Solidariedade

Em ato simbólico, movimentos populares entregam à delegação da Venezuela embaixada em Brasília

Sede diplomática foi defendida por ativistas em 2019 quando esteve ameaçada de ser tomada por apoiadores de Guaidó
Jorge Rodríguez e corpo diplomático venezuelano receberam embaixada de movimentos populares. Foto: Prensa presidencial

Por Lucas Estanislau
Do Brasil de Fato/Caracas (Venezuela)

Dirigentes e membros de diversos movimentos populares realizaram nesta segunda-feira (2) um ato simbólico de entrega da embaixada da Venezuela em Brasília à delegação do país vizinho, que estava na capital após acompanhar a posse de Lula.

A sede diplomática chegou a ser invadida em 2019 por apoiadores do ex-deputado Juan Guaidó, mas foi retomada por militantes de organizações sociais com o auxílio de parlamentares da esquerda brasileira e o próprio corpo diplomático venezuelano no país. A ação dos movimentos fez com que a “embaixadora” fictícia indicada por Guaidó e reconhecida pelo governo Bolsonaro, a advogada Maria Teresa Belandria, nunca operasse na sede oficial da missão diplomática venezuelana no país.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Partido dos Trabalhadores (PT), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Comitê Anti-imperialista Abreu e Lima foram alguns dos movimentos que estiveram presentes no ato desta segunda.

O presidente do Parlamento venezuelano, Jorge Rodríguez, que representou o país na posse de Lula, agradeceu as organizações e disse que “jamais a Venezuela vai esquecer o gesto e o acompanhamento que vocês fizeram”.

“Durante três anos vocês se mantiveram aqui, aguentado os ataques de quem, violando todas as normas do direito internacional, tentaram diminuir a dignidade de homens e mulheres cuja dignidade não pode ser diminuída”, disse.

Rodríguez ainda afirmou que a tentativa de tomar a embaixada em 2019 “foi uma mostra de ferocidade do extremismo da ultradireita, uma mostra de dor que o povo do Brasil teve que suportar, mas que hoje amanhece com a esperança do presidente Lula”.

João Pedro Stédile, liderança do MST, esteve presente no ato e classificou a ocasião como “um dia histórico para nós, integrantes dos movimentos sociais do Brasil”.

“Queremos entregar, de forma simbólica, a embaixada de vocês no Brasil que os impostores de Guaidó tentaram tomar há 3 anos. Com as relações diplomáticas retomadas, nós podemos seguir o caminho do intercâmbio popular das formas de organização de nossos povos”, disse.

Governo Lula encerra ‘paralelismo’

Ao ser escolhido como novo chanceler ainda no final de 2022, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, garantiu que o governo Lula iria retomar as relações diplomáticas com a Venezuela e reconhecer o governo do presidente Nicolás Maduro.

A decisão coloca fim à estratégia adotada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro de reconhecer a “presidência interina” do ex-deputado Juan Guaidó e todo seu “governo paralelo”.

A diplomacia de Bolsonaro, como sua política de Estado, chegou a aceitar a nomeação da advogada Maria Teresa Belandria como embaixadora não reconhecida por Caracas. Ela foi uma das fundadoras do partido de direita Vente Venezuela e havia sido diretamente escolhida por Guaidó para a articulação com Bolsonaro.

Segundo o chanceler de Lula, o novo governo deve enviar um encarregado de negócios a Caracas para reabrir a embaixada brasileira ainda em janeiro e, em seguida, escolher um novo embaixador para o país.

Edição: Arturo Hartmann/BDF