Literatura
Dia Nacional do Livro: confira 10 dicas do MST
Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST
A luta pela Reforma Agrária Popular não é apenas a luta pela terra, mas envolve uma série de outras lutas por uma vida digna. Dentre tantas frentes, o Movimento Sem Terra passa sempre a mensagem da importância da promoção da cultura da leitura na formação militante.
Reconhecendo a leitura como uma ferramenta essencial para o desenvolvimento intelectual e a compreensão da sociedade, o movimento incentiva os/as Sem Terra a abraçar a literatura como fundamental. Através da leitura, os militantes exploram novas perspectivas, aprofundam seu entendimento sobre a realidade social e aprendem a interpretar o mundo de maneira mais crítica e informada.
Esse princípio está presente na cartilha “O MST e o direito à literatura”, iniciativa que demanda perseverança, criatividade, iniciativa e muito trabalho dos Sem Terra para seguir o legado de Antonio Cândido que, na inauguração da Biblioteca da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), enfatizou que a literatura enriquece a humanidade, tornando as pessoas mais compreensivas e abertas ao mundo.
No Brasil, a cultura literária historicamente foi um privilégio das classes dominantes, tornando a leitura um hábito raro para muitos. No entanto, para o Movimento, a leitura proporciona acesso a um vasto conhecimento e é uma habilidade que pode ser adquirida com disciplina, planejamento e dedicação.
O desafio atual está na constante distração da era virtual, que dificulta a concentração na leitura. Por isso, o MST também tem como indicação ter um livro sempre à mão, seja em formato físico ou eletrônico, pois permite aproveitar momentos ociosos. Além disso, ler em grupo, em círculos de leitura, ou durante atividades coletivas, enriquece a experiência de leitura e promove discussões frutíferas.
Confira abaixo 10 livros presentes no “O MST e o direito à literatura” ou baixe o documento no final do texto!
1. Úrsula
Autora: Maria Firmina dos Reis
Primeira edição: 1859
Este é um romance especial e singular. Mais do que sua forma, o que precisa ser destacado é seu caráter inaugural. Trata-se do primeiro romance escrito por uma mulher negra, além de ser considerada a primeira obra literária abolicionista, antecedendo, inclusive Castro Alves. Seu enredo, que conta a história de amor de um casal branco, pode enganar os desavisados de início, mas logo se revelam fortes críticas sociais à escravidão, ao machismo, às injustiças sociais e à violência com que as relações se dão no Brasil.
2. Recordações do Escrivão Isaías Caminha
Autor: Lima Barreto
Primeira edição: 1909
Esse romance recoloca com vitalidade crítica o tema ainda atual do racismo no Brasil. Travando o
combate a esse tipo de ideologia de dominação por meio da análise madura de um escrivão sobre os incontáveis mecanismos cotidianos de controle social que impediram seu ingresso na universidade e nas destacadas atividades intelectuais, as memórias de Isaías estão marcadas pelo tom ácido da crítica sobre a demarcação social dos espaços de dominação, como nos regimes de apartheid, e pelo tom sincero no relato das dores físicas e psicológicas. Demonstra como o racismo está instalado nas instituições brasileiras, seja na família, na Igreja, na escola, nas Forças Armadas, no parlamento, na justiça, na burocracia estatal, nas empresas, e, especialmente na mídia.
3. Parque Industrial
Autora: Patrícia Galvão (Pagu)
Primeira edição: 1933
Este é o primeiro romance proletário brasileiro e traz, numa estrutura de painel, narrativas sobre gênero, sexo, política e sobre a vida cotidiana nos contextos fabril e da cidade, mais especificamente o bairro do Brás em São Paulo. O livro tem uma linguagem potente, influenciada pelo modernismo e é uma obra importante para refletir as profundas e complexas transformações sociais que o país vivia no período de industrialização marcada pelos anos 30.
