Produção
Grupo Gestor do arroz agroecológico estima produtividade de 10 ton/ha na safra 2023/2024
Por Katia Marko
Do Brasil de Fato
Organizado pelo Grupo Gestor do Arroz Agroecológico, o Dia de Campo reuniu agricultores de diversos assentamentos e produtor de município vizinho, técnicos, pesquisadores, professores e estudantes na última sexta-feira (15).
Após dias de intensas chuvas, o sol iluminou a terra. A lavoura ainda alagada, não impediu que Antônio Alfredo Schefer, Tonio, apresentasse a sua experiência com o manejo do trevo persa, semeado com drone.
Criado em 1995, o Assentamento Lagoa do Junco, em Tapes (RS), tem 30 famílias assentadas numa área de 790 hectares. A área cultivada por Tonio com arroz agroecológico é de 14 hectares, onde estima colher 10 toneladas de arroz agroecológico por hectare.
O objetivo desse dia de campo, nome dado aos momentos de estudo e trocas de experiência, buscou apresentar possibilidades de aumento da produtividade do arroz, com plantas de cobertura e bioinsumos. Na pauta, o manejo de pós-colheita, com incorporação de resteva e drenagem, plantio de trevo persa com drone, manejo de adubação orgânica; Manejo de pré-plantio, com adubação orgânica, manejo do trevo persa, irrigação da lavoura, preparo final do solo; resultado esperado.
O planejamento e o trabalho foram coletivo, com envolvimento da família, a esposa de Tonio, Dioneia Soares Ribeiro, e seus sogros Alcinda Soares Ribeiro e Orestes da Veiga Ribeiro.
Celso Alves da Silva, da coordenação do Grupo Gestor do Arroz Agroecológico, explicou que a experiência apresentada é fruto de um esforço do grupo gestor dos últimos anos, buscando tecnologias e conhecimentos para avançar na produtividade, na qualidade e na condução das lavouras sob o manejo orgânico e agroecológico, onde existe um respeito à natureza e aos princípios para produzir um alimento saudável.
Do convencional ao orgânico, um caminho de desafios
“Já faz 24 anos que o assentamento planta arroz. Iniciou convencional lá em 1997/98. E a partir de 1999, foi tomada a decisão de cultivar 10 hectares com manejo agroecológico, sob comando do assentamento. Nesses anos foram enfrentados muitos desafios, com acertos e erros, mas percebemos que temos muito mais a aprender e o grupo gestor está buscando essas tecnologias e conhecimentos para aportar aos nossos sistemas”, destacou Celso.
Ao dar as boas-vindas, Alcinda Soares Ribeiro, a Preta, ressaltou a importância do incentivo de João Batista Volkman, produtor de arroz biodinâmico, para o início da lavoura de arroz orgânico. Já Orestes da Veiga Ribeiro resgatou a história da plantação e das tentativas feitas desde 1999. “Nesse projeto do Antônio estamos aumentando nossa capacidade produtiva, pretendemos chegar a 10 toneladas por hectare”, estimou.
Antônio Alfredo Schefer, o Tonio, relembrou que teve problemas com safras passadas que precisou entregar toda a produção para vender como arroz convencional, e desde então vem estudando para garantir a produção orgânica. Após ficar 11 anos fora do assentamento, com as terras sendo cultivadas pelos vizinhos, no ano passado conseguiu colher 7 toneladas por hectare, e esse ano a sua meta é chegar nas 10 toneladas, se a natureza deixar.
“Tratei a terra com 3 mil kilos de calcáreo e 2 toneladas de cama de aviário e semeou o trevo persa com o drone.” Tonhão explicou o processo, segundo ele, bastante complexo. “Se tu calibrar o drone pra mais de 7kg de sementes por hectare, se ele largar mais ou menos, o drone para. E tu não pode enterrar demais, não pode ter muita palha, o cara que colocar uma grade no trator pra enterrar, botou fora o serviço. Pelo benefício que o trevo traz, não considero a semente cara.”
Possibilidades e desafios da produção orgânica
Após Tonio mostrar a incorporação do trevo na terra com o trator, a conversa passou pro galpão da casa da família. Uma grande roda se formou onde se colocou os detalhes da produção, dúvidas e as expectativas com o processo.
