8M
Em São Paulo, 300 mulheres Sem Terra se reúnem em Acampamento Pedagógico do 8M
Por Martha Raquel
Da Página do MST
O Acampamento Pedagógico da Jornada de Luta das Mulheres Sem Terra de 2023 em São Paulo reuniu cerca de 300 companheiras de todo o estado. Com o mote “O agronegócio lucra com a fome e a violência. Por Terra e democracia, mulheres em resistência!”, a Jornada se apresenta com mobilizações de caráter massivo, atos, protestos, ações de solidariedade, de formação, diálogo com a sociedade e de enfrentamento por direitos.
As mobilizações estão presentes em 17 estados e no Distrito Federal, entre eles Ceará, Alagoas, Pernambuco, Bahia, Piauí, Rio Grande do Norte, Maranhão, Pará, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Goiás, Rondonia, Paraná e Rio Grande do Sul.
Um estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) neste mês de março chama a atenção para a realidade das mulheres no Brasil. Atualmente, 822 mil casos de estupro são registrados a cada ano, ou seja, duas mulheres são violadas a cada minuto.
Para se fortalecer na resistência num país que vê as mulheres como seres de segunda categoria, as mulheres do Acampamento Pedagógico trocaram vivências, foram escuta e acolhimento umas às outras.
Em São Paulo, oficinas culturais, de auto-cuidado e saúde abriram os caminhos para a integração entre companheiras. Gabi, companheira Sem Terra que contribui no setor de saúde, classificou a atividade como um espaço de cuidado coletivo. “É preciso auto-amor, mas também é possível se fortalecer ao dar as mãos para as nossas companheiras”, pontuou. “A gente não precisa necessariamente de especialistas para que a gente possa construir esses espaços de saúde e de cuidado. A gente pode construir através de um toque, um carinho ou uma palavra essa saúde mental que nos dá coragem pra seguir na luta”, finalizou.
Os cuidados entre mulheres não se restringem ao encontro. A construção desses laços e a força desses encontros serão replicados nos territórios, garante uma jovem Sem Terra. “A gente passa a olhar para as mulheres a partir de outras perspectivas, com outros olhos, se reconhecendo mesmo. Ouvir e ser ouvida é muito importante”, continuou.
A formação política trouxe à tona o dia a dia e as experiências, que ora se revelaram diferentes, ora se mostraram semelhantes.
A divisão sexual do trabalho foi uma das principais pautas da formação política. Durante a tarde, a plenária do Acampamento Pedagógico discutiu o papel da mulher dentro de casa, na sociedade, nos campos, nas cidades e nas florestas. “Muitas mulheres pegaram dinheiro em mãos pela primeira vez com o Bolsa Família, porque veio no nome dela”, pontuou outra participante Sem Terra do interior do estado.
As violências psicológicas, patrimoniais, morais, físicas e sexuais foram rechaçadas e debatidas entre as mulheres. As Sem Terra pontuaram que é preciso ter esses espaços de troca para que as mulheres possam se conhecer, se fortalecer e conseguirem sair dos relacionamentos abusivos, presentes em todos os setores da nossa sociedade.
É preciso trazer à tona as histórias das mulheres que saíram da vulnerabilidade, das ameaças e da violência psicológica e conseguiram se fortalecer e estabelecer. O casamento não pode ser pro resto da vida. Não pode ser ‘ruim ou não, até que a morte nos separe’. As mulheres são capazes de prosperar, de ascender, de criar seus filhos e ter uma vida digna e sem violência“, desabafou.
“Eu já sofri num relacionamento abusivo e nem todo mundo sabe disso. Mas a partir do momento que eu fui vítima daquela violência, eu me fortaleci e posso ser exemplo pra outras mulheres”, completou outra Sem Terra.
Ana Júlia, jovem militante Sem Terra do Mirante do Paranapanema, classificou essa troca como um momento de “conexão” entre mulheres que, ainda que estejam distantes fisicamente por causa da distância dos territórios, vivem realidades muito parecidas.
“Muitas vezes focamos na nossa família, nos nossos companheiros, filhos, comunidade, e aí nos esquecemos de nós”, pontuou. Ao fundo, uma outra companheira complementou: “essas atividades são, além de um local de acolhimento, um espaço informativo. Ficamos um longo período sem conseguir nos reunir por conta da pandemia e agora estamos tendo essa oportunidade. Esse espaço é importante para nós mulheres mais velhas, mas também para as jovens meninas”. “É troca de sabedoria”, concluiu.
*Editado por Fernanda Alcântara