Preconceito
Diretor do Simers ataca curso para assentados: ‘não demora os índios vão querer também fazer’
Por Brasil de Fato | Porto Alegre
Depois de nota do Sindicato Médico do RS (Simers) criticando o projeto de abertura de vagas para assentados da reforma agrária no curso de Medicina da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), seu diretor de interior, Luiz Alberto Grossi, deu um passo além: “Essas pessoas que vêm do campo, vêm não muito qualificadas para fazer Medicina”, declarou ao Diário Popular. “Então, certamente nós vamos desqualificar a profissão concordando com isso. Isso vai gerar precedentes. Não demora, os índios vão querer também fazer”, acrescentou em entrevista ao jornal da cidade gaúcha.
“Pessoas bem estudadas”
“Em primeiro lugar – continuou – tem alguns fatores para nós. Isso aí é uma coisa segregada, que altera todos os critérios para ingresso na faculdade. Normalmente as pessoas que você tem na faculdade de Medicina são pessoas bem estudadas, trabalhadas, que se submetem a uma prova e ingressam.” No seu entendimento, o problema não é a falta de médicos mas “a falta de condições para exercer a Medicina”.
139 veterinários já formados
Os ataques do Simers começaram depois que a reitoria da UFPel admitiu a possibilidade de abrir vagas no curso de Medicina para assentados e filhos de assentados, a exemplo do seu bem sucedido curso de Medicina Veterinária. A universidade gaúcha já formou 139 veterinários e tem mais duas turmas em andamento, uma delas com formatura agendada para 2023. São estudantes que ingressaram na universidade pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), que atua na promoção da educação para os trabalhadores e trabalhadoras do campo.
Para Grossi “é tratamento desigual isso aí. E desqualificado, ao meu ver. E é uma coisa da esquerda, né? Sempre fizeram isso e não vai ser diferente”. Ele opina que a reitoria age “de uma maneira oportunista”. Acha que se trata de “uma reitoria extremamente de esquerda, e é um horror o que esses caras fazem, querem ser pioneiros nessa história(…)”
Nota máxima na avaliação do MEC
“Identificamos nessa iniciativa um instrumento para diminuir as disparidades no acesso à educação e na representação de profissionais de saúde em regiões rurais, onde geralmente há escassez de médicos”, justificou a reitora da UFPel, Isabela Andrade, respondendo ao mesmo jornal.
Ela invocou os 12 anos das turmas de Veterinária para fortalecer a sua convicção. “O rendimento acadêmico e o grau de comprometimento das alunas e alunos destas turmas é algo que encanta e motiva. São alunos dedicados, aplicados e conscientes de seu papel.”
“Recentemente – enfatizou – passamos por uma avaliação do MEC e as turmas especiais de Medicina Veterinária obtiveram a nota 5, ou seja, obtivemos a nota máxima. Reforço, fomos nota máxima”. E cutuca: “Para aquela minoria da sociedade que costuma fazer julgamentos desprovidos de qualquer base real ou, ainda, premidos por preconceitos menores, este recente resultado é uma demonstração de que as oportunidades devem ser dadas a todas as pessoas”.
Edição: Ayrton Centeno