João Batista Volkman destacou a alegria de ver a continuidade da produção agroecológica que ele deu um impulso para começar a ocorrer. Engenheiro agrônomo, formado pela Ufrgs, ele foi pioneiro na produção biodinâmica no sul do país. Vizinho do assentamento, sua Fazenda Capão Alto das Criúvas, fica em Sentinela do Sul. Ele também é sócio fundador da Associação de Agricultura Biodinâmica do Sul – ABDSul. Administra a propriedade da família desde 1983, onde produz arroz, milho, mandioca, feijão, hortaliças e cria gado de forma biodinâmica.
Edivane Portela, do Núcleo de Assistência Técnica e Extensão Rural /Irga, Viamão, parceiro na busca de respostas para enfrentar as dificuldades no plantio, destaca que o mais importante quanto à germinação ou não do trevo persa é o quanto ele entrou em contato com o solo. “Independente dele estar preparado ou não, onde passa o pneu do trator e a terra fica compactada é onde nasce melhor o trevo. Isso é um indicativo de que ele responde bem ao ser bem apertado ao solo pra conseguir germinar e se desenvolver.”
Junto ao Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), e com auxílio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e do Instituto Federal Farroupilha (IFRS) de Viamão como entidades convidadas, Portela vem desde 2020 desenvolvendo o Programa de Formação e Pesquisa de Produção de Arroz em Sistemas de Base Ecológica (Pepabe) com o grupo gestor e os assentados. O experimento tem três unidades: Nova Santa Rita, Eldorado do Sul e Viamão.
A primeira fase deste experimento iniciou em abril de 2020. O objetivo do projeto é conhecer e qualificar os sistemas do arroz orgânico e suas técnicas de manejo, atualmente utilizadas na produção, a fim de obter melhores resultados de viabilidade produtiva a curto prazo, além de validar e difundir as tecnologias utilizadas.
No estado gaúcho, existe um total de 5 mil hectares de área que cultiva o arroz em sistemas de base ecológica. Destas, em torno de 4 mil hectares encontram-se em áreas de assentamentos da Reforma Agrária.
Pesquisa de campo e experimentação são fundamentais
O técnico Ricardo Dil, do Escritório Municipal Emater/Ascar, Viamão, lembrou a importância de entender o ciclo do nitrogênio na terra. “A nossa busca é longa, desde a década de 1990, quando o Volkman começou a incentivar o cultivo orgânico, e não podemos nos perder dos princípios da agroecologia. É muito fácil nos agarrar em ferramentas e nos afundar. Precisamos sempre lembrar da diversidade, da biodiversidade. Adubação verde é bom, mas seria melhor se fosse um mix. Estamos num bom caminho, pois estamos entendendo melhor o que estamos fazendo, com essa pesquisa no campo”, destacou.
Segundo ele, é fundamental “o trabalho de pesquisa, experimentação, conhecer melhor o que a gente faz, por isso é importante as empresas estar aqui também, porque se a galinha morrer ele morre junto, numa relação mais de parceria do que de exploração”.
“Acredito que estamos no caminho porque buscamos colaborar mais e explorar menos. Estamos investindo tempo em entender melhor o que a gente faz. Temos divergências e está tudo certo, em cada lugar vai funcionar de um jeito. Não podemos achar que uma ferramenta será estratégia para todo mundo. Não podemos nos apegar a técnicas específicas. Precisamos cada vez mais fortalecer os laços de confiança entre os parceiros”, ressaltou Ricardo.
Grupo gestor propõe novos passos
Celso finalizou salientando que foi um dia muito importante pela participação, intercâmbio, formação, troca de experiência. “Estamos convictos que cada vez mais devemos buscar ter domínio dos processos na mão de quem está diretamente envolvido. Precisamos dominar o conhecimento, as sementes, ter gestão e planejamento. Olha o planejamento que precisa ter para plantar um trevo. E isso é fruto do trabalho dos últimos 3 anos com o Programa de Formação e Pesquisa de Produção de Arroz em Sistemas de Base Ecológica (Pepabe)”, destacou.
Também informou que já tem agendada uma reunião no dia 22 de setembro do grupo gestor com parceiros para construir um projeto. “Produzimos excelentes resultados até aqui com as cinco unidades de observação, conquistamos a unidade na Estação do Irga em Camaquã. Agora queremos construir um projeto baseado nos eixos de produtividade, sementes próprias, novas tecnologias e bioinsumos, formação e capacitação.”
Edição: Marcelo Ferreira/Brasil de Fato