Memória
Carlos Brandão: educador, poeta e companheiro. Presente!
Da Página do MST
Carlos Rodrigues Brandão nos deixou fisicamente na terça-feira (11), mas seus ensinamentos de educador popular incansável e poeta seguem inspirando os Sem Terrinha e toda a militância Sem Terra, que mantém vivo seu legado, nas criações e composições rumo ao Iº Festival Literário do MST.
Confira trechos da coletânea de poemas: Semente, escrita pelo autor para as crianças Sem Terrinha do MST, publicadas na Coleção Fazendo História do Movimento, em 2000.
Bem lá dentro
Num lugar
Bem profundo
A semente
Guarda isto:
Um mundo.A semente
Escondida
Esconde um ser
Pequenino:
A vida.Você já pensou
(e pensou por quê?)
Que uma semente
Algum dia
Já foi… você?
Um jardim de todos
Se formos olhar bem, todas e todos nós: as pessoas, os bichos do mundo, as árvores, todas as plantas, as flores e os frutos, saímos de alguma semente e somos também canteiros de sementes dentro de nós.
Pois tudo o que é vivo: um pé de feijão, uma borboleta, um passarinho, uma criança, é parte do mesmo milagre: a própria vida.
Toda a Terra, nossa casa comum, o lar de tudo o que veio de uma semente e que é uma semente de vida, é um mundo de muitas coisas como a água, o fogo, a terra, o ar e tantos e tantos outros elementos. E tudo o que existe na Terra existe para criar e abrigar a vida de que nós somos parte.
Tudo o que existe nela é um dom gratuito, é um bem da natureza que existe livre por aí, em todo o Mundo onde estamos. Existia muito antes de nós, seres humanos, termos aparecido neste nosso Mundo.
Vocês não acham tão espantoso ver algumas pessoas lutando tanto para serem donas disto ou daquilo, e varando a vida preocupadas só em acumular ouro, dinheiro, terras e outras coisas, quando o que existe à nossa volta de mais verdadeiro e de mais maravilhoso está simplesmente aí… de graça? As águas, o mar, os rios e os riachos, as montanhas, o céu estrelado, as nuvens e a mãe chuva. E quantos e tantos outros bens do Mundo e da Vida.
E também a terra onde semeamos, onde plantamos e onde aquilo de que tiramos quase tudo o que nós e todas as pessoas precisamos para vivermos a nossa vida e sermos bem felizes (…).
Carlos Rodrigues Brandão
Rosa dos Ventos, no Sul de Minas Gerais
Outono do ano de 2000.
Leia na integra a coletânea de poemas: Semente escrita pelo poeta.