Direito à Educação
25 anos de Pronera: a luta permanente na formação dos sujeitos do campo
Por Maria de Fátima Ribeiro*
Da Página do MST
Eu participei da primeira turma da Pedagogia da Terra em parceria com uma universidade pública. A parceria foi entre o MST, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), realizada no CEUNES, município de São Mateus, entre 2000 e 2003, num sistema de alternância, que ocorria nos períodos de férias, com educandas e educandos das regiões sudeste, nordeste e norte do Brasil.
Para de fato se efetivar e legalizar o curso, o MST precisou organizar um acampamento, montando um dormitório, ciranda infantil, cozinha e refeitório de madeirit. Essa foi a estrutura que possibilitou aos estudantes se organizarem para estudar. Fomos ocupando a sala de aula e mais tarde outros espaços do CEUNES. Os professores em sua maioria vinham de Vitória e alguns convidados do MST.
Todo esse período de cursos foi norteado pela prática concreta e um embasamento teórico e prático da pedagogia da terra. Foi assim que a maioria da militância começara a atuar com mais qualidade na área da educação, ou propriamente em salas de aulas, sendo pedagogos, coordenadores e diretores nas Escolas do Campo pelo país e alguns atuando na coordenação do Setor de Educação do MST.
Nesse período, eu morava e atuava no MST RN, e vinha de ônibus, com uma criança no colo, para conseguir concluir meus estudos. E o fato do curso ter organização da ciranda infantil, para nós mulheres, foi fundamental para a garantia em focar nos estudos.
A organização era baseada em uma coordenação pedagógica coletiva, com educandos, educadores e representantes da UFES. Os estudantes eram organizados em núcleos de base, tanto para o estudo, quanto para a divisão social do trabalho. Essa organização permitiu que cada etapa fosse bem participativa, com organização de místicas, visitas e passeios pedagógicos.
Esse embasamento teórico e prático permitiu que pudéssemos atuar nas escolas dos assentamentos, chamadas de Escolas do Campo, com mais qualidade e possibilidades de continuarmos sonhando com um mundo melhor, a partir do trabalho desenvolvido na sala de aula e na escola como um todo. E para nós, que não atuávamos em sala de aula, permitiu uma compreensão e embasamento teórico que permitiu atuar na coordenação do MST, nos assentamentos e na formação de base.
A partir dessas experiências e avanços com o curso de pedagogia, que se espalhou para outros estados, foi surgindo a necessidade de criação do curso de especialização em Educação do Campo, que também já estava sendo instituído. Assim foi construído a Especialização em Educação do Campo, em 2004 e 2005, em parceria com a Universidade de Brasília (UnB). Foi uma turma nacional, realizada na Escola Nacional Florestan Fernandes, em São Paulo. Esse curso nos deu outra dimensão sobre a Educação do Campo, sua historicidade, sua epistemologia, um embasamento teórico aprofundado e com grandes possibilidades de atuação.
Com essa clareza e a perspectiva de continuar avançando na luta por educação pública no campo, que fui designada a atuar na articulação junto a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para contribuir na organização dos cursos de Pedagogia da Terra do Nordeste, o curso de Enfermagem da Terra e de Cooperação Ambiental, junto ao Instituto Federal do Espírito Santo.
A partir dessa organização e participação efetiva na consolidação desses cursos que ao retornar ao estado do Espírito Santo, fui convidada pelo Setor de Educação do MST a coordenar a Escola Estadual de Ensino Fundamental Paulo Damião Tristão Purinha, no município de Linhares. Para mim foi uma grande experiência na coordenação da escola e depois na sala de aula, isso me permitiu o olhar aos sujeitos do campo, a partir dos elementos da Pedagogia do Movimento. Ser militante da educação, nos permite pensar a formação das futuras gerações.
Nesse contexto, a luta o MST pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) foi muito acertada, contribuindo com uma qualidade de atuação em todas as áreas do conhecimento, necessárias a medida em que o MST ampliação a dimensão na luta pela Reforma Agrária Popular e por uma sociedade justa e igualitária. Ter formado militantes em várias áreas do conhecimento nos fortalece como organização popular e como já dizia José Martin: “o conhecimento liberta!”
Eliminar o analfabetismo no campo é uma tarefa revolucionária. E pelas experiências realizadas em vários estados brasileiros, com parcerias com governos progressistas, nos dá a garantia dessas possibilidades e o potencial para isso.
Perceber o brilho do olhar do cidadão alfabetizado, é lindo demais! Só nos dá a garantia de que estamos no caminho certo, me lutar por políticas públicas para avançar nessa direção. Como a Campanha Nacional dos “territórios livres de analfabetismo!”, uma tarefa de toda a militância Sem Terra“.
O retorno do Pronera de forma ativa, com orçamento para viabilizar os cursos em todas as áreas de conhecimento e para a campanha da alfabetização, é fundamental para o crescimento dos sujeitos do campo, dando continuidade aos processos formativos de graduação e pós-graduação, e assim estaremos garantindo o desenvolvimento econômico, social e político do campo.
*Pedagoga da Terra, assentada no assentamento Sezínio Fernandes de Jesus, município de Linhares/ES e do Setor de Educação do MST no estado.