira pessoa, mas algumas passagens da vida e da história exigem um eu bem posicionado, convicto e manifesto. Tem sido importante colocá-lo em prática. Às vezes tem uma qualquer coisa de constrangimento, outras de timidez, covardia, zelo ou bom senso. Mas sobre noites como a de ontem, falar em primeira pessoa é como lavar a alma.
Quando cheguei àquele teatro, fui encontrando rostos alegres e abraços. Eu não conhecia todo mundo, mas todo mundo parecia sorrir pra mim. Dos que eu conhecia, tinha de tudo e não eram poucos. Amigos, fontes, colegas, amigos de amigos, familiares de conhecidos, conhecidos de parentes e por aí vai. O mais excitante naquele saguão cheio de alegria era reencontrar gente com quem sempre me identifiquei nas batalhas políticas e também os que vi deste lado da trincheira pela primeira vez.
Da entrada à saída do teatro, cada segundo e cada milímetro daquele espaço foi de encantamento. Meus olhos sorveram, encantados, cada cena do palco e da plateia. Era tudo uma pessoa só. E muitas. A cortina se abrindo para a brasilidade histórica de um Gilberto Gil a postos e de pronto cantante. A animação das minhas filhas, curtindo a música, dançando e certamente se sentindo seguras de estarem acompanhadas de tanta gente boa.
Meus olhos se encantaram com a plateia, que em coro pediu um novo presidente e acompanhou a banda afugentando o inferno pra outro lugar. Naquele clima alegre e protetor, foi tão gostoso ter certeza de que não estou sozinha. Ter certeza de que toda aquela gente não está lutando por si, mas pelos seus filhos, netos, sobrinhos, pelas minhas filhas, pelos mais pobres, pelos cidadãos negros, LGBTQIA+, agricultores familiares, indígenas, mulheres. De que aquela gente tem força pra continuar lutando por um país que não vai ser o dos nossos sonhos amanhã. Mas que será um Brasil com chance de planejar um futuro de justiça social, mais alegria e amor. De paz, como a que há de invadir o nosso coração, como diz Gilberto Gil.
*Lenise Aubrift Klenk é professora e jornalista