Soja do MST
“Todos que têm vocação para agricultura devem ter o direito de ter um pedaço de terra”, diz Fávaro
Da Página do MST
Em sua primeira visita a uma área do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra como ministro da Agricultura, Carlos Fávaro enfatiza o direito à terra para o povo camponês: “Todos os homens e mulheres que têm vocação para agricultura devem ter o direito de ter um pedaço de terra, independente do tamanho da propriedade”.
Ao lado de Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário, Fávaro participou da 1ª Festa da Colheita da Soja Livre de Transgênico da Reforma Agrária Popular do Paraná, em Centenário do Sul, norte do Paraná, neste sábado (25). “Tenham em mim um grande aliado para cumprir um papel importante de acabar com o preconceito que existe nesse país contra o MST. Um movimento legítimo e que sonha pela terra”, garantiu o ministro da Agricultura durante o ato político do evento.
Nessa mesma linha, Teixeira afirmou que o presidente Lula voltou e com ele os assentamentos da Reforma Agrária. “Nós vamos voltar a fazer assentamentos no Brasil, para assentar aquelas famílias que não tem casa, não tem teto, que querem reforma agrária”, frisou.
Participaram também da Festa da Colheita, o secretário da Casa Civil do Governo do Paraná João Carlos Ortega, representantes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), deputados federais, como a presidenta do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann e Carol Dartora, e estaduais Professor Lemos e Ana Julia. Prefeitos da região, entre eles Marcelo Belinati, de Londrina, e autoridades estaduais e locais também estarão presentes.
A celebração começou com o café da manhã servido na casa de Berenice Antunes dos Santos e Sebastião Cardoso Ribeiro, camponeses assentados na comunidade Maria Lara. E seguiu com a colheita da soja, ato político, almoço à moda camponesa e baile.
Carlos Fávaro é nascido em Bela Vista do Paraíso, município vizinho de Centenário do Sul, e falou emocionado sobre o retorno à sua região. “Digo que nasci debaixo de um pé de café, em um sítio de 13 alqueires de terra”, e mudou-se para o Mato Grosso pela necessidade de também conquistar um pedaço de terra para seguir, lá viveu em um município em que há um assentamento da reforma agrária. “Passei pelos mesmos dissabores de ausência do poder público para poder cumprir a minha vocação”.
“A família aumenta, o sonho de um pedaço de terra para continuar a cumprir a vocação de produzir alimentos se realizou pra mim no estado do Mato Grosso […] eu sei o que significa pra vocês ter um pedaço de terra para produzir”, explica o ministro, e continua: “ver essa fartura de alimentos, ver essa beleza de alimentos produzidos, verticalizado, industrializados, por homens e mulheres, que tem vocação para terra é simplesmente emocionante”.
Para ele, a ação do MAPA e do MDA é “indivisível” e deve ocorrer de forma articulada. “Nós não vamos deixar de fazer políticas públicas juntos”. “Os agricultores familiares são tão competentes ou mais do que os grandes produtores, mas se ele não tiver crédito na hora certa, com juros compatíveis, assistência técnica de qualidade, incentivo ao cooperativismo para poder transformar os seus produtos, vão dizer que eles não têm capacidade de prosperar”.
Compromissos com o povo
Paulo Teixeira, durante sua fala, destacou o papel do Governo Lula de caminhar ao lado do povo brasileiro e não se ausentar de levar políticas públicas para quem realmente precisa.
Ele falou, por exemplo, que uma pessoa para viver na “ponta do morro”, é porque não foi realizada a distribuição de terra no Brasil. “Quando o presidente Lula assumiu, a primeira coisa que ele fez, foi lutar contra o golpe no 8 de janeiro e disse que a ‘democracia é maior que isso aqui’. O segundo ato do presidente Lula foi ir nas terras dos Yanomami e ali, eles estavam morrendo de fome, com a ausência do Estado brasileiro, e o presidente Lula levou todas as políticas públicas para os indígenas Yanomami. O terceiro ato foi o envio de uma comitiva, anteontem, para o Rio Grande do Sul para tratar as famílias que estão na seca e levar as políticas públicas.”
Ao final, Teixeira fez um pedido em nome do presidente Lula: “peço que vocês façam um grande mutirão de produção de alimentos, porque ele [Lula] não quer ver nenhum brasileiro passando fome neste país. Por último, nós queremos uma agricultura regenerativa. Que produza alimento, que preserve a água, que faça com que ganhemos a agrofloresta.”
Ceres Hadich, integrante da direção nacional do MST e assentada na comunidade Maria Lara, também em Centenário do Sul, traduziu o sentimento das famílias Sem Terra de todas as região: “dia mais feliz que esse só vai ser quando o nosso presidente Lula vier aqui para anunciar os nossos assentamentos”.
A militante lembrou a trajetória do MST no norte do Paraná, como parte da luta nacional que caminha para completar 40 anos. “Aqui na região estamos há 32 anos construindo a Reforma Agrária Popular, e temos muito do que nos orgulhar, nós temos três cooperativas regionais, a Copran, a Copacol e a Coprari”.
Em todo o estado, são 24 cooperativas e mais de 50 agroindústrias, e mais de 450 cooperativas em todo o Brasil, “com o objetivo de avançar na produção de alimentos e a superação do problema da fome no Brasil”, destacou Hadich.
O plantio e a comercialização da soja livre de transgênicos faz parte da estratégia do MST, por isso, as iniciativas tem se multiplicado no estado. Os assentamentos 8 de Abril, do município de Jardim Alegre, e Novo Paraíso, em Boa Ventura de São Roque, também iniciarão em breve as colheitas de lavouras de soja orgânica.
Em Jardim Alegre, são 44,62 hectares de cultivo do grão livre de transgênico, sendo 8,38 destes de produção orgânica já certificada. Já em Boa Ventura de São Roque, o plantio atualmente é de três hectares de soja orgânica, com perspectiva de crescer nos próximos anos. A produção tem acompanhamento técnico do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná).