Sem Terrinha

Confira o manifesto dos Sem Terrinha para o Fórum Nacional da Infância e Juventude

Documento foi entregue na sexta-feira (19)durante o I Congresso do Fórum Nacional da Infância e Juventude do Conselho Nacional de Justiça (Foninj), em São Paulo/SP.
Foto: MST em SC

Da Página do MST

Nos dias 18 e 19 de maio, o Conselho Nacional de Justiça realizará o I Congresso do Fórum Nacional da Infância e Juventude do Conselho Nacional de Justiça (Foninj), em São Paulo/SP. O evento tem como objetivo debater diversos temas relacionados à infância e juventude, tais como o princípio da prioridade absoluta e o futuro das políticas públicas para a infância e juventude, dentre outros.

Neste sentido, os Sem Terrinha entregaram na sexta-feira (19) um manifesto sobre a importância e os desafios das crianças e jovens que não possuem terra para cultivar e os impactos da concentração de terras nas mãos de poucos proprietários. Elas destacam a importância da terra como fonte de alimento, moradia e sustento, e desenvolver empatia pelos trabalhadores rurais que lutam por condições de vida melhores.

No MST, as crianças Sem Terrinha aprendem sobre práticas agrícolas que respeitam o meio ambiente e promovem a sustentabilidade, como a produção orgânica e a agrofloresta. Esses conhecimentos contribuem para a formação de cidadãos mais conscientes e responsáveis em relação ao meio ambiente e precisam estar na pauta do Congresso.

Confira o Manifesto na íntegra:

Somos Crianças Sem Terrinha do MST! Somos filhos e filhas das famílias Sem Terra, moramos nos acampamentos e assentamentos de Reforma Agrária. Junto com nossos pais ocupamos terra para ter alimentos, casa para morar, lugar de brincar e ser feliz. Ajudamos nossa família com os trabalhos da roça e a cuidar dos animais. Gostamos de comer os alimentos que plantamos. Queremos alimentação saudável nas escolas do campo, com lanches de qualidade.

Nós Crianças Sem Terrinha gostamos de brincar, estudar e lutar pelo nosso direito de viver e estudar no campo, entre os dias 23 e 26 de julho de 2018, estivemos no nosso 1º Encontro Nacional das Crianças Sem Terrinha no Parque da Cidade, em Brasília.

Nesse encontro brincamos e debatemos muito sobre os problemas em nossas localidades, que dificultam nosso direito de brincar, estudar e lutar.

Nosso grande sonho de Sem Terrinha, é ver a terra repartida e que todas as crianças e
suas famílias tenham um lugar para morar, trabalhar e viver.

Por isso exigimos que nenhum acampamento seja despejado, sabemos que existem várias ordens de despejo e que já ocorreu tentativas de despejos nesse ano. E queremos que essas terras onde estão os acampamentos virem assentamentos.

Queremos que não tenha mais violência contra os Sem Terra e que o Estado cumpra sua obrigação de garantir a segurança do povo, nós Sem Terrinha estamos sentindo que nossas famílias estão sendo discriminadas, ameaçadas e tratadas como “bandidos”, criminalizando nosso direito de luta. E isso deixa nós Sem Terrinha com medo, exigimos respeito e o direito de permanecer em nossas terras. Pois nossas famílias produzem alimentos que ajudam alimentar a
população da cidade e melhorar a economia do munícipio.

Em alguns lugares conquistamos a terra, mas ainda, precisamos de melhorias como na saúde, é necessário ter unidades de saúde com médicos, terapias e tratamentos naturais para que a gente não fique muito tempo nas filas e tenha um atendimento de qualidade.

Para melhorar nossa vida no assentamento, também precisamos ter estradas de qualidade para os alimentos que produzimos com nossos familiares chegarem até a cidade. Exigimos condições para produzir alimento saudável para garantir nossa soberania alimentar com cooperação e a agroecologia. O lanche na escola melhorou bastante com os alimentos da agricultura familiar, mas ainda precisa melhorar e todo alimento escolar deve ser saudável e bem preparado e que todas as nossas escolas do campo possam ter esta merenda do PENAE.

Para nós Sem Terrinhas continuarmos dando grandes passos na emancipação humana, precisamos de uma educação de qualidade que faça nosso presente de luta e garanta o futuro dos que virão.

E uma escola de qualidade, precisa ter liberdade para acessar o conjunto dos conhecimentos na sociedade, por isso achamos um crime tentarem proibir à escola de discutir as questões da nossa vida.

Nenhuma escola do campo pode ser fechada, porque depois de tanto esforço para construir é uma coisa muito errada deixar fechar. A lei diz que é obrigado colocar escola no campo, este é direito nosso. Estamos aqui para lutar para que o Estado coloque essa lei em prática. As escolas do campo são importantes e muito boas, porque faz com que os Sem Terrinhas que estudam nelas sejam trabalhadores educados e que saibam mais sobre a sociedade.

Já solicitamos junto ao MEC e as Secretaria de Educação a construção e reforma de escolas nos Assentamentos, e pelas nossas informações pouca coisa foi encaminhada.

Necessitamos da construção de muitas escolas no campo com as condições necessárias: com internet, laboratórios de informática, de ciências, de solos, biblioteca, refeitório, quadra poliesportiva, espaço de produção agrícola, ateliê de arte e com água potável. Muitas escolas nossa funcionam em estrutura desadequada, sem biblioteca e espaço de lazer. Algumas escolas
nossa não tem poços artesianos e às vezes falta água.

Também sabemos que é necessário professores em condições para assumir as aulas, com maior tempo na escola e que se identifique com educação do campo. Porém hoje, um dos nossos maiores problemas são as estradas de acesso a escola, perdemos muitos dias de aula, isso dificulta o aprendizado nosso enquanto Crianças e Adolescentes.

Em muitos locais, não há linhas do transporte escolar e ônibus suficientes para atender as necessidades, ocorrendo a superlotação em ônibus , ônibus que estragam na estrada, muitas das vezes ficamos muito tempo no trajeto e chegando atrasados. A condição das estradas, na maioria dos acampamentos e assentamentos, não permite nossa ida à escola e faz com que em muitos dias percamos aulas, muitas crianças chegam até reprovar, queremos estrada com qualidade, pois em alguns lugares não tem pontes e o ônibus passa dentro do rio quando chove.

Tem criança que vai para a escola a pé, de cavalo ou de bicicleta, corremos vários perigos na ida para a escola, pois o trajeto é muito longe. Exigimos que o problema do transporte e das estradas seja resolvido com urgência.

Somos Sem Terrinha do MST pelo direito de viver, brincar e estudar no campo e nos colocamos em luta, reafirmando nossa identidade, fazendo a denuncia e reivindicando nossos direitos.

Lutamos contra os preconceitos, o desrespeito com as pessoas e por igualdade de direitos.

Lutamos por terra, escola, saúde e educação, desses direitos não abrimos mão!

SEM TERRINHA EM MOVIMENTO: BRINCAR, SORRIR, LUTAR POR REFORMA AGRÁRIA POPULAR!

Baixe o Manifesto aqui:

São Paulo, 15 de maio de 2023