Geração de Renda
Saiba como beneficiamento do coco agroecológico mantém comunidade organizada no Sítio Coqueiro
Por Rodolfo Rodrigo
Do Brasil de Fato PE
Apesar de ter origem asiática, o coco faz parte da culinária dos povos tradicionais do Brasil. Agricultores e agricultoras familiares, pescadores e pescadoras e povos indígenas conhecem os saberes do manejo e da produção desse alimento que foi passado de geração para geração mantendo vivo também o processo de luta em defesa do território.
A 47 km do centro do município de Itapipoca, no Ceará, no distrito de Marinheiros, está o Sítio Coqueiro, uma comunidade onde residem 32 famílias e cerca de 200 pessoas.O sítio faz parte do Assentamento Maceió, um território da reforma agrária com mais de 11 comunidades tradicionais.
É no sítio que o grupo Balanço do Coqueiro beneficia o fruto e produz óleo, azeite, cocada, farinha de coco e coco ralado para venda. O trabalho começou há cerca de dez anos, quando jovens e mulheres do local mobilizaram a comunidade para comercializar o fruto dentro do próprio sítio.
“Apareceram pessoas falando que eram donas da terra e [a comunidade] passou por muito tempo nesse sentimento de que eles eram donos, as pessoas acabavam trabalhando pra esses ‘donos’. Eles decidiram se organizar e defender aquela terra onde eles tinham nascido, onde eles entendiam que era deles e começou um processo de resistência”, relembra a agricultora Regilane Alves.
A movimentação da venda dentro do sítio é uma contraposição à venda do coco para uma empresa que se instalou nos limites do assentamento, como a agricultora explica: “Esses patrões entenderam que não tinham força para lutar contra a organização dos agricultores e venderam a terra para uma empresa que iria fazer uma fazenda de coqueiros, que hoje é a Ducoco”.
O Balanço do Coqueiro é um grupo cultural, que atua com expressões artísticas de dança, teatro, música e poesia, e que viu no coco não apenas um elemento percussivo para suas apresentações, mas uma fonte de renda para possibilitar a permanência dos jovens do grupo no campo.
A produção do óleo de coco agroecológico é resultado do trabalho de preservação do cultivo e do beneficiamento do fruto na comunidade que valoriza a cultura alimentar e a manutenção das condições de permanência das juventudes no meio rural.
É o que afirma Rojane Santos, integrante do grupo. “A juventude que está entrando agora está tendo a gente como espelho, por que a gente está aqui resistindo. A gente saiu pra estudar, voltamos, e é o querer ficar na comunidade pra ver o desenvolvimento local”.
Ela ressalta que o beneficiamento do coco tem sido uma fonte de renda viável, mas também como forma de permanecer no campo. “A gente não vai ficar aqui trabalhando, fazendo óleo de coco como emprego, mas quer continuar pra ver o crescimento da própria comunidade e assim ganhar dinheiro fazendo isso, porque a gente está conseguindo ficar e sobreviver no campo recebendo nossa renda através do óleo de coco”, finaliza.
O grupo tem trabalhado oficialmente com a produção do óleo de coco agroecológico desde 2017, a partir do incentivo e da assessoria técnica do Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador e à Trabalhadora – o CETRA. Já as produções do beneficiamento do coco são comercializados na rede de feiras agroecológicas e solidárias dos Vales do Curu e Aracatiaçu, em Itapipoca, na Feira Agroecológica e Solidária de Fortaleza, organizada pelo CETRA, e nas redes sociais @oleodecocoagroecologico.