Educação do Campo

MST realiza ato de inauguração de escola do campo em assentamento no Paraná

Após um longo período de fechamento de escolas, a inauguração desta escola marca um novo ciclo de esperança para educação e a construção da Reforma Agrária Popular
Foto: Tarcísio Leopoldo

Por Jaine Amorin/ MST no Paraná
Da Página do MST

Nesta sexta-feira (03), será realizado o ato de inauguração da escola municipal do campo, no assentamento 8 de Junho, em Laranjeiras do Sul, no Paraná. Com início às 10 horas, ato está sendo organizado pela comunidade juntamente com a prefeitura de Laranjeiras do Sul e contará com a presença de representações do poder público local e estadual, além de deputados estaduais e federais. A programação iniciará com mística apresentada pelas crianças, em seguida terá o ato oficial de inauguração e entrega da estrutura para a comunidade e após o ato será servido o almoço comunitário preparado pelas famílias assentadas para as 150 pessoas esperadas.

A Escola Municipal do Campo Profª Silvia Veigant da Silva atenderá as crianças da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental  do assentamento 8 de Junho e de comunidades rurais próximas. Podendo atender até 240 crianças, o espaço da escola, construído no modelo padrão do Fundo Nacional Desenvolvimento da Educação (FNDE), conta com salas de aulas, biblioteca, parquinho, refeitório/auditório, cozinha  e demais espaços administrativos além de poder contar com as estruturas de quadra esportiva e campo de futebol da comunidade. As crianças terão acesso a uma educação de qualidade e que dialogue com a realidade em que vivem.

As escolas do e no campo se inserem num contexto mais amplo do que o modelo de educação tradicional e o estudo de livros apenas, buscam convergir com a  realidade/entorno onde estão inseridas. Possibilitando para as crianças e jovens conhecimentos que possibilitem pensar, refletir e agir para transformar a realidade em que vivem e lutar pela construção de uma sociedade mais justa.

A escola estando situada numa comunidade camponesa, em área de reforma agrária e atendendo crianças de famílias camponesas,  buscará, além do estudo padrão das escolas do município de Laranjeiras do Sul, estar sintonizada com a realidade da comunidade.

O início das aulas e inauguração é apenas um passo, a educação é uma construção diária que exige lutas permanentes, para não regredir na qualidade, seja no que diz respeito aos conteúdos estudados, seja em garantias estruturais da escola, transporte e estradas, dentre outros. 

Para Thaile Lopes, moradora da comunidade e dirigente do MST na região, a escola tem papel fundamental para a educação das crianças de acordo com a sua realidade e para a organização da comunidade e construção da Reforma Agrária Popular, pois é uma conquista coletiva.

A construção da nossa escola do campo é resultado da luta e organização coletiva do assentamento e de forma mais ampla integra a luta pela educação protagonizada pelo MST, compreendida a partir da necessidade da educação escolar como elemento fundamental para a construção do projeto da Reforma Agrária Popular, considerando que o direito à educação foi historicamente negado aos camponeses. Portanto, o primeiro sentido da luta por escola e pela Educação no e do Campo é a afirmação de um direito fundamental”, elucida Thaile Lopes. 

Após um longo período de fechamento de escolas, a inauguração desta escola marca de fato um novo ciclo de esperança para a educação brasileira e para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

“A conquista e a inauguração da Escola Municipal do Campo no Assentamento 8 de Junho, simboliza o início de um novo ciclo na luta política pela educação nos territórios de reforma agrária. Inaugura um ciclo de retomada da política pública voltada para a educação dos povos do campo, das águas e das florestas e da luta pela democratização do conhecimento enquanto instrumento do desenvolvimento social, cultural, tecnológico e científico no campo”, afirma Valter Leite, da coordenação nacional do Setor de Educação do MST.

A educação é fundamental para o MST e a construção da Reforma Agrária Popular, uma nova sociedade só pode ser construída com educação de qualidade. Desde o ensino infantil até o ensino superior, a educação deve proporcionar aos estudantes a capacidade de enxergar o mundo de forma crítica e ter a ousadia de lutar por um mundo justo. 

Como já afirmou o patrono da educação brasileira, Paulo Freire, homenageado em arte na parede da escola, “Se a Educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.

Arte feita em homenagem ao patrono da educação brasileira, Paulo Freire, em parede da escola. Arte e foto: Tarcísio Leopoldo

Histórico do assentamento 

O Assentamento 08 de Junho tem origem no processo de luta que começou em 1997, com o acampamento às margens da BR 158, onde as famílias permaneceram até o ano de 2000, quando houve a conquista da área para a reforma agrária. Ainda no acampamento viu-se a sensibilidade de cooperação entre as famílias, mecanismo que ao ser estimulado a partir da organização do Coletivo de Mulheres, levou a criação de grupos de produção e da Associação Comunitária (2001). Em 2005, as famílias estruturaram uma cozinha comunitária, que se expandiu para panifício e em 2009 criaram a Cooperativa Agroindustrial (Coperjunho), para acessar programas institucionais de aquisição de alimentos e merenda escolar – PNAE e PAA, além do fornecimento de serviços de alimentação em eventos. 

Desde 2009 também se organiza o Grupo de Agroecologia, que atualmente possui 6 famílias, certificadas pela Rede Ecovida de Agroecologia, que produzem alimentos saudáveis e plantas medicinais, livres de transgênicos e sem agrotóxicos.

Originalmente, foram assentadas 74 famílias, oriundas da região de Laranjeiras do Sul, do Sudoeste do PR e um grupo de famílias de Santa Catarina. No entanto, atualmente o assentamento tem 71 lotes de reforma agrária, tendo em vista que 3 famílias foram realocadas para Assentamento Celso Furtado em Quedas do Iguaçu, porque a comunidade, com a autorização do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), fez a doação de uma parte do terreno, uma área correspondente a 3 lotes, para a construção do campus da Universidade Federal da Fronteira Sul. Isso demonstra a preocupação e a importância que esta comunidade atribui à Educação.

Nesse sentido, a necessidade de construção de uma Escola do Campo para atender a demanda de formação de suas crianças/jovens sempre foi uma preocupação do assentamento, tendo em vista a luta pela efetivação do direito do acesso à educação, à escolarização no campo e a construção de uma escola do e no campo, que considere a história, a cultura, e as necessidades de formação dos sujeitos que aqui vivem e trabalham.

Ato de inauguração 

Programação 

Início 10h00 – Mística; Ato político com autoridades convidadas; 

12:00 Almoço Comunitário , servido pelas famílias assentadas;

Local: Assentamento 8 de Junho, em Laranjeiras do Sul, Paraná, BR 158, KM 407.

*Editado por Fernanda Alcântara