Comida de Verdade
Rede de Armazéns do Campo do MST pretende dobrar de tamanho em 2023
Por Lays Furtado
Da Página do MST
Mesmo com a alta inflação do preço dos alimentos, a Rede de Armazéns do Campo criada há 6 anos pelo MST vem se destacando no mercado por comercializar produtos da Reforma Agrária Popular nas cidades, ofertando alimentos orgânicos, agroecológicos e da Agricultura Familiar Camponesa à preço justo, desconstruindo a ideia de que todavia se tratam de produtos mais caros que os convencionais.
Fundada e gestionada por trabalhadoras e trabalhadores Rurais Sem Terra, a Rede de Armazéns congrega produtos de assentamentos e acampamentos presentes em 38 cidades. Ao todo são 44 pontos de comercialização, com 24 lojas físicas e outras 20 dedicadas às compras online. A previsão é abrir mais 25 unidades ainda este ano.
Com mais de mil organizações, entre associações e cooperativas, responsáveis pelo abastecimento da rede. Além dos produtos da Reforma Agrária Popular, é possível encontrar nos Armazéns do Campo, uma diversidade de produtos de quilombolas, ribeirinhos, entre outras comunidades tradicionais.
O que torna os produtos comercializados no Armazém competitivos com de outros mercados, é que além de oferecer alimentos saudáveis, a precificação dos mesmos é baseada nos custos de sua produção e não na variação de mercado das commodities, que oscilam com o dólar, por exemplo, é o que explica o coordenador da Rede, Ademar Ludwig.
Dessa forma, o coordenador, que também é o gestor da unidade localizada na capital paulista – a primeira loja da rede – menciona que “é sim possível, com menos recursos, consumir alimentos orgânicos, saudáveis e da luta”, afirma Ludwing.
Alimentos saudáveis a preço justo
Em pesquisa desenvolvida em janeiro deste ano, pela Rede em conjunto com o Instituto Josué de Castro, foi possível comparar preços dos produtos do Armazém do Campo em São Paulo, com itens vendidos nos mercados convencionais da capital. Onde também foi levantado que muitos produtos orgânicos comercializados no Armazém tem custos mais baixo, comparado ao de grandes redes de supermercados.
Entre os produtos levantados, o arroz teve destaque. “Na pesquisa que a gente desenvolveu, o arroz orgânico do MST custa a partir de R$ 8,49, enquanto o arroz convencional é R$ 9,19, o que é mais caro que o orgânico ainda!”, menciona Lucas Lerias, estudante e pesquisador do Instituto Josué de Castro. O arroz orgânico nos mercados convencionais chega a custar mais que o dobro do que o arroz da marca Terra Livre, produzido por cooperativas da Reforma Agrária Popular.
Outro destaque foi o leite, enquanto a marca Terra Viva do MST custa R$ 5,98, preço que disputa uma média ofertada pelas marcas mais acessíveis entre os mercados convencionais, o litro do leite de marcas convencionais variaram entre R$ 4,79 a R$ 6,29. Já a diferença de preço do leite em pó é mais impactante ainda, enquanto o quilo do Terra Viva custa R$ 33,98, o de marcas convencionais aparece custando de R$ 34,81 a R$ 53,11.
Dos hortifrutis, tanto o pepino, quanto a abóbora e o alface orgânicos de mercados convencionais chegam a custar mais que o dobro do que os preços ofertados no Armazém do Campo SP. Enquanto o pepino orgânico no Armazém custa R$ 9,98, o mesmo produto em mercados convencionais está custando R$ 22,45; a abóbora do Armazém que custa R$ 8,98, chega a custar R$ 15,96 na sessão de orgânicos de mercados convencionais; já o alface do MST que custa R$ 3,98, custa R$ 8,48 nas lojas convencionais.
Lucas conta que em média os orgânicos custam 30% mais caros que os convencionais, mas que famílias agricultoras têm lutado para oferecer cada vez mais produtos orgânicos e agroecológicos a preço justo. “Além de oferecer produtos mais saudáveis, essas famílias camponesas estão competindo de ponta-a-ponta com o convencional”, conta Lerias.
Possibilitando assim que esse tipo de produto seja mais acessível nas cidades, nas feiras e nas lojas. E que as pessoas que os consomem possam obter um alimento saudável, e ao mesmo tempo apoiar esse tipo de produção, que se contrapõe ao agronegócio e outras formas produtivas baseadas na concentração de terras, exploração, uso de agrotóxicos e degradação ambiental.
“É possível consumir orgânicos, a gente tem que procurar, pesquisar”, afirma Lucas. O pesquisador ressalta ainda que investimentos de políticas públicas para a democratização de terras, para a agricultura camponesa, para a produção orgânica e agroecológica também são fundamentais para baratear a oferta da produção de alimentos saudáveis na nossa mesa.
*Editado por Solange Engelmann