Escola Aguarda Obras

Escola Itinerante do campo aguarda há 8 anos a finalização de obras 

A comunidade escolar realizou uma mobilização em frente à prefeitura de Jacarezinho (PR) para cobrar a conclusão da construção.
Ato pelas escolas itinerantes. Foto: Acervo da escola.

Por Setor de Comunicação e Cultura e Setor de Educação do MST PR.

Nesta terça-feira (24), educadores, estudantes e famílias da Escola Itinerante Valmir Motta de Oliveira, localizada em Jacarezinho, norte do Paraná, realizaram ato pela educação do campo em frente à Prefeitura Municipal e no Núcleo Regional de Educação da cidade. 

Ato pelas escolas itinerantes. Fotos: Acervo da escola.


O ato foi realizado para reivindicar a volta das obras na escola que estão paradas há oito anos, e também trazer como forma de denúncia os ataques verbais que sofrem enquanto Núcleo Regional de Educação. A escola está localizada no acampamento Valmir Motta de Oliveira, bairro Ouro Grande, e atende os/as educandos/as do Assentamento Companheiro Keno, o qual contempla 63 famílias – situados na antiga Fazenda Cambará e do Acampamento Valmir Motta de Oliveira que está com aproximadamente 50 famílias – localizado na Antiga Fazenda Itapema, bem como atende alguns educandos de famílias das fazendas localizadas na região. A mesma atende educandos da Educação Infantil, 4 e 5 anos, Ensino Fundamental (Anos Iniciais e Finais) e Ensino Médio. 

A ação faz parte da Jornada Nacional “Sem Terrinha em luta: viva os 40 anos do MST!”, iniciada em todo o Brasil no dia 9 de outubro, como parte das mobilizações pelos direitos das crianças. 

Estiveram presentes durante o ato a vice-prefeita e secretária da educação Patrícia Martoni.“Essa escola é nossa prioridade e que haverá contrapartida do município em relação a obra”, afirmou Patrícia. Na Prefeitura, foram apresentadas as reivindicações e realizado os encaminhamentos, esclarecimentos e compromisso com a comunidade.

Durante o ato no Núcleo Regional de Educação (NRE), Ana Maria Molini, Chefe do NRE, falou que “aquela escola não é escola”, se referindo a Escola Itinerante Valmir Motta de Oliveira. Ao perceber que sua fala gerou questionamentos, Molini tentou se retratar, a comunidade tentou explicar toda a pauta e os questionamentos, porém não foram ouvidos.

Entre as várias frases que geraram questionamentos, uma delas foi “se vocês quiserem, eu mando um ônibus levar as crianças para a cidade”, afirmou Molini. Em resposta, a comunidade afirmou  que a escola no campo é um direito e que eles querem ser vistos e ter seus direitos garantidos como escola itinerante. 

Importante destacar que quando a escola sofreu danos no dia 07 de outubro em sua estrutura, ela não recebeu subsídio de sua mantenedora (Estado) e precisou ser reerguida pelas mãos da própria comunidade com apoio da prefeitura municipal. Os danos que a escola sofreu foi devido a forte chuva que chegou no Estado, derrubando telhas e destruindo parte da escola.

Escola com estrutura danificada. Foto: Acervo da escola.

Criação da Escola

 Escola Itinerante Valmir Motta de Oliveira. Foto: Acervo da escola.

A Escola Itinerante Valmir Motta de Oliveira foi criada há 15 anos,  no, com a ideia de suprir uma necessidade demandada pelas famílias que ali moravam.

Isso porque as famílias não desejavam que seus filhos continuassem a estudar nas escolas urbanas, uma vez que as crianças sofriam preconceitos e discriminações constantes pela condição de ser Sem Terra, assim como a falta de transporte adequado e seguro.

A partir dessa demanda, a comunidade se uniu para discutir quais seriam as possibilidades para a construção da escola, e com união e força de vontade do coletivo foi possível realizar esse sonho das famílias.

Desde outubro de 2008 a escola vem buscando desenvolver um trabalho educativo que atenda às necessidades destas famílias de acordo com os anseios e perspectivas das mesmas, articulada à concepção de educação do campo. 

A construção da escola municipal do campo no Assentamento foi protocolada no ano de 2012, com o início da obra em 2015. No ano seguinte, 2016, a obra teve uma parada retornando em 2017, paralisando novamente até 2018, neste ano os trabalhos se deram por um período bem curto em comparação aos outros e então teve suas atividades suspensas até fevereiro de 2020. 

Após a assinatura para uma nova empresa assumir as obras, elas retornaram, porém só por um período, ou seja, a escola está paralisada novamente por falta de repasses financeiros, e encontra-se em fase de acabamento. A previsão de término da obra inicialmente era para o ano de 2016, depois disso inúmeros prazos foram dados e até hoje a mesma encontra-se em fase de construção.

Escola ainda em construção. Foto: Acervo da escola.

Situação atual da escola

“A busca uma educação no campo, traz a educação para a comunidade, trabalhando coletivamente para a construção de uma educação que não seja fragmentada, que seja uma educação que parta da realidade da escola e da comunidade onde está inserida, a partir das matrizes formativas (Escola e Vida, Escola e Matriz Formativa  do Trabalho, Escola e Matriz Formativa  da Luta Social, Escola e Matriz Formativa da  Organização Coletiva, Escola e Matriz Formativa História e Escola e Matriz Formativa da Cultura), com educadores dispostos a buscar metodologias que seja de fato a vida dos trabalhadores que ali residem”, afirma Marinês Machado, educadora da Escola.

As escolas itinerantes são criadas em acampamentos da Reforma Agrária, para garantir o acesso à educação para as crianças e adolescentes que estão na luta pela terra. Elas garantem a função social da escola, no âmbito da intencionalidade pedagógica, no desenvolvimento humano e no acesso às letras. Se trata de estudar, trabalhar e viver coletivamente. É entender que a escola como um centro cultural da comunidade, lugar de encontro, da festividade, do conhecimento, e que qualifica a existência da vida comunitária e a resistência da luta pela terra. Hoje no Estado do Paraná são 9 escolas itinerantes em funcionamento, trazendo ensino e educação a estudantes Sem Terra.

*Editado por João Carlos