Agroecologia

Conheça o ‘Agrofloresta em Quadrinhos’: um manual de práticas e conhecimentos agroecológicos

Projeto nasceu da necessidade de facilitar e registrar processos didáticos nas comunidades
O material é utilizado em processos de educação em agroecologia. Foto: Arquivo Pessoal/João Paulo Lotufo Junior

Por Iolanda Depizzol
Do Brasil de Fato

A construção do conhecimento agroecológico precisa considerar uma diversidade de povos e lugares envolvidos. Além de espaços formais, como a academia, movimentos populares estão constantemente desenvolvendo processos educativos em contextos diversos de troca de saberes. 

Neste sentido, o Agrofloresta em Quadrinhos é um manual que apresenta de forma didática as técnicas e práticas da Agroecologia. A história é narrada por Dandara, moradora de uma comunidade quilombola, e que nos conduz a destrinchar essa tecnologia ancestral.

“Nas nossas experiências pedagógicas, estava sentindo falta de um material muito simples, e que pudesse dialogar com crianças, com pessoas com pouca escolaridade, e que não conhecessem ainda a agrofloresta”, conta João Paulo Lotufo Junior, organizador e roteirista do quadrinhos.

Responsável pelas ilustrações e diagramação do manual, César Trevelin afirma que o material surgiu da necessidade de se “utilizar de muitas imagens, e que permitisse que diferentes pessoas utilizassem aquelas imagens para contar a história da agrofloresta”. Além disso, o quadrinhos cumpre uma função de registro após os processos educativos, para que “as pessoas conseguissem continuar revisitando esse assunto de uma forma tranquila”, explica.

Os quadrinhos levaram cerca de um ano para a conclusão. Lançado em 2019, o guia contou com uma primeira tiragem impressa, que está esgotada. Mas segue disponível de forma gratuita na versão digital.

“Esse quadrinho é fruto da nossa militância agroecológica. Então, como uma decisão política, disponibilizamos para o download gratuito. Depois foi rodando, ganhando muita força e as pessoas foram utilizando e outras pessoas se ofereceram para se envolver no projeto e traduzir o manual para outras línguas. Hoje são 13 línguas traduzidas do manual, que também está sendo utilizado em cursos e em atividades em escolas”, conta João. 

Material é utilizado nas comunidades em processos educativos. Foto: Arquivo Pessoal/João Paulo Lotufo Junior

É o caso da Mariana Beltrão de Barros, professora da modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Ela já conhecia a prática agroecológica, e depois que descobriu o material, passou a utilizar em suas aulas.

“Os meus alunos têm uma vivência grande já com isso. Alguns trabalharam na roça quando eram mais novos, trabalharam com produção de alimentos – mesmo que tenha sido em agricultura convencional. E como eles são mais velhos, muitos tem também plantas em casa, e a gente sempre tenta trazer essas coisas mesmo que eles já fazem”, relata a educadora.

Mariana afirma que a utilização de imagens é importante para a didática, já que muitas vezes as salas de aula estão repletas de textos, e “as pessoas perdem um pouco a atenção”.

“E como o manual está muito bem escrito, muito resumido, você encontra fácil [os assuntos]. Porque às vezes você procura pela imagem. Se você só tem texto no livro, você fica lá procurando”, relata. 

Além de indicar o guia como material de leitura em sala de aula, Mariana conta que também teve uma experiência inesperada com os quadrinhos.

“A minha escola foi convidada a participar de uma formação, e em um dos dias, estava o formador falando sobre agrofloresta, sobre a produção de alimentos dessa forma, que não precisa você desmatar tudo, e sempre plantar só alface, só rabanete, só tomate… Que você pode fazer isso junto. Várias plantas diferentes, e elas podem até se ajudar, a proteger o solo, e tudo mais. E aí, na parte teórica, ele colocou os slides e eu reconheci o Agrofloresta em Quadrinhos”, conta.

Entre a ficção e a realidade, a educadora relata que ao começar uma atividade em campo, viu assuntos na história do livro, que “as pessoas, a maioria das professoras não conheciam, e todo mundo ficou encantado”, afirma. 

João Paulo se emociona ao ver os quadrinhos sendo utilizados e divulgados, e ganhando novos leitores pelo mundo. 

“É lindo ver isso. Como com um pouquinho, a gente soltou com amor e as pessoas abraçaram e distribuíram. É uma opção política de promover abundância, promover o compartilhar, o orgânico, a justiça social, o agroecológico”, conta. 

Em vídeo

Além do download da versão digital, os dos mesmos criadores do Agrofloresta em Quadrinhos compartilham vídeos sobre a prática agroecológica no canal Hortemos ,no YouTube.

Edição: Daniel Lamir