Inauguração

Casa de Sementes na ELAA (PR) resgata importância da conservação das sementes crioulas

A casa foi construída com técnicas de bioconstrução e com trabalho em mutirão, na Escola Latina Americana de Agroecologia, no Paraná
A casa (ao fundo da imagem), foi construída com técnica de bioconstrução. Foto: Leandro Taques

Por Antônio Kanova/Setor de Comunicação e Cultura do MST no PR
Da Página do MST

O lema “as sementes são patrimônio dos povos, à serviço da humanidade” norteou a inauguração da Casa de Sementes da Escola Latina Americana de Agroecologia (ELAA). O evento ocorreu nesta sexta-feira (22), na sede do Assentamento Contestado, na Lapa (PR), onde está localizada a Escola. Mais de 300 pessoas participaram da atividade. 

A casa de sementes faz parte de um conjunto de ações em torno do marco dos 18 anos da Escola na promoção da agroecologia, sendo um espaço de articulação, troca de experiências agroecológicas e no cuidado com a semente crioula. Neste período inicial, a casa conta com mais de 40 kg de sementes de 30 variedades diversas, entre grãos, olericulturas e frutíferas que poderão ser partilhadas com agricultores. O objetivo é ampliar para centenas de tipos de sementes. 

Estiveram presentes dezenas de guardiões e guardiãs de sementes, povos indígenas, quilombolas, sindicalistas, professores, pesquisadores e parlamentares. Foto: Fernan Silva/BDF-PR  

Bruna Zimpel, da direção Nacional do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) afirmou que o camponês sabe zelar pelo cuidado e carinho ao depositar cada semente na terra. “Ao nascer uma planta vemos uma vida nascer, germinar. Isso mostra a relação que o camponês e a camponesa têm com a terra, com a água e as plantas. Zimpel, continua ainda relembrando que “a semente é a base estrutural do nosso projeto de vida e de sociedade”.

O integrante da coordenação da ELAA, Nei Orzekovski, enfatizou o significado ancestral das sementes para o povo camponês, muitas vezes cultivando as variedades por gerações: “Para um agricultor, perder a semente é perder um pedaço da vida, por isso a importância de preservar e cuidar”. 

Atualmente existem cinco casas de sementes no Paraná que realizam a conservação e o resgate da história das sementes crioulas. Renato Kovalski da organização Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA) e da Rede Sementes da Agroecologia (ReSA), relembrou que “o trabalho de resgate das sementes não é apenas ter milho e um feijão crioulo, mas resgatar no milho e no feijão a história de cada família camponesa”, concluiu.

A conquista da Casa de Semente vem sendo semeada e cultivada ao longo dos últimos anos e nesse momento foi possível a partir da articulação entre a ELAA, Coletivo Triunfo, AS-PTA e pela ReSA. Somaram-se como parceiros para a execução do projeto o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná (CAU), através de um edital de fomento de Assistência Técnica de Habitação de Interesse Social (ATHIS) e do Ministério Público do Trabalho no Paraná (MPT-PR), pelo fomento do Projeto Emergencial de Conservação e Multiplicação da Agrobiodiversidade no Paraná (PECMAP). 

Fotos: Leandro Taques

Margaret Matos de Carvalho, procuradora do MPT-PR, afirmou que a agroecologia sem a produção de sementes, que não sejam transgênicas e contaminadas por agrotóxicos ou comercializadas pelas empresas que dominam esse comércio, se torna limitada. “É preciso pensar em todas as etapas. Desde o início, com as sementes, a produção de mudas, a distribuição e o incentivo à continuidade da produção sem veneno. E que seja amplamente disseminado no país todo”. 

A estrutura da casa foi construída através de mutirões de construção de canteiros pedagógicos por camponeses do MST, assentados e acampados da Brigada Cacique Guairacá, da região centro-sul, e da Brigada Emiliano Zapata, da região sul do estado. Os/as trabalhadores/as da ELAA e os/as educandos/as do curso Tecnólogo em Agroecologia da ELAA também se somaram aos trabalhos. O processo de construção utilizou a técnica do hiperabobe, técnica de bioconstrução que fez o resgate de técnicas construtivas dos camponeses ancestrais, com utilização dos materiais próprios do território como terra, argila, madeiras e outros.

Foto: Leandro Taques

Com uma estrutura de cerca de 50 metros², o funcionamento da Casa de Sementes atenderá aos assentados e pequenos agricultores da região, sendo um dos principais locais de zeladoria de sementes. 

Estiveram presentes diversas lideranças das entidades envolvidas no projeto, a superintendente do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Leila Klenk, o deputado federal Tadeu Veneri, deputado estadual Professor Lemos; representantes dos mandatos parlamentares da deputada estadual Luciana Rafagnin, deputado Renato Freitas, ambos pelo PT; deputado estadual Goura pelo PDT. Além de representantes de povos indígenas, do Quilombo Invernada Paiol de Telha, CUT, SENGE, Sindipetro, UFPR, IDR – PR, Paraná Mais Orgânico, ABAI, IFPR, Terra de Direitos, Observatório Agrotóxicos, LAMA-UEPG. 

Na ocasião da inauguração, a ELAA também recebeu uma menção honrosa da Assembleia Legislativa do Paraná, proposta pelo deputado Professor Lemos, entregue à coordenação da escola.

A banda Filhos da Terra, da ABAI, se apresentou durante a inauguração. Fotos: Fernan Silva/BDF-PR 

*Editado por Solange Engelmann