Juventude em Luta
Disputas por espaço e voz na arte e cultura são destaque em Acampamento da Juventude
Por Yago Monteiro* e Júlia Martins**
Da Página do MST
Em luta por símbolos artísticos plurais, contra-hegemônicos e valorizando os diversos retratos da classe trabalhadora. Esses foram alguns dos pontos que marcaram a mesa de diálogos “Juventude, arte e cultura na batalha das ideias”, que abriu as atividades deste domingo (15) do Encontro Nacional da Juventude do Campo, das Águas e das Florestas. A atividade reúne movimentos sociais que integram a Via Campesina no Ginásio Nilson Nelson, em Brasília, DF.
O momento do terceiro dia provocou novos olhares e reflexões em centenas de jovens presentes. Foram apresentados pontos importantes sobre a cultura, como os símbolos, o direito do cidadão de acessar, produzir e consumir. Destacou-se também o papel dos registros para a elaboração de memórias e da organização em coletivos para mobilizar e fortalecer representações diversas, que constroem as identidades camponesas e fogem às visões do capitalismo.
Mateus Quevedo, jornalista e militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) garantiu que fazemos parte da construção de frentes que fazem a diferença e é importante observar os processos que nos atravessam. “A Via Campesina é o maior movimento camponês do planeta e temos que ser honrados e responsáveis de seguir construindo esse caminho. Sempre quando pensamos em cultura e arte, nós, como juventude, devemos estar em busca de compreender e transformar esse espírito do espaço e do tempo”, afirmou.
De acordo com Quevedo, vivemos em um mundo pós-pandêmico, no qual ocorrem mudanças estruturais na geopolítica e o Brasil se reposiciona com o esforço do governo Lula. “Mas, recentemente a extrema direita se recolocou com a opressão e massacre ao povo palestino. Temos que compreender tudo isso para entender as respostas, que são fruto da construção coletiva”, destacou.
Mateus também pontuou as potencialidades dos trabalhadores e trabalhadoras na produção de representações culturais potentes e diversificadas.
“A classe trabalhadora é tão poderosa porque a todo momento ressignifica a cultura popular e, assim, criam-se novos elementos. A nossa tarefa como juventude é entender isso e, com as expressões artísticas, ajudar a significar e colocar mais jovens na roda”, sinalizou o militante. Para Quevedo, a agricultura camponesa tem uma riqueza muito importante e a produção agroecológica tem que ser apresentada às pessoas. “Devemos mostrar que queremos alimentar o povo com alimentos saudáveis e que solução para os povos é a soberania alimentar”, acrescentou.
Rosa Amorim, deputada estadual (PT-PE) e militante do Levante Popular da Juventude, garantiu que a cultura é algo fundamental da nossa existência e resistência. “Nós podemos ser militantes, mas também ser artistas. Quando destroem a cultura de um país, o país e o governo não resistem. Assistimos isso de perto no governo Bolsonaro, no golpe de 1964 e durante a ditadura militar, quando muitos movimentos foram criados e resistiram para mostrar que estamos fortes e mantendo o povo pensando, criando saberes e uma nova perspectiva de país.
“Dividimos a cultura nas dimensões simbólica, cidadã e econômica. Como dizia Gilberto Gil, a cultura é parte da cesta básica e deve ser garantida como um direito, pois ela emprega 5% da mão de obra do nosso país, criando riquezas simbólicas e econômicas”, pontuou a deputada. Para Amorim, o governo Bolsonaro foi derrotado, mas não o fascismo. “Por isso temos a missão de conquistar mentes e corações para transformarmos o país por inteiro. Que utilizemos todas as ferramentas que temos às mãos para que libertemos o nosso povo e viva à juventude camponesa do Brasil”, completou.
Alternativas para combater a hegemonia cultural
Para Rafael Villas Bôas, professor da Universidade de Brasília, o capitalismo é um entrave para a participação popular na cultura, porém devemos elaborar mecanismos para mudar isso. “Na sociedade atual, regida pelo espetáculo, há três dimensões de como o poder quer que a classe trabalhadora se comporte: como espectadora do que acontece, vítima e consumidora”. Villas Bôas lembrou que após o golpe no Chile, em 1973, que implantou o neoliberalismo, o poder do capital é cada vez mais destrutivo. “Quando o capital não convence pelas ideias, quando elas estão muito progressistas, ele vem com a força, com o golpe e, assim, impera o poder das ideias e a indústria cultural”, explicou.
“Somos periferia do mundo, mas agora, com o governo Lula, essa periferia volta a ser dissonante e incomoda o bloco hegemônico. É possível que combatamos isso por meio das rachaduras dessa hegemonia. Devemos ensinar as pessoas a lutar por tudo que temos direito e não só a consumir, mas também a produzir. Se organizem em coletivos, registrem as experiências e sejam os intelectuais orgânicos do presente e do futuro”, concluiu.
*Comunicador Popular e militante do MST no RJ
** Comunicadora Popular e militante do MAM no PA
***Editado por Fernanda Alcântara