Formação

Como sujeitos organizados constroem o MST na Bahia e a luta pela terra?

No primeiro dia do 35° Encontro Estadual do MST na Bahia na última sexta-feira (13), foram realizadas as Assembleias de mulheres, de homens, da juventude e do coletivo LGBT Sem Terra
Na assembleia de mulheres as camponesas fizeram o balanço da luta das mulheres e dos próximos desafios. Foto: Coletivo de Comunicação do MST na Bahia

Por Isy Salles, do Coletivo de Comunicação do MST na Bahia
Da Página do MST

Em nossa luta pela construção da Reforma Agrária Popular, fazer assembleias se tornou uma estratégia, para discutir os desafios impostos a cada sujeito que compõe o Movimento e, em coletivo, pensar as soluções. Por isso, no primeiro dia (13) do 35° Encontro Estadual do MST na Bahia, aconteceram as Assembleias de mulheres, de homens, da juventude e do coletivo LGBT Sem Terra.

Quando uma mulher avança nenhum homem retrocede

Na assembleia de mulheres foi feito o balanço da luta das mulheres e dos muitos desafios que enfrentam nessa conjuntura. A mística da reunião dos homens questionou: “O que te oprime?!”, ao qual responderam: a burguesia, o racismo, a desigualdade social, o latifúndio.

Com isso, foi possível introduzir o tema do machismo e do patriarcado, sendo estes os pilares da violência contra a classe trabalhadora e de gênero, e armas usadas pelo capitalismo no seu afã de controlar e se impor também nas formas de relações sociais. Nessa introdução ao tema, foi destacada as dificuldades nas relações para as mulheres, do trabalho à casa, dos julgamentos até às agressões físicas. As mulheres deixaram o espaço com o pedido de que os homens continuassem essa discussão, uma vez que esta precisa ser permanente e diária.

Assembleia dos homens discutiu a necessidade de romper com o machismo e patriarcado. Foto: Coletivo de Comunicação do MST na Bahia

Na sequência os homens fizeram relatos de violências dentro dos assentamentos e acampamentos e chegaram ao entendimento de que o machismo é construído e alimentado desde a infância, o que acaba tornando esta uma prática costumeira e inconsciente nas formas de relações adultas, por isso é necessário cumprir a tarefa no lado a lado com as mulheres, identificar e enfrentar as práticas do machismo feitas no dia a dia.

Com a palavra de ordem: “Quando uma mulher avança, nenhum homem retrocede”, todas/os assumiram o compromisso de promover o debate e o combate ao machismo e às violências em todos os nossos espaços.

Sobre essa construção, Jaziam Motta, do Setor de Gênero Estadual afirma que “as mulheres Sem Terra vem acumulando muito na luta contra o capitalismo, e todas as formas de violência que ele nos impõe, e reafirmamos o compromisso de nos mantermos despertas para derrotar o patriarcado, o machismo, o racismo, a homofobia, o agronegócio e a todas as formas de opressão. Seguiremos em luta por territórios livres de violências e com relações humanas emancipadas! Não sucumbiremos!”.

Assembleia da juventude

A assembleia da juventude do MST da Bahia ressaltou a importância da organização do coletivo de juventude Sem Terra no estado. O coletivo de juventude deve seguir organizado para pautar a formação para a juventude, lutar por políticas públicas e ocupar os espaços e instâncias no Movimento.

A juventude busca espaço não apenas na animação, mas também na direção do Movimento, pois a juventude é o presente e futuro desta organização e está atuante em diversas frentes, construindo a luta em prol da Reforma Agrária Popular e da vida.

Assembleia do coletivo LGBT Sem Terra

Assembleia do coletivo LGBT Sem Terra na Bahia apontou entre os desafios a discussão do tema nos espaços escolares. Foto: Coletivo de Comunicação do MST na Bahia

O coletivo LGBT Sem Terra na Bahia vai completar oito anos de organização e se reuniu para discutir as metas e desafios do coletivo no Estado. Na Assembleia foi um momento de ressaltar as conquistas dos movimentos sociais pelos direitos LGBT+, e pensar a partir das experiências dos sujeitos que compõem o coletivo.

Um dos desafios que se destacam é a discussão do tema nos espaços escolares, bem como a necessidade e importância de pensar a população LGBT+ mais vulnerabilizada (idosos, PCD, trans) e a saúde mental dos corpos militantes em enfrentamento. Entrou no debate a prontidão da luta por políticas públicas para os sujeitos LGBT+ do campo e a ocupação de cargos de direção dentro do Movimento.

Todos/as/es pela Reforma Agrária Popular

A direção do MST entende que a participação igualitária dos homens e das mulheres é essencial para o Movimento avançar. No 35° Encontro Estadual do MST na Bahia tivemos mesas compostas por Mulheres que foram formadas nas bases, saíram dos territórios e não estão mais a serviço só do Movimento, mas da luta de classes do povo brasileiro.

Da mesma forma, projetar a juventude para participar dos quadros, deve começar no assentamento e ser fortalecida a sua participação nos espaços da direção. Igualmente defende-se a garantia dos direitos, da segurança e da liberdade de amar, viver e lutar dos sujeitos LGBT+ Sem Terra.

“O nosso Projeto tem intencionalidade política. Isso é uma prioridade. Por isso, todos os nossos espaços são de formação, para formar sujeitos comprometidos com uma nova sociedade, livre das violências e capazes de novas relações humanas emancipadas”, complementa Mota.

A luta pela terra tem como objetivo central: produzir alimentos saudáveis, proteger o meio ambiente, combater a fome e o latifúndio. Mas, “não se produz alimentos saudáveis com relações doentias”, por isso o Movimento quer debater, combater as violências e encontrar, coletivamente, uma solução para acabar com esse problema, que é estruturante do capitalismo.

O centro da luta é a vida, o ser humano, são as pessoas. O MST não só ocupa, não só mata a fome, o MST muda a consciência. 

*Editado por Solange Engelmann