Memória
Maior poeta contemporâneo da “ilha rebelde” completa 101 anos de nascimento
Da Página do MST
Enigma da Esperança:
o meu é seu
O seu é meu;
todo o sangue
formando um rio“– Nicolás Guillén
“Bugueses”:
Não me dão pena os burgueses vencidos,
E quando penso que vão dar-me pena,
Aperto bem os dentes e fecho bem os olhos.
Penso nos meus longos dias sem sapatos nem rosas.
Penso nos meus longos dias sem abrigos nem nuvens.
Penso nos meus longos dias sem camisas nem sonhos,
Penso nos meus longos dias com minha pele proibida.
Penso em meus longos dias.– Nicolás Guillén
Chegada
Aqui estamos!
A palavra nos chega úmida dos bosques,
e um sol enérgico nos amanhece entre as veias.
O punho é forte
e segura o remo.No olho profundo dormem palmeiras exorbitantes,
e o grito se nos escapa como uma gota de ouro virgem.
Nosso pé,
duro e largo,
calca o pó pelos caminhos abandonados
e estreitos para nossas colunas.
Sabemos onde nascem as águas,
e as amamos porque impeliram nossas canoas sob
os céus vermelhos. (…)Eh, companheiros, aqui estamos!
Sob o sol
nossa pele suarenta refletirá os rostos úmidos
dos vencidos,
e à noite, enquanto os astros arderem na ponta de
nossas chamas,
nosso riso madrugará sobre os rios e os pássaros.– Nicolás Guillén
Nesta segunda-feira completa-se 101 anos de nascimento no poeta cubano, Nicolás Guillén. Nascido em 10 de julho de 1902, em Camaguey, ele é considera o principal representante da poesia negra centro-americana e uma das principais figuras da cultura da ilha.
Nicolás Guillén, também fugira como o “Poeta da totalidade cubana”, que com seu canto de amor e de lutas, moldou sua palavra forte às necessidades de sua Pátria no momento histórico antes da Revolução, que tirou do poder o ditador Fulgêncio Batista, em 1959.
É autor de Motivos de Son (1930), Sóngoro cosongo (1931), West Indies Ltd.(1934) e poemas dispersos em livros posteriores, manifestando uma preocupação social que foi se acentuando com o passar dos anos.
Depois de West Indies Ltd., escreveu poemas com preocupações políticas sociais. Em Cantos para soldado e sones para turistas (1937), El son entero (1947) e La paloma de vuelo popular, mostrou seu compromisso com a pátria cubana, com seus irmãos de raça e com todos os excluídos do mundo. Já em España, no poema Angústias Quarta (1937) acusou o impacto da Guerra Civil espanhola e o assassinato de Federico Garcia Lorca.
O amor e a morte também são temas fundamentais de sua poesia. Com Tengo (1964) manifestou seu júbilo diante de Cuba revolucionária, e Poemas de amor (1964), El gran zôo (1976), La rueda dentada (1972), El diário que a diário (1972) e Por el mar de lãs Antillas anda un barco de papel – poema para crianças e maiores de idade (1977) demonstraram sua capacidade de conjugar preocupações diversas e encontrar formas de expressão sempre renovadas. Na Prosa de prisa (1975-1976) foram reunidos seus trabalhos jornalísticos.
O poeta foi um defensor da causa da Revolução Cubana, como escritor e cidadão, junto com José Marti e José Maria Heredia. Foi fundador e editor de várias revistas literárias. E em 1960, criou a Fundação da União dos Escritores e Artistas de Cuba, da qual foi presidente até a sua morte em Havana em 1989.
Trabalhou como tipógrafo, jornalista e se tornou conhecido como escritor. Desde sua juventude participou da vida cultural e política cubana, amargando o exílio em várias ocasiões. Iniciou no Partido Comunista em 1937, e após o triunfo da revolução cubana, em 1959, ocupou cargos e realizou missões diplomáticas importantes, até sua morte.
Iniciou sua produção literária no âmbito do pós-modernismo e firmou-se nas experiências vanguardistas dos anos vinte, em cujo contexto se converteu no representante mais destacado da poesia negra ou afro-antilhana.
É pouco conhecido no Brasil, mas seu livro Songoro e Cosango, foi traduzido em 1985 para o português pelo escritor Thiago de Mello, com a Editora Philobiblion. Vale a pena ler e conhecer um pouco mais da poesia desse genuíno poeta cubano!