Internacionalismo
MST ocupa o Festival de Avignon, na França, com a peça “Antígona na Amazônia”
Por Lays Furtado
Da Página do MST
A obra que foi criada no Brasil, com a participação de lideranças indígenas e de movimentos sociais que lutam pela terra, rememora o Massacre de Eldorado do Carajás, onde 21 trabalhadores rurais Sem Terra foram assassinados, em 1996, quando lutavam por Reforma Agrária no Pará.
A partir da memória do massacre e da adaptação de uma das peças mais desafiadoras do teatro grego, “Antígona na Amazônia” está em cartaz desde o dia 16 até esta segunda, dia 24 de julho, em um dos festivais de teatro mais importantes do mundo, o Festival de Avignon, no sul da França.
Maria Raimunda, da coordenação do Coletivo Nacional de Cultura do MST, que acompanhou os primeiros dias do festival, contou que ficou impressionada com a presença massiva de mais de mil grupos teatrais espalhados pelas ruas e palcos da cidade de Avignon: “uma experiência muito rica, viva, do povo fazendo arte na rua” – menciona.
“A gente encontrou muitas experiências de teatro político, que se vinculam à Antígona na Amazônia. E a gente ficou muito surpresa com a receptividade. Todos os dias o teatro que apresentava a peça Antígona [na Amazônia] estiveram lotados, se esgotou a venda de ingressos.” – comenta Maria.
Ela explica que o tema foi muito bem recebido, sobre a temática da Amazônia e os Sem Terra. A obra trata das violações que acontecem com as comunidades tradicionais, com a natureza, com a floresta, com os animais e os rios na região.
“É uma denúncia de uma realidade que é cruel e revoltante, de indignar, que é de violência permanente contra os lutadores e lutadoras. E ela é também uma peça de anúncio, porque ela coloca a militância, desde o coro do MST que tem na peça, de sujeitos à disposição para a luta”.
A peça é uma produção realizada entre o MST e o NTGent, grupo teatral dirigido pelo suíço Milo Rau. E durante sua montagem no Brasil teve colaboração do filósofo Ailton Krenak, das atrizes Kay Sara e Célia Maracajá, além do memorável diretor Zé Celso, que também participou do projeto.
Após o encerramento das exibições no festival, a obra será apresentada em Roma e Finlândia no próximo mês de outubro, e ainda este ano também circulará pela Espanha e Portugal.
Arte como forma de luta
Outro ponto que surpreendeu os membros do Coletivo de Cultura do MST presentes no Festival de Avignon, foi a força da peça e a articulação da equipe do Milo Rau, que estabeleceu uma grande rede de solidariedade também a outras entidades de luta.
No primeiro dia da apresentação da Antígona, houve uma coletiva de imprensa onde foi falado sobre a internacionalização da luta através das linguagens artísticas para um esperançar coletivo.
Na última segunda-feira (17), militantes do MST participaram do lançamento do documentário “La loi de Dieu, la loi des Hommes” de Thierry Derouet e Christian Dutilleux, que trata sobre o legado do Frei Henri Burin des Roziers, onde foi trazido o tema sobre a situação da luta pela terra no Pará. Frei Henri foi advogado de formação e dominicano por vocação, faleceu em 2017. É recordado como um dos maiores defensores dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras rurais da região amazônica.
Foto: Moritz von Dungern
Militantes do MST em Coro em Antígona. Foto: Moritz von Dungern
Durante os dias de exibição da obra, na última terça (18), também houve um debate sobre a criminalização dos movimentos em defesa da Terra, onde foi exibido o clipe “O amanhã não está à venda”, composto ao longo da construção teatral da Antígona na Amazônia. Além de representantes do MST, estiveram presentes no debate membros da luta pela terra na França, Les Soulèvements de la Terre (SdlT), que também estão passando por um processo de criminalização no país.
Já na exibição da última quarta-feira (19), na abertura da peça foi feita uma menção de apoio ao jornalista e ativista Julian Assange, por sua libertação e contra sua extradição aos Estados Unidos.
“Então, a peça vincula a Antígona com a luta na Amazônia e do MST, mas além de denunciar e anunciar, ela tem carregado também essa bandeira da solidariedade aos povos do mundo inteiro, para além do MST. O que é de fato um fazer político, um teatro político que tem uma vinculação mesmo com as lutas da atualidade do povo.” – conta Raimunda.
Assim, a peça que faz menção à Antígona, à memória e ao presente da luta pela terra, tem trazido outros embates do nosso tempo, “porque fazer arte também é uma forma de luta” – destaca Maria.
*Editado por Erica Vanzin