Escola de Formação
50 anos sem Amílcar Cabral: lutador e pensador africano inspira Escola de Formação
Da Página do MST
Há 50 anos, o imperialismo assassinava um dos grandes revolucionários do Sul Global, Amílcar Cabral – morto em 20 de janeiro de 1973. Amílcar, engenheiro agrônomo de formação e um dos impulsionadores do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) foi um dos maiores influenciadores da Pedagogia contextualizada de Paulo Freire. Uma das homenagens mais recentes a seu legado é a constituição da Escola de Formação Amílcar Cabral, sediada em Gana.
A Escola nasce no contexto das escolas da Assembleia Internacional dos Povos (AIP), refletindo e reproduzindo muito do método já consagrado na Escola Nacional Florestan Fernandes, do MST no Brasil. Faz parte de uma política da AIP de constituir escolas referências por grandes regiões no mundo, a exemplo da Escola NKrumah (África do Sul), Escola Madan Bandari (Sudeste Asiático) e a Escola voltada para o Oriente Médio, na Tunísia.
“O foco da Escola Amílcar Cabral é promover um espaço físico em Acra (Gana), onde as organizações progressistas do Oeste Africano e além, possam expandir o conhecimento coletivo e aprofundar o entendimento da Classe como um elemento definidor do ser social, enquanto também aborda as questões de raça, gênero, etnicidade e outras identidades subalternas através das quais os povos vivenciam opressões”, explica Yaw Appiah-Kubi, da Coordenação Político-Pedagógica da Escola.
“Amílcar representa e dá corpo a tudo que defendemos. Ele incorpora o método, que é o materialismo histórico-dialético, ao analisar fenômenos sociais, representa a metodologia e a pedagogia que defendemos como base organizativa desta escola”, adiciona Yaw. “Nos baseamos em seu método de compreensão da realidade e ele, Amílcar, se transforma num símbolo através do qual desenvolvemos atividades tão importantes”, conclui o militante.
Esta Escola foi estabelecida em novembro de 2018, depois da Conferência Pan-Africana, sediada em Acra, Gana, com mais de 500 delegados de movimentos progressistas, organizações socialistas e grupos pan-africanistas ao redor do mundo. Depois dessa Conferência, o movimento socialista de Gana, junto a outros colaboradores, instaura a Escola de Formação Amílcar Cabral. Na primeira edição, foram 40 participantes de 19 organizações, vindos de 18 países. O curso foi bilíngue, em inglês e francês, com foco na região Oeste africano.
Amílcar Cabral nasceu em 12 de setembro de 1924 em Bafatá, Guiné-Bissau, então colônia de Portugal. Foi assassinado em 20 de janeiro de 1973 por mercenários fascistas portugueses poucos meses antes de o Movimento de Libertação Nacional, no qual desempenhou um papel central, conquistar a independência da Guiné-Bissau.
É na Guiné-Bissau que Paulo Freire se depara com Amílcar Cabral, a quem o educador explora bastante o legado e obtém uma outra leitura, por exemplo, de Gramsci. Assim, Freire passa a revisar uma série de conceitos a partir dos processos vividos em África. No que toca o processo de alfabetização e educação contextualizada, Freire passa, em sua Pedagogia do Trabalho, a transversalizar as perspectivas histórico-políticas nos temas geradores para o letramento. Traz a Alimentação a partir da Saúde, a Produção a partir do Trabalho, como lemos em seus relatos nas “Cartas à Guiné-Bissau”.