América Latina
“Eles não foram capazes de nos destruir, e nós vamos resistir; Renasceremos e venceremos”
Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST
Em visita ao Brasil, o ex-presidente do Equador, Rafael Correa, participou ontem (30) de um encontro com representantes de diversos movimentos sociais, sindicais e populares, em São Paulo. O evento, organizado pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), teve como objetivo ser um espaço cultural e político para dialogar sobre a situação política e social da América Latina e as perspectivas de resistência e integração dos povos.
Após uma mística, João Pedro Stedile, da direção nacional do MST, abriu a mesa de abertura ressaltando a importância histórica do encontro no Galpão Cultural. “Estamos muito felizes de poder receber e cumprimentá-lo em um espaço tão simbólico. Correa é um exemplo de resistência na luta de um Estado contra o Império, contra todos os golpes que tentaram dar em Equador; Além disso, esse espaço também é de resistência, porque já foi um lugar de estoque de mercadorias, voltado a commodities, e agora é um galpão cultural para debater ideias”.
Stédile também ressaltou a bravura de Correa ao conceder asilo a Julian Assange, em 2012, quando o jornalista estava sendo perseguido por vários países por divulgar documentos secretos sobre crimes de guerra, espionagem e corrupção. Correa considerou que Assange era um jornalista que exercia seu direito à liberdade de expressão e que corria risco de morte se fosse extraditado para os Estados Unidos.
Correa teve coragem de receber Assange na Embaixada do Equador. Hoje, Correa sabe como é ser um preso político, pois neste momento é tudo o que Correa está a fazer: enfrentando os gringos, opinar igual a Assange”.
Frei Betto também integrou a mesa de abertura, e falou sobre a situação política de Correa. “Rafael está sofrendo uma injustiça tão profunda quanto sofreu o companheiro Lula. Ele tem 51 processos nas costas, além do que está impedido de entrar no próprio país. Então, nossa mobilização no Brasil e a mobilização internacional é fundamental para que ele possa recuperar os direitos políticos.”
Entre os participantes do encontro estavam representantes da CUT (Central Única dos Trabalhadores), da UNE (União Nacional dos Estudantes), da UBM (União Brasileira de Mulheres), da CMP (Central de Movimentos Populares), da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), da Frente Brasil Popular, da Frente Povo Sem Medo, do Levante Popular da Juventude, do PCdoB (Partido Comunista do Brasil), do PT (Partido dos Trabalhadores), entre outros.
Brasil, Equador e América Latina
No encontro em São Paulo, Correa falou sobre sua trajetória política, sua visão sobre o cenário atual da América Latina e suas propostas para enfrentar os problemas estruturais da região. Ele destacou a importância da unidade e da mobilização popular para defender a democracia, os direitos humanos e a integração regional. Ele também elogiou o papel dos movimentos sociais brasileiros na resistência ao golpe contra Dilma Rousseff, em 2016 e na luta pela libertação de Lula, em 2019.
O que aconteceu no Brasil é um vendaval de esperança. A maior economia do continente com um presidente do tamanho de Lula”, destacou Correa. “Isso muda o balanço geopolítico da região. A segunda onda progressista é muito mais profunda que a primeira, mas também é diferente”.
Correa foi um dos líderes da chamada “onda rosa” que marcou o continente no início do século XXI, com governos progressistas que implementaram políticas de inclusão social, soberania nacional e cooperação regional. Durante seus dez anos à frente do Equador (2007-2017), ele reduziu a pobreza, ampliou os direitos sociais, fortaleceu o papel do Estado e enfrentou os interesses das elites econômicas e midiáticas.
Mas após deixar o cargo, Correa foi alvo de uma intensa perseguição judicial por parte do governo de seu ex-aliado Lenín Moreno, que rompeu com o projeto político de seu antecessor e se alinhou com a direita e aos Estados Unidos.
O ex-presidente equatoriano também compartilhou suas experiências e fez um panorama do contexto vivido hoje pelo povo equatoriano, com duras críticas a Guilhermo Lasso, atual presidente do Equador. A Corte Constitucional equatoriana decidiu nesta quinta-feira (30), que o processo de impeachment contra Lasso pode seguir para a Assembleia Nacional, onde o presidente poderá enfrentar dificuldades para se manter no cargo. “Recuperaremos o Equador para seu povo, para a justiça, para a Pátria Grande”, disse.
Em 2020, Correa foi condenado a oito anos de prisão, e vive atualmente na Bélgica, país natal de sua esposa, onde recebeu a condição de refugiado político em 2022. Apesar do exílio forçado, ele continua sendo uma referência para os movimentos populares da América Latina, que reconhecem sua trajetória de luta em defesa da democracia, da justiça social e da integração regional.
O importante não é que eu volte, é que o Equador volte ao seu povo” (Rafael Correa).
Entre as avaliações do encontro, participantes avaliam que a fala de Rafael Correa foi uma oportunidade para fortalecer os laços entre os movimentos sociais do Brasil e do Equador, bem como para ampliar o debate sobre os desafios e as perspectivas da esquerda na América Latina. O ex-presidente equatoriano se mostrou otimista com as possibilidades de mudança na região e afirmou que o povo latino-americano tem uma história de luta e resistência que não se deixará abater diante de crise econômica, política ou social. “O custo [da resistência] é imenso, tem sido muito difícil, mas eles não foram capazes de nos destruir, e nós vamos resistir. Renasceremos e venceremos, camaradas”.
Confira entrevista exclusiva de Rafael Correa ao MST:
*Editado por Solange Engelmann