Encontro Estadual
MST no PR realiza Encontro Estadual em clima de celebração e preparação para novo ciclo
Por Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR
Da Página do MST
A 60 quilômetros da área urbana de Ortigueira, numa região rodeada de montanhas de mata nativa e áreas de lavoura, bandeiras do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) fixadas nas cercas também fazem parte da paisagem. A simbologia demarca a entrada do território do acampamento Maila Sabrina, comunidade camponesa formada por mais de 400 famílias que recebeu o Encontro Estadual do MST do Paraná, entre 14 e 16 de dezembro.
Nos muitos rostos de mulheres, homens e pessoas LGBTQIA+, muitos jovens, crianças, muitos outros marcados pelo trabalho na roça e no sol, estavam mais de 500 militantes vindos de todas as regiões do estado. Em comum, a emoção e a satisfação de comemorar e planejar a abertura de um novo período histórico, após um período duro de quase 8 anos em luta por democracia, contra a pandemia covid-19, no enfrentamento à fome e ao neofascismo.
A coesão política do acampamento Maila Sabrina se expressou de maneira contundente na campanha e também no resultado das urnas, sendo uma das 143 sessões eleitorais brasileiras com 100% de votos para o presidente Lula.
“Mesmo com todas as adversidades, nós avançamos. Agora temos que seguir e resistir, porque a construção da revolução é feita a cada dia. Agora vamos ajudar a criar o novo, esse Brasil liberto, em que a democracia seja da classe trabalhadora”, disse a companheira Izabel Grein, integrante da Direção Estadual do MST-PR.
Entre os temas tratados ao longo do encontro estiveram a conjuntura deste último período e a projeção para o novo ciclo que se abre; as iniciativas do desenvolvimento e auto-sustentação; a batalha das ideias; o fortalecimento da organização popular e dos Comitês Populares, da formação e a da organicidade do Movimento.
O envolvimento da militância e a qualidade dos debates foi enfatizado por José Damasceno, integrante da direção estadual do MST, como resultado da formação política e prática destes últimos anos: “Nós não estamos aqui à toa. Estamos realizando esse Encontro, com esse nível de participação e de conteúdo, é porque grande parte da militância que está aqui veio das trincheiras, veio das batalhas, desde o golpe contra a Dilma, da prisão do Lula, da eleição de 2018, da Covid-19”.
“Lutam melhor os que têm belos sonhos”
A memória e o legado de Che Guevara foram trazidos na solenidade de posse da nova Direção Estadual. Uma faixa estendida em destaque na plenária trazia uma das frases do lutador, que também dá nome à brigada da comunidade Maila Sabrina: “Lutam melhor os que têm belos sonhos”, como afirmou Che Guevara.
“Assim é o Movimento, uma permanente construção”, disse Ceres Hadich, da direção nacional do MST. “Um permanente acúmulo de forças. Na luta por Reforma Agrária Popular, temos entendido cada vez mais que a nossa missão é ocupar, produzir, alimentar, organizar, formar, massificar, disputar corações e mentes”.
Ao lado do trabalho, do internacionalismo e do estudo permanente, a solidariedade está entre os principais exemplos de Che para a militância Sem Terra. Em campanhas de solidariedade com quem passa fome, o MST-PR partilhou mais de 1 milhão de quilos de alimentos saudáveis desde abril de 2020.
Participaram do encerramento do encontro representantes de câmaras de vereadores de municípios da região, de entidades e de movimentos sociais, além de religiosos. O deputado estadual Professor Lemos (PT) também esteve presente.
Violência não cabe na Reforma Agrária Popular
“Somos mulheres, somos guerreiras, não naufragamos. Seremos um mar de bandeiras”, ecoou o coro formado por dezenas de companheiras, formando uma coluna de bandeiras no centro da plenária. A música se tornou marca do 1º Encontro Nacional das Mulheres do MST, realizado em março de 2020. A intervenção das mulheres preparou a Assembleia realizada mais tarde, voltada para todas as companheiras presentes no encontro.
