Opinião
A solidariedade Sem Terra com o povo Yanomami
Por Atiliana Brunetto*
Da Página do MST
É 01/02/2023. Um momento histórico, pois teremos Sem Terra, Indígenas, Negros e Negras ocupando espaços de decisões. Assistir a posse da Bancada do Cocar foi emocionante. Pensei: “é chegada a hora da colheita de muita luta, afinal queremos e teremos um Brasil construído com respeito a vida e em especial a vida de nós Povos Originários. Viva a força Ancestral!”.
Passamos por momentos difíceis com o aprofundar da crise do capitalismo, e no Brasil esse aprofundar foi piorado com o último “desgoverno”. Um desgoverno para com os direitos trabalhistas, com a liberdade das pessoas e povos, com as águas, florestas. Foram 6 anos de destruição, de fogo, veneno, genocídio silenciado, de mortes e de sofrer… E estamos aqui em Resistência!
O MST, no final de Janeiro/23, realizou seu encontro de Coordenação Nacional, mais de 400 Sem Terras, mulheres e homens. Do encontro, assinamos uma carta de compromisso com o povo brasileiro, na qual afirmamos que “nos juntaremos a todos que defendem os povos originários e exigimos a demarcação das terras quilombolas e indígenas, para que a tragédia que o povo Yanomami enfrenta, não se repita“
Desde o 20º dia de janeiro de 2023 estamos estarrecidos/as, ouvindo sem palavras à tamanha crueldade em que o povo Yanomami está sendo submetido. Como não foi dado os cuidados devidos a esse Povo? Por que desse abandono? Já tínhamos a certeza da fome presente na vida do povo brasileiro, conforme os estudos eram de 33 milhões, mas vê-la em vídeos e fotos nos fez impotente.
Há anos os Yanomami fazem as denúncias e por que, até então ,não foram ouvidas, atendidas? Não temos dúvida que é porque há um projeto de extermínio desse povo para que o grande capital possa explorar seu território. Os territórios indígenas são espaço cuidado, preservado, amado pelos povos, pois sabemos que somos parte de um conjunto de vidas.
Para entender como essa desumanidade com o povo Yanomami é mais uma tentativa de um genocídio silencioso, voltamos à década de 80, na consolidação do plano estratégico de ocupação da Amazônia através do Projeto Calha Norte. Este projeto de “desenvolvimento” colocou os povos indígenas como inimigos, com muitas histórias absurdas, mentiras, e como inimigos, deveriam ser eliminados.
Assim como nos últimos anos, hoje houve uma invasão, defendida por quem queria (e ainda quer) a expropriação e exploração das riquezas desses território preservado. São milhares de garimpeiros, estuprando nossos corpos e nossos territórios, provocando incêndios, contaminação das águas e dos solos, promovendo doenças, fome, miserabilidade, extermínio. Foram mais de 2.500 Yanomami “assassinados”. E nunca parou.
Em menos de 4 anos, Bolsonaro retomou esse projeto de extermínio dos povos para explorar seus territórios. Em seu discurso de campanha, apontava para uma prática “anti” trabalhadores/as, “anti” indígenas, “anti” povo. Prometeu arrasar terra e territórios com sangue, e assim o fez ao assumir a presidência do Brasil, retomando o projeto e as práticas “anti” indígenas dos anos de 1970 e 1980.
Podemos afirmar que implantou mais uma corrida “ao Eldorado”, com agravos, sem limites, invadindo as terras dos Yanomami, expropriando, poluindo os rios, solos, as florestas, expulsando-os, vulnerabilizando-os, a partir dos desvio de medicamentos, impedindo parlamentares e a imprensa de conhecer a realidade. Uma clara ação para o fim do povo Yanomami, um genocídio, um extermínio.
Mas é tempo de combater fome com pão, violência com afeto, exploração com REVOLUÇÃO”.
É com essa esperança que vemos o Presidente Lula e seus ministros chegar em território Yanomami: com o compromisso de um amor solidário, de sentir o sofrer do povo e dando uma resposta imediata, mesmo que difícil, mas com muita firmeza, com a certeza do papel de um governo para com seu povo.
Os povos do campo, das águas, das florestas, dos quilombos, estão certos de que o Governo Lula será de compromisso com a pauta de resistência, por aldeias, assentamentos e quilombos felizes. Deve retirar imediatamente os garimpeiros do território Yanomami, julgar a questão do Marco Temporal, organizar a chegada de alimentação, remédios, manter o hospital de campanha, criar as condições pra recuperar o solo, os rios, as florestas. Manter a vida dos Yanomami.
Com os povos indígenas, o MST aprende que precisamos viver em harmonia com as florestas, a terra, os rios, criando relação de respeito, de solidariedade. Só teremos uma efetiva Reforma Agrária Popular se considerarmos os conhecimentos ancestrais.
*Atiliana Brunetto é da direção nacional do MST
**Editado por Fernanda Alcântara