MST na França
Jovens Sem Terra defendem a paz e a luta contra a fome na França
Da Página do MST
O Movimento Sem Terra participou na noite desta última sexta-feira (27/1) do Encontro Pela Paz ou “Meeting pour la Paix”, no Espaço Karl Marx, em Lille, na França. A atividade foi organizada pelo Movimento de Jovens Comunistas da França e teve por objetivo denunciar as guerras e defender a unidade e a paz entre os povos.
O encontro contou com a participação de representantes do Partido Comunista Francês (PCF), da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT) e representações políticas da Inglaterra e um pacifista da Rússia. Na ocasião, os jovens Sem Terra que participaram da atividade reafirmaram o internacionalismo como um instrumento de unidade e luta em defesa dos direitos da classe trabalhadora no mundo e se posicionaram contra as guerras . “A única guerra que o Movimento Sem Terra defende, é aquela travada contra a fome”, afirmaram os jovens.
A participação do Movimento neste evento faz parte da agenda do Intercâmbio “MST na França”, que teve início em novembro e se encerra no dia 2 de fevereiro.
Leia o discurso na íntegra:
Saudações aos companheiros e as companheiras da Juventude Comunista da França.
Em nome do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra agradecemos o convite e a possibilidade de falarmos sobre temas tão pertinentes à atualidade global. E, ao mesmo tempo, apontar desafios estratégicos e táticos para construção de uma luta internacionalista em defesa da paz, da democracia, dos territórios e dos direitos da classe trabalhadora no mundo.
O Movimento Sem Terra nasce em 1984, com a realização da primeira ocupação de terra em Cascavel, no Rio Grande do Sul, e do Encontro Nacional do Movimento, onde os três objetivos estratégicos foram formulados.
Primeiro, Lutar pela Terra, combatendo as desigualdades sociais, enfrentando o latifúndio e defendendo a democratização do acesso à terra. Segundo, Lutar pela Reforma Agrária, para garantir a dignidade ao trabalhador e a trabalhadora que vive no campo, avançando no acesso à educação de qualidade, crédito para produção de alimentos, moradia, estradas para escoar a produção, entre outros. E por fim, o terceiro objetivo é Lutar pela Transformação da Sociedade.
Entendemos que a conquista da terra e de direitos em torno da reforma agrária precisam acumular forças, no ponto de vista da organização social, mas também na formação de consciências, com o objetivo de construir uma sociedade mais justa e igualitária para todos e para todas.
Para isso é necessário eliminar a fome, a exploração do trabalho, a exploração dos bens comuns da natureza, o agro hidro minério negócio e toda forma de violência contra os povos do mundo. Nesse sentido, posicionamos a nossa luta em uma perspectiva anticapitalista, antipatriarcal e antirracista.
Hoje o Movimento Sem Terra, ao longo dos seus 39 anos, acumulou conquistas importantes em torno dessas lutas. O Movimento está organizado em 5 regiões, 24 estados, possui 450 mil famílias assentadas, 120 mil famílias acampadas, 160 cooperativas, 120 agroindústrias, 1900 associações e mais de 2 mil escolas públicas.
O MST é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina; alfabetizou mais 100 mil jovens e adultos em suas áreas conquistadas; doou mais de 7 mil toneladas de alimentos durante a pandemia de COVID-19; plantou mais de 10 milhões de árvores nos últimos 3 anos através do “Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”.
O internacionalismo é parte dessa luta. Atualmente o Movimento Sem Terra está em diversos países através das Brigadas de Solidariedade Internacional, dos Comitẽs de Amigos e Amigas e de representações políticas.
Essa atuação internacional, para o Movimento, é uma estratégia, uma tática e um princípio político. É uma estratégia, porque no horizonte revolucionário, é impossível desconectar as lutas por mudanças radicais, no ponto de vista social e econômico, das lutas anti-imperialistas. É uma tática porque o Movimento constrói no dia a dia ações de solidariedade internacional e de formação política, construindo um amplo processo de experimentação e construção coletiva do fazer internacionalista.
Por fim, é um princípio porque compreendemos que a classe trabalhadora no mundo construiu uma verdadeira trajetória de resistência à exploração, dominação e opressão do capitalismo. Essa cultura política nos inspira a seguir lutando. Os processos revolucionários na Russia são referẽncias históricas de resistência. As lutas por libertação e anticoloniais na África são referências históricas de resistência. A unidade política, cultural e armada em Cuba é uma referẽncia de resistẽncia. Os quilombos e revoltas anti escravagistas no Brasil são referências de resistência. E por ser referências, nos inspiram na construção da revolução brasileira.
A Juventude tem um papel central nesta luta. O seu protagonismo é indispensável. E a necessidade de uma unidade internacional é estratégico. Mas, para isso, temos que ter claro que os desafios são grandes. O primeiro deles é o processo de formação, que precisa ser permanente, avançando no trabalho de base e na educação popular como guias. Cada momento de estudo precisa ter a intencionalidade de atuar na formação de intelectuais orgânicos em nossos movimentos e organizações populares. Precisamos assumir o comando. E assumir o comando com maturidade política e certos do nosso inimigo de classe.
Precisamos avançar também na organização dessa juventude. E para isso não existe uma receita pronta. É necessário experimentar, auto-organizar, forjar a partir de nossas realidades concretas o exercício coletivo da organização popular. Para isso, precisamos estar munidos de ânimo, paciência e disponibilidade para acertar nas experimentações, mas também para errar. Nossos erros são aprendizados, a luta e organização política são verdadeiras escolas.
A formação aliada a organização da nossa juventude nos forjam para construção das lutas concretas. Como a história nos ensinou, as lutas exigem de nós planejamento e radicalidade, sem perder de vista o cuidado coletivo e a clareza da luta de classes.
Em um mundo desigual e atravessado pela violência do capital e sua cultura de morte, nossa luta em defesa da vida dos trabalhadores e das trabalhadoras é urgente. Para nos dividir, avançar na acumulação e na exploração dos territórios e da força de trabalho, o capitalismo cria guerras. E nós defendemos a paz e a unidade política. Porém, a construção desses dois pilares se faz com formação, organização e luta. É tarefa da nossa juventude ser arquitetos dessa construção popular e essa construção não pode ficar para AMANHÃ, ela precisa ser feita HOJE. A única guerra que Movimento Sem Terra defende, é aquela travada contra a fome.
A construção da esperança precisa ser feita HOJE. A formação de novos quadros precisa começar HOJE. O respeito às diferenças precisa iniciar HOJE. Só assim teremos a capacidade coletiva de construir um mundo justo e igualitário.
Trabalhadores e trabalhadoras do mundo uni-vos!
Juventude do mundo uni-vos!
JUVENTUDE QUE OUSA LUTAR
CONSTRÓI O PODER POPULAR!
*Editado por Fernanda Alcântara