4. Vidas Secas
Autor: Graciliano Ramos
Primeira edição: 1938
Conta a história de uma família retirante sertaneja do Nordeste brasileiro. Obra importante da segunda fase do Modernismo, Graciliano Ramos consegue através de sua linguagem simples e seca traduzir o cotidiano e a aridez do ambiente onde a história acontece. Versando sobre a seca e a fome, sobre fugas, mudanças e meninos, o livro é sobre nosso país e a desigualdade social. Venha conhecer a história de Fabiano, Sinhá Vitória e Baleia é, em parte, também a nossa história
de sanha, fome e resistência.
5. Quarto de Despejo
Autor: Carolina Maria de jesus
Primeira edição: 1960
Um diário cujo ritmo é ditado pela fome. Uma mulher negra e favelada, catadora de lixo em São Paulo, mãe solteira de três filhos. A partir de seus relatos (1955 e 1960) conhecemos a miséria e as favelas de nosso país; seu dia a dia, muitas vezes amarelado, porque, como explica Carolina de Jesus, “a fome é amarela e dói muito”. Junto da crueza e dureza desse livro, também está a poesia e a força, a esperança e a consciência, a dignidade e a luta da trabalhadora e do trabalhador brasileiro.
6. Mutirão em Novo Sol
Autores: Augusto Boal e Nelson Chavier
Primeira edição: 1961
Essa dramaturgia retrata uma revolta de lavradores. A peça foi inspirada em um caso real ocorrido no interior de São Paulo, e demarca um importante contexto de efervescência das lutas sociais da época, bem como a atuação potente do teatro político antes do golpe de 1964, trazendo com ousadia questões profundas da realidade do país e impulsionando processos de organização popular. Nela verás a resposta insurgente e necessária de um povo que, mesmo diante da violência, persiste na luta pela terra e pela vida.
7. Lavoura Arcaica
Autor: Raduan Nassar
Primeira Publicação: 1975
Romance marcado pelo lirismo e pela prosa lírica, em que se unem prosa e poesia, permeado pelo contexto de repressão dos anos. O livro narra a história do filho de uma família de trabalhadores rurais, apegados às tradições cristãs e que vivem sob forte autoridade do pai, o texto aborda de forma critica as bases estruturais sociais do país, como o patriarcalismo, as relações familiares e o machismo.
8. Um Defeito de Cor
Autora: Ana Maria Gonçalves
Primeira edição: 2006
Ficção baseada na vida de Luisa Mahin, ex-escrava mãe do poeta Luís Gama (1830-1882) que esteve à frente da revolta dos malês, na Bahia do século XIX. Fatos históricos estão imersos no cotidiano e na vida atribulada de Kehinde, uma africana idosa e cega que viaja para o Brasil em busca do filho perdido há décadas.
9. Vozes da Ficção
Organizadores: Claudia de A. Campos, Enid Y. Frederico, Walnice Galvão, Zenir C. Reis
Primeira edição: 2011
Esta coletânea de contos organizada e publicada pela Expressão Popular apresenta histórias em torno do mundo do trabalho. Versa histórias de personagens inseridas em dinâmicas atravessadas pela precarização, desemprego, desamparo e exploração. Os contos escolhidos para compor este livro retratam múltiplas faces da vida social brasileira através de grandes autores como Machado de Assis, Lima Barreto, Euclides da Cunha, entre outros.
10. Torto Arado
Autor: Itamar Vieira Junior
Primeira edição: 2019
Conta a história das irmãs Bibiana e Belonisia que moram com sua família em uma fazenda no interior da Bahia. Um acidente na infância, envolto de mistérios, transforma a vida e a relação das irmãs. Itamar com maestria narra, através de vozes femininas, uma rica tradição cultural do sertão brasileiro, suas crenças, religião e ancestralidade; Versa sobre o trabalho, a seca, a violência e os vestígios da escravidão. Várias camadas de um Brasil muito recorrente, mas também muito esquecido. Venha se encantar com essa história da luta pela terra em nosso país.
*Editado por Wesley Lima