Agroecologia

20ª Jornada de Agroecologia ocorre em novembro e promete ser histórica 

Criado em 2002, um dos maiores eventos brasileiros dedicados ao tema será em Curitiba, de 22 a 26 de novembro
Ato de partilha de alimentos durante a 19ª edição da Jornada, em 2022. Foto: Bernardo Vaz

Por Ednubia Ghisi, do Setor de Comunicação de Cultura do MST-PR 
Da Página do MST

Jornada de Agroecologia chegará a sua 20ª edição entre 22 a 26 de novembro, e promete ser histórica. Curitiba (PR) será novamente a anfitriã deste que é um dos maiores eventos brasileiros dedicados à temática. Pelo segundo ano consecutivo, a Jornada será no campus Rebouças da Universidade Federal do Paraná (UFPR), no bairro Rebouças – ao lado do shopping Estação.  

Criado em 2002, o evento já passou por diversas regiões do Paraná e chega pela 4ª vez à capital do estado. A edição de 2019 recebeu mais de 20 mil pessoas, e a expectativa para este ano é de ser ainda maior. A programação garante quatro dias intensos de atividade para todas as idades: feira de alimentos agroecológicos e artesanatos, shows musicais e apresentações culturais nacionais e regionais, seminários e oficinas, além de uma diversidade de espaços de visitação. 

65 expositores/as participaram da feira de 2019. Foto: Juliana Barbosa / MST-PR 

A ação é realizada de forma conjunta por cerca de 60 organizações, movimentos sociais e populares, coletivos e instituições de ensino – e a cada edição, esta grande rede de campo e cidade em prol da agroecologia se amplia e se fortalece.

Entre os objetivos centrais está mostrar ao grande público urbano os frutos da agroecologia e a sua viabilidade como modo de produção de alimentos e de vida saudável. A jornada também possibilita o intercâmbio de camponeses/as, povos originários e tradicionais, pesquisadores/as, estudantes e militantes dedicados às diversas lutas relacionadas.  

Junto ao marco da 20ª edição, o evento deste ano vem carregado de simbolismo por ser o primeiro após pelo menos 6 anos de retrocesso em fatores cruciais para o desenvolvimento da agroecologia. Os governos Temer e Bolsonaro ficaram marcados pelo desmonte de políticas ambientais, aumento da violência no campo contra povos originários, tradicionais e camponeses, aumento da fome, do desmatamento e do uso de agrotóxicos.  

Para a advogada Tchenna Maso, coordenadora do programa Iguaçu da Terra de Direitos, organização que integra a coordenação da Jornada desde 2002, a edição deste ano será “um momento de esperança e de celebração”. Apesar de ainda em ritmo lento e sem o orçamento necessário liberado por parte do governo federal, o cenário é promissor: “Agora, com o novo governo federal, há uma retomada de todas as políticas públicas paralisadas, num cenário bastante interessante de revitalizar essas discussões”, completa.  

Agroecologia volta a ter espaço em políticas públicas 

As políticas públicas a que a advogada se refere são as construídas ainda nos primeiros governos de Luiz Inácio Lula da Silva. Entre elas estão a política nacional de Orgânicos, os Programas de Aquisição de Alimentos (PAA) e da Alimentação Escolar (PNAE), projetos de Bancos de Sementes. 

Camponês Celson Chagas em sua plantação orgânica de tomates no assentamento Contestado, Lapa/PR. Ele integra a cooperativa Terra Livre, que entrega mais de 20 toneladas de alimentos por semana a escolas de Curitiba e Região via PNAE. Foto: Leonardo Henrique / MST-PR.
Vanessa Padilha é moradora do assentamento Contestado e integrante da coordenação da Cooperativa Terra Livre, e mostra alguns dos produtos beneficiados entregues às escolas públicas. Foto: Leonardo Henrique / MST-PR

Neste terceiro mandato do governo Lula, Maso frisa como avanços a retomada do Conselho Nacional da Política de Orgânicos e Agroecológicos, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) fornecendo sementes e privilegiando a compra de produção agroecológica, uma nova estrutura do MDA em discussão de uma política de uso e conservação da agrobiodiversidade, e a criação do projeto de Quintais Produtivos voltado especialmente para as mulheres. 

“A Jornada de Agroecologia culmina, neste momento, para recolocar a pauta das políticas públicas e voltar a construir com um governo que está aberto para isso”, enfatiza a advogada da Terra de Direitos.   

“Agroecologia, na essência, é vida”

Diante do cenário de agravamento da crise climática e das pioras nas condições de vida da população em todo o mundo, com aumento da fome e dos desastres naturais, a agroecologia tem sido projetada como garantia de presente e de futuro do planeta. 

“A gente não pode ter mais dúvida, as ideias centrais da agroecologia são científicas e em defesa da vida”, garante Roberto Baggio, membro da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e um dos integrantes do grupo que iniciou a construção das Jornadas no Paraná. “Agroecologia, na essência, é vida”, resume. 

Na avaliação do dirigente do MST, a superação do agronegócio está entre as mudanças estruturais necessárias para o próximo tempo histórico, para frear a destruição da biodiversidade, dos bens comuns e da própria vida humana. 

O acampamento Maria Rosa do Contestado, de Castro, tem certificação 100% agroecológica. Foto: Joka Madruga 

As três tarefas centrais para o movimento agroecológico, segundo Baggio, são a ampliação da produção de alimentos saudáveis, com diversidade e fartura para superação da fome; o cuidado com a natureza e a biodiversidade; e a disseminação da agroecologia para a sociedade em geral. 

Show, feira e formação

A diversidade da cultura popular brasileira e paranaense é presença confirmada na programação da 20ª Jornada. Como já é tradição, o palco do evento vai receber shows e apresentações artísticas, com muita música, teatro e dança. 

A grande Feira da Agrobiodiversidade estará aberta ao público ao longo de todo o evento. A estimativa é reunir cerca de 60 feirantes, vindos de todas as regiões do Paraná, e também de outros estados, com alimentos saudáveis e artesanatos. 

Oficina de Confecção de iscas para abelhas e extrato de própolis, durante a 19ª edição. Foto: Leandro Taques

O colorido e a qualidade da produção virá de assentamentos e acampamentos do MST, de povos indígenas, de comunidades tradicionais e de coletivos da Economia Solidária. Na edição do ano passado, mais de 30 toneladas de alimentos in natura e industrializados foram comercializadas na feira. 

Registro do mutirão de plantio de alimentos na comunidade Padre Roque Zimmermann, em Castro, que farão parte da partilha marcada para ocorrer durante a Jornada. Foto: Wellington Lenon / MST-PR 

No espaço Culinária da Terra, pratos típicos do sul do país para todos os gostos estarão à venda a preços populares. Para quem quer aprender mais sobre agroecologia, serão oferecidas dezenas de seminários, oficinas práticas e conferências. Toda a programação é gratuita. 

Também haverá um grande ato de solidariedade com partilha de alimentos para famílias moradoras de comunidades de ocupação de Curitiba e região metropolitana. A diversidade de alimentos virá de assentamentos e acampamentos da Reforma Agrária, parte produzida a partir de mutirões de plantio em hortas comunitárias de espaços da reforma agrária. Na edição do ano passado, 20 toneladas de alimentos foram partilhados. 

*Editado por Fernanda Alcântara