Memória de Luta
O sangue de Dorothy lavou a terra. A Amazônia resiste!
Por Ayala Ferreira*
Da Página do MST
Neste domingo, 12 de fevereiro, relembramos os 18 anos do martírio da missionária norte-americana Dorothy Stang. Irmã Dorothy, como era chamada, tinha 73 anos quando foi assassinada com seis tiros, à queima-roupa, numa emboscada em uma estrada rural no município de Anapú, no Pará, em 2005.
Ela foi morta por ter se colocado ao lado dos camponeses e dos povos tradicionais na luta pelo reconhecimento de suas terras, territórios e de práticas sustentáveis que equilibram a agricultura com o extrativismo florestal, no que denominamos de Projetos de Desenvolvimento Sustentável (PDS).
O assassinato da Irmã Dorothy não foi um caso isolado, se soma a triste realidade de criminalização, ameaças e assassinatos de mulheres e homens que lutam pela Reforma Agrária, pela defesa dos bens naturais em seus territórios e pela garantia dos direitos humanos no Brasil.
Os dados organizados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) revelam a gravidade dessa realidade: somente no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022), cerca de 111 pessoas foram assassinadas por conflitos no campo.
A região Amazônica, com destaque para os estados do Maranhão, Rondônia e Pará lideram a lista do ranking da violência do campo. Em 2021, por exemplo, presenciamos estarrecidos a execução com um tiro na nuca de Fernando dos Santos, principal testemunha do massacre de Pau D´arco, que aconteceu em 2017 no sul do Pará.
Nesta mesma região, em janeiro de 2022, em São Felix do Xingu, uma família de ambientalistas, pai, mãe e filha foram assassinatos dentro de sua propriedade. Entre 2021 e 2022 oito camponeses moradores de um mesmo território, no acampamento Tiago Santos foram assassinados em Rondônia.
Histórico da Impunidade
Impera sobre esses casos a impunidade. Nenhum dos mandantes e dos executores foram identificados ou responsabilizados.
A violência é resultado do modelo do capital na Amazônia. Impera um processo de destruição que durante o Governo Bolsonaro foi incentivado e amplificado a partir das seguintes medidas: desmonte dos órgãos fundiários e ambientais, eliminação da participação dos povos da região nas instâncias de decisão, impulso à violência via proliferação de armas e militarização dos conflitos, mudanças legislativas visando a desregulamentação total da apropriação e uso da terra e da natureza.
Iniciamos 2023 com um novo governo no comando do Poder Executivo. Lula carrega em seu terceiro mandato uma série de desafios e, entre eles, a luta pela defesa dos bens naturais e dos povos da floresta. Sabemos que, concretamente, essa defesa também passa pelo combate real à violência e à impunidade que marcam a luta pela terra e pelos territórios no país.
Defender a terra, as florestas e as águas é também combater toda e qualquer forma de violência gerada nas comunidades sob ataque das diferentes faces do agronegócio nos territórios brasileiros.”
Lula tem a chance e responsabilidade de tratar com seriedade e pautar em seu governo políticas sérias e responsáveis, que possibilitem a segurança daqueles e daquelas que defendem a vida em nosso país.
Irmã Dorothy e tantos outros lutadores e lutadoras tiveram seu sangue derramado em solo fértil de resistência e organização popular. Enquanto nossos inimigos querem nos destruir sob a orquestra do avanço do capital em nossos territórios, nosso desafio é transformar nosso combate cotidiano em ferramenta de enfrentamento ao modelo de morte, violência e exploração sobre nossos corpos e territórios.
Resgatando uma das declarações da missionária:
Não vou fugir nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor, numa terra onde possam viver e produzir com dignidade, sem devastar” (Dorothy Stang). Que essa seja nossa bandeira: a vida melhor para todos!
Dorothy se mantém viva em nossas lutas, marchas e em todo lugar onde o povo seguir em resistência: na Amazônia, no Brasil e no mundo.
Irmã Dorothy: presente!
*Ayala integra a Direção Nacional do MST pelo Setor de Direitos Humanos.
**Editado por Solange Engelmann