Comemoração
Acampamento Porto Pinheiro comemora 25 anos, no Paraná
Por Barbara Zem e Jaine Amorin
Da Página do MST
Foi em 1998 que a história do acampamento começou, nas margens da PR 158, entre os municípios de Laranjeiras do Sul e Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, onde atualmente está localizado o assentamento 8 de junho. Foi ali em que as famílias Sem Terra de diversos lugares se concentraram para realizar um sonho em comum, “o sonho de ter o seu espaço de terra, para poder viver com dignidade”.
Fotos históricas. Foto: arquivo pessoal, professor Rene Rigon
Após as famílias se reunirem na PR 158, elas saíram no dia 1º de setembro de 1998 em direção ao município de Porto Barreiro, para ocupar a fazenda improdutiva chamada de “Fazenda Manasa”. Essas famílias enfrentaram todos os tipos de dificuldades imagináveis, e buscaram força no coletivo para continuar resistindo e lutando para que o sonho de ter seu espaço de terra, se tornasse realidade.
No dia 30 de setembro do mesmo ano, a comunidade que começara a sua constituição há poucos dias, reafirmava o compromisso do MST com a educação e inicia às aulas na Escola do Campo Cândida Oliveira Luz. Há 25 anos a Escola cuida da educação das crianças Sem Terrinhas acampadas, tendo como base a proposta pedagógica defendida pelo Movimento da Educação do Campo, que respeita e valoriza os saberes e os sujeitos do campo.
Os primeiros quatro anos de ocupação foram muito difíceis, com muito sofrimento, fome, miséria e ameaças constantes de desejo. Mas, 25 anos após a ocupação as 124 famílias seguem resistindo e continuam no acampamento.
“Nós completamos no dia 1º de setembro, 25 anos de ocupação e mais um período de concentração. Então o nosso povo está cansado, é um povo que precisa de solução urgente, e acredito que 25 anos seja tempo suficiente para resolver essa situação”, comentou o coordenador da Escola do Campo Cândida Oliveira Luz, Rene Rigon.
Após algum tempo, em 2005, às famílias se dividiram nos lotes e aos poucos conseguiram melhorar as condições de vida nas moradias, na produção de alimentos saudáveis, criação de animais, plantio de frutas, cultivo de hortas, entre tantos outros fatores da vida.
A produção leiteira se tornou um meio de produção muito forte entre as famílias do acampamento, e durante muito tempo, quando a ordenha era manual, o leite era recolhido e armazenado em um resfriador coletivo.
Entre 2012 e 2013 as famílias conseguiram acesso ao Programa “Luz para Todos”, o que dava acesso a energia elétrica para todos os/as moradores/as no acampamento, e foi a partir daí que as famílias conseguiram aumentar a produção de leite, garantindo a valorização do seu produto, adquirindo utensílios para suas casas e melhorando a qualidade de vida de todos.
Escola do Campo Cândida Oliveira Luz
O acampamento se tornou referência na área da educação, a Escola do Campo Cândida Oliveira Luz foi finalista no 6º Prêmio Territórios Tomie Ohtake Escolas Premiadas, em setembro de 2022. Na época, a escola ficou entre os dez melhores projetos de inovações pedagógicas em nível de Brasil, sendo que o projeto abrangeu diversas escolas no país.
“Nós fomos reconhecidos entre os dez projetos pedagógicos de valorização do território a nível de Brasil, e este ano na avaliação de fluência e leitura, que é a avaliação dos segundos anos, na primeira avaliação nós tivemos uma das melhores notas do Estado do Paraná (9.1), e a segunda avaliação nós atingimos 9.5, sendo super destaque na educação”, comentou René Rigon, coordenador da educação no acampamento.
No ano em que comemora-se 25 anos de luta, a escola também celebra a educação das crianças Sem Terrinhas acampadas. Rene, que ainda em 1998 assumiu a coordenação da educação, era magistrado e começou a dar aulas na escola do acampamento, com o passar do tempo também assumiu aulas no PSS e prestou concurso público, hoje é professor concursado. “Antes de mais nada, sou Sem Terra, participei lá em 1998 da ocupação e de todos os processos que o acampamento passou”, comentou.
Prato típico da comunidade: Galinha no tacho
“Esse prato surgiu desde o começo da nossa ocupação aqui no porto Barreiro, como uma forma de fazer alguns momentos de confraternização coletiva. Cada um levava um pedaço de frango caipira, um pouquinho de arroz e se juntava ali e fazia esse momento de confraternização coletiva”, contou Rene, que além de coordenar a escola, é agricultor e sempre contribui na preparação do prato.
Hoje típico em todos os eventos da comunidade, a preparação da carne de frango caipira com arroz feita no tacho ocorre desde o início do acampamento. O agricultor ainda conta, que “ele se torna bem gostoso pela forma de preparo, todo mundo quer chegar na rapa do tacho, porque aquele queimadinho do fundo do tacho é muito delicioso!”
São 25 anos de história, de tantos desafios, mas também de muitas conquistas. Hoje a comunidade já consolidada aguarda pela efetivação do assentamento. A área em disputa já foi ofertada ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA-PR) para compra e destinação à Reforma Agrária. No entanto, o processo segue tramitando e as famílias aguardam ansiosas para se tornaram enfim assentadas.
*Editado por Solange Engelmann