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Copavi, 30 anos de revoluções

Precisamos de cada centelha que ilumine e aqueça nossa esperança e ações, e a Copavi de Paranacity (PR) tem despertado isso, desde aquele 10 de julho de 1993
Assembleia de fundação da Copavi, em 10 de julho de 1993, no Assentamento Santa Maria, em Paranacity, Paraná. Foto: Arquivo Copavi

Por Janaína Strozake*
Da Página do MST

Numa conjuntura de ascenso e avanço da extrema direita, quando em alguns falta vergonha ao mostrar publicamente sua misoginia, seu racismo e seu supremacismo assassino. Quando na crise generalizada em que falta comida, água doce, segurança, educação, terra e respeito, as pessoas que mais sofrem e pagam são as mais empobrecidas. 

Precisamos de cada centelha que ilumine e aqueça nossa esperança e nossas ações, e a Cooperativa de Produção Agropecuária Vitoria Ltda, a Copavi, localizada no município de Paranacity, no Paraná tem sido isso e muito mais, desde aquele 10 de julho de 1993.

A Copavi viveu e vive muitas revoluções, algumas das quais queremos destacar neste ano em que nossa cooperativa completa 30 anos.”

Luta e conquista da terra

Área onde se encontra o Assentamento Santa Maria em 1997 (primeira imagem) e em 2004 (segunda). Fotos: arquivo Copavi

É possível e necessário enfrentar o latifúndio, e é possível vencer. A Fazenda Santa Maria, quando ocupada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em 1993, era um deserto verde de cana-de-açúcar. A terra era uma areia seca, combalida por décadas de superexploração com venenos. As 25 famílias ocuparam, conquistaram e organizaram a vida e a produção de alimentos saudáveis.

Produção de comida, construção de soberania alimentar

Produção agroecológica da Copavi. Foto: arquivo Copavi

Hoje a Copavi produz leite, iogurte (o melhor iogurte do mundo!), manteiga, nata, pães, biscoitos, frutas, verduras, ovos, carne, açúcar mascavo, melado, cachaça, cultiva a floresta, cuida da água e da vida. A primeira colheita farta, lá no final de 1993, foi de tomates e pepinos, junto com a rapadura e o doce de jaracatiá, animando o duro trabalho no campo. Transformando a terra de deserto verde em um espaço diverso, colorido, vivo, um lugar em que a Humanidade é possível.

Elevação da consciência e da capacidade técnica

Momentos formativos e organizativos do coletivo da Copavi. Fotos: arquivo Copavi

Como dizia o Che, precisamos dominar a técnica, precisamos estudar. E na Copavi se estuda, muito e sempre. Todas as pessoas têm oportunidade para a formação política e técnica. A cooperativa tem membros contribuindo em vários lugares do Brasil e do mundo. São camponesas e camponeses pedagogos, contadores, engenheiros nos diversos campos, agroecólogas, historiadoras, administradores, veterinárias…gente com graduação e pós-graduações. Na práxis, se constrói conhecimento e prática na agroecologia, na cooperação, nas relações sociais, na saúde, na educação, etc. 

Construção do reino, ou melhor, do mundo de liberdade

Montagem de cestas e entrega de alimentos para doação feitos pela Copavi. Foto: Arquivo Copavi.

Marx convida a que deixemos o “reino da necessidade”, e sigamos no rumo e construção do “reino da liberdade”. Como não somos monárquicas, falemos em “mundo da liberdade”. A construção desse mundo, vivido desde já, é o processo de nossa desalienação, é o processo em que nos reconhecemos no produto de nosso trabalho, ele nos transforma e nos pertence.

Durante a pandemia do Covid-19, a Copavi, junto ao MST, deu o exemplo concreto do significado de liberdade: poder produzir comida e vender a preços acessíveis, ou mesmo doar. O alimento, fruto do trabalho camponês, não pertence a um patrão, não pertence ao mercado: pertence a quem o produz, e pode cumprir com sua função social, que é produzir alimentos para alimentar a quem tem fome, e não aumentar os lucros de quem tem poder econômico.

Realização do potencial humano (por último, mas não por fim)

Grupo de Mulheres da Copavi na Jornada de Lutas das Mulheres Sem Terra de 2017, em Maringá (acima) e crianças do Assentamento Santa Maria no parquinho da Copavi, em 2003 (abaixo). Foto: Arquivo Copavi.

O coletivo Copavi cumpre a tarefa de resgatar a dignidade humana, de fomentar a imaginação e o sonho, e a concretização do desejado, imaginado, sonhado. Sonhamos a produção orgânica e a agroecologia, que vai se concretizando. Sonhamos o refeitório coletivo, que está em funcionamento há 30 anos, e cada dia mais lindo. Sonhamos produzir boa cachaça, e a marca Camponeses vai conquistando paladares mundo a fora. Sonhamos que o Grupo de Mulheres existiria e resistiria, e assim se cumpre. Sonhamos e sonharemos, virão controvérsias, conflitos, frustrações, e na luta do povo, às vezes, nos cansamos, mas o caminho só se faz de mãos dadas.

Saudamos os 30 anos vividos! E oxalá outros 30 anos venham, revolucionando para que o planeta siga sendo habitável, para que o ser humano siga existindo, alumiando a esperança rumo ao mundo da liberdade.

Lutar, Construir Reforma Agrária Popular!

*Janaína é assentada no Assentamento Santa Maria, em Paranacity, Paraná, e cooperada da Copavi. 

**Editado por Solange Engelmann