Mulheres Sem Terra
MULHERES DA TERRA: Mulheres Sem Terra
Por Coletivo Nacional Plano Plantar Árvores produzir Alimento Saudável
Da Página do MST
Em todo o mundo vivemos uma crise do modelo de produção capitalista, que expressa suas contradições em diferentes aspectos, entre eles: político, econômico, social e ambiental. Na dimensão ambiental o que temos observado é a intensificação da exploração dos bens naturais e da exploração de força de trabalho, ameaçando principalmente as pessoas mais pobres, mulheres, juventude, negros e negras.
A crise ambiental, resultado do modelo de exploração do capital, tem sido cada vez mais intensificada a partir da financeirização da natureza, enquanto interface de acumulação do capital e de reinvenção do seu modelo de produção e acumulação.
As consequências desse modelo de produção já podem ser identificadas por meio dos eventos climáticos extremos, seja através do período de seca prolongado, chuvas intensas, chuvas de poeira dentre outros. No entanto, esses desastres climáticos são sentidos de formas diferentes a partir de alguns marcadores, como: sociais, econômicos, de gênero e de raça.
Sobre esse contexto, as opressões já existentes se acentuam, em particular, para as mulheres. São as mulheres negras, indígenas, quilombolas, periféricas e da Reforma Agrária e em condições de extrema pobreza que as mais vulneráveis aos efeitos da crise climática, dentre eles: falta de bens naturais, insegurança alimentar, risco de desmoronamento, alagamento etc. As mulheres estão entre os sujeitos mais afetados pela crise ambiental em curso, são também excluídas da construção de políticas públicas para mitigar os efeitos da emergência climática
Segundo o relatório da CEPAL(2021), os efeitos da emergência climática na América Latina e Caribe serão sentidos, em particular, na agricultura, afetando diretamente os povos do campo, das águas e das florestas, e neste grupo as mulheres serão as mais impactadas.
Diante desse quadro, a luta das mulheres não abarca só a questão de classe (proprietário e não proprietário) e gênero (homem e mulher), mas também a questão racial, a sexualidade e a relação com a questão ambiental.
E por que as mulheres se relacionam com a luta ambiental?
Porque dentro dessa Era do capital industrial e agora em transição ao capital financeiro, que se expressa na organização do agrominerionegocio, avança a contradição da ruptura entre ser humano e natureza, de que um não depende do outro, e pior, coloca o ser humano superior a natureza. Como diz a ecofeminista Yayo Herrero, coloca uma parede entre ser humano e o resto do mundo vivo, e com isso nega que somos seres ecodependentes (que dependemos da natureza).
Ancorado nessa lógica do sistema capitalista, há o Patriarcado, um pilar da sociedade capitalista onde há dominação de homens sobre as mulheres e de homens à natureza. Isso porque dentro da subjetividade do sistema patriarcal se constrói uma lógica que homem é diferente de mulher. Que homem está ligado a razão e a mente, e a mulher ligado ao corpo, à emoção, à natureza. Nesta lógica a razão é superior à emoção, a mente é superior ao corpo e com isso superior também à natureza. E a superioridade nega a dependência ao inferior e isso justifica exploração o uso dos corpos das mulheres e da natureza.
Desse modo, para garantir a existência das mulheres e da complexidade ambiental se faz necessário desvelar e denunciar que o sistema capitalista, patriarcal, destruidor/ violentador da natureza e das mulheres enquanto os causadores da crise ambiental que sofremos e sentimos no dia a dia a partir das mudanças climáticas, da destruição dos territórios, dos biomas e das águas, assim como gerador de pandemias.
Mas não basta desvelar os principais criminosos, é preciso também apontar caminhos para onde queremos chegar e ao mesmo tempo construir possibilidades reais de caminhar e desmontar essa estrutura violenta. Para isso, a organização política das mulheres em defesa da natureza, dos territórios, dos biomas e seus bens comuns e a produção de alimentos saudáveis com base na agroecologia faz parte dessa construção e é uma realidade há quase 40 anos na vida das mulheres Sem Terra fortalecendo a complexidade ambiental, a soberania alimentar e os direitos das mulheres.
Contudo, as respostas e saídas populares para a crise são advindas das experiências de resistência construídas historicamente pelas mulheres nos territórios. Desse modo, não será possível superar e/ou minimizar a crise climática sem a participação feminina, seja na construção de políticas que ampliem os direitos ou na construção de soberania territorial.
A construção da Reforma Agrária Popular e o Feminismo Camponês Popular são um desses exemplos estratégicos para a crise climática e para (re)existência das mulheres e dos biomas brasileiros, a partir da Agroecologia e do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis.
São diversas as experiências e atuações das mulheres frente ao avanço do agronegócio nos territórios, a partir da reafirmação do protagonismo das mulheres Sem Terra na produção de alimentos saudáveis, no cuidado com o território e com o bioma, apontando que é possível construir organização política, soberania alimentar, geração de renda e cuidados com os bens comuns a partir da reforma agrária popular.
Em nossos biomas brasileiros, são inúmeras as experiências de mulheres Sem Terra que contribuem significativamente para os cuidados com os bens comuns e na reconstrução da complexidade ambiental a partir do plantio de árvores e produção de alimentos. Assim, as mulheres Sem Terra aram cotidianamente experiências de resistência ao modelo predatório de exploração da natureza, realizando a denúncia do agronegócio, e reafirmando a partir das práticas cotidianas com base na agroecologia que a reforma agrária popular contribui na reconstrução dos biomas e na conquistas dos direitos das mulheres.
Portanto, pensar horizontes para a crise ambiental perpassa pelo debate da reforma agrária popular e a construção de territórios livre das violências.
O agronegócio lucra com a fome e a violência. Por Terra e Democracia, Mulheres em Resistência!
*Editado por Fernanda Alcântara