Parceria internacional
Produção de verbena: uma experiência de solidariedade internacional
Da Página do MST
A solidariedade internacional é um dos grandes pilares do MST e tem sido colocado em prática em diversos países a partir dos Comitês de Amigos do Movimento. Hoje, na França, uma forma de expressar esse princípio e valor político é com a produção e comercialização de verbena, uma planta utilizada para fazer chá.
Em 2022, o Comitê de Amigos do MST na França encerrou a produção e comercialização da verbena após 20 anos de trabalho coletivo desenvolvido por parceiros e amigos. A produção era comercializada em várias cidades da França, com destaque às regiões de Paris e Lyon.
O comitê é formado por militantes ativos, contando com muitos outros voluntários que ajudam pontualmente nas ações de solidariedade, que são feitas em parceria com outras organizações. A produção da verbena é realizada em uma área com metodologia coletiva e orgânica, mobilizando um conjunto de pessoas ao longo dos anos.
Além da produção de verbena, já ocorreu o festival de dança “Solatino”, em 2009, que doou os lucros (7000 euros) para projetos do MST; o festival de cinema Ibérico e Latino-americano de Villeurbanne, que serviu para debater com a sociedade francesa o tema da Reforma Agrária no Brasil.
De acordo com Solen, uma das integrantes do Comitê na França, “os objetivos da associação são de informar os franceses sobre a situação no campo no Brasil e de mostrar as relações com problemáticas de interesse francês, ligadas à agricultura, alimentação, meio ambiente, os impactos do neoliberalismo. Para isso, organizamos exposições, concertos, projeções, conferências e debates”.
O comitê também apoia o MST acolhendo seus membros, organizando parcerias, arrecadando fundos e mantendo diálogos constantes com assentamentos e acampamentos. A verbena era mais um instrumento solidário. O recurso adquirido com a comercialização da erva era destinado para projetos do Movimento no Brasil.
Histórico solidário
Há mais de dez anos, as ações do Comitê levaram o governo da região de Rhône-Alpes a criar uma parceria com o governo do estado do Paraná para ajudar a financiar as jornadas de agroecologia. Essa parceria aconteceu entre os anos de 2008-2010 e 2011-2013.
Além disso, o comitê tem pautado as questões do campo junto com a sociedade francesa. “Nossa avaliação é que os franceses se interessam aos assuntos ligados às problemáticas do mundo rural, principalmente por causa do produtivismo ter levantado preocupações sobre alimentação sadia, como é o caso dos transgênicos”, acredita Solen.
Em relação à importância da solidariedade internacional na luta, Solen afirma que “os movimentos sociais franceses sabem que a luta local não é suficiente e que precisam participar de redes internacionais. Nesse sentido, estamos pensando em formas de ampliar os contatos com outras organizações e movimentos sociais”.
Luta social e política
Como já mencionado, o Comitê é um grupo diverso, que não tem uma análise política ou social comum, ou seja, as razões para cada pessoa se envolver em ações de solidariedade com o MST são diversas e individuais.
Ao longo dos anos, a solidariedade internacional diminuiu nos movimentos sociais franceses e que um dos objetivos do Comitê de Amigos na França é de recuperar o vínculo e obter o apoio solidário dos sindicatos de esquerda e das organizações populares, tais como os sindicatos da indústria alimentícia, trabalhadores ferroviários e prefeituras progressistas.
Para atualizar os desafios, a partir das ações realizadas pelo Comitê na França, Monique Piot, explica que hoje muitos ativistas encontram motivação para contribuir com as lutas sociais do Brasil e isso tem ajudado no fortalecimento do Comitê e de iniciativas como o plantio e o colheita da verbena.
“Tivemos estudantes que fizeram o seu mestrado no MST ou no Brasil, onde conheciam o Movimento e quando regressaram, estavam motivados a ajudar. Muitas vezes, o seu compromisso não dura, à medida que avançam para novos horizontes ativistas e profissionais”, explica Piot.
Para ela essa diversidade de motivações, leva também para uma diversidade de compromissos. “As pessoas que estão no comitê ou que se mostram solidárias com as campanhas do MST têm frequentemente outros compromissos e não estão disponíveis para dar tempo ao ativismo. Há sempre um número muito pequeno de nós para animar o trabalho da associação e esse é o desafio que temos agora”, finaliza.
No mais, o Comitê de Amigos na França segue atualizando e planejando ações de solidariedades e de formação política com os franceses, mas também, envolvendo brasileiros Sem Terra. A iniciativa mais recente do Comitê é o intercâmbio “MST na França”, que tem contado com a presença de dois jovens no país por três meses, com o objetivo de conhecer de perto a realidade política e econômica francesa, aprofundando relações políticas com movimentos e organizações no país.
*Editado por Solange Engelmann