A reflexão foi sobre a organização nos territórios, com trocas de experiências a respeito das iniciativas locais de organizações coletivas, que debatem a formação teórica, produção de alimentos saudáveis, geração de renda e o combate às violências de gênero.
Entre os encaminhamentos ficou a indicação de ampliar ações em todos os territórios do MST no Paraná, incentivando ainda mais a equidade de gênero no Movimento e na construção da Reforma Agrária Popular. Além disso, as companheiras também foram convidadas a se organizarem para as atividades do 8 de março de 2023, que vão ganhar as ruas de Curitiba.
O enfrentamento à violência contra pessoas LGBT também ganhou espaço no encontro, num cenário em que o Brasil continua sendo o país que mais mata pessoas LGBTIA+ no mundo.
Houve a leitura de um manifesto do coletivo LGBT da Via Campesina, que denunciou o assassinato de seis militantes Sem Terra assumidamente LGBTs, ocorridos desde o início da pandemia da Covid-19. Após a leitura, a plenária assumiu o compromisso de combater todas as formas de violência, de opressão e dominação dos corpos, da terra e territórios.
O Encontro recebeu a 1ª Assembleia de Negras e Negros do MST-PR, como pontapé inicial do debate sobre questão agrária, a luta pela terra e a questão étnico-racial.
Companheiras e companheiros do estado do Paraná se puseram a refletir sobre a identidade dos sujeitos negros Sem Terra e a tarefa diante do período histórico, o estudo e a formação da consciência e o trabalho de base. Um grande avanço no estado, com planejamento de ações de estudo e debate para o próximo ano.
O Coletivo da Juventude também se reuniu em assembleia para reafirmar o compromisso de envolver cada vez mais jovens nas ações do Movimento, nas diversas frentes de atuação. A próxima tarefa central do Coletivo é a organização do Curso Chê, formação realizada em conjunto pela militância Sem Terra da região sul do Brasil. A edição de 2023 está prevista para acontecer entre janeiro e fevereiro.
Maila Sabrina e a resistência camponesa
A comunidade Maila Sabrina, que forma a Brigada Chê, é conhecida por sua força de organização massiva e coletiva, construída por cerca de 400 famílias desde 2003. A coesão política do acampamento se expressou de maneira contundente na campanha e também no resultado das urnas, sendo uma das 143 sessões eleitorais brasileiras com 100% de votos para o presidente Lula.
Antes da ocupação da área, o território de 10.600 hectares era tomado pela devastação ambiental, por consequência da produção de búfalos, sem cumprir os critérios de preservação da Reserva Legal.
Em 19 anos de trabalho e construção da vida comunitária, a diversidade e a produtividade são as marcas da agricultura e da pecuária no acampamento: arroz, feijão, banana, cebola, melancia, melão, cará, inhame, marrecos, porcos, galinhas, ovelhas, gado e outras criações. As produções de alimentos saudáveis tomam conta do espaço antes devastado.
A média anual de produção de frutas no acampamento hoje é de cerca de 21 mil quilos, de grãos e cereais são produzidas 110 mil sacas e mais toneladas de batata doce, moranga, quiabo e diversas folhosas.
Desde o início da pandemia, o acampamento tem se somado à campanha nacional de solidariedade do MST. Ao todo, a comunidade já partilhou mais de 60 toneladas de alimentos, entre eles, quase 2 mil pães. Para fortalecer a partilha de alimentos, as famílias iniciaram uma Horta Comunitária Antonio Tavares de produção livre de venenos.
A reforma agrária popular mudou o panorama do espaço, com uma escola Itinerante que atende 220 estudantes, igrejas, centro comunitário, unidade básica de saúde, campo de futebol, lanchonete, bar, mercado e igrejas. A comunidade segue se desenvolvendo e modificando o espaço antes devastado em um local de produção de alimentos e desenvolvimento social.
*Editado por Fernanda Alcântara