Combate às violências
Camponesas cultivam afetos no Dia internacional de combate à violência contra as mulheres
Por Solange Engelmann
Da Página do MST
Para demarcar a passagem de mais um Dia internacional de combate à violência contra as mulheres, neste sábado (25), as mulheres Sem Terra realizam um conjunto de atividades de cuidados e afetos coletivos, organizando espaços de formação, encontros, escuta e compartilhamento em torno da luta e resistência na construção de relações livres de todas as formas de violências contra as mulheres e meninas, nos territórios de reforma agrária pelo país.
Lucinéia Freitas, que integra a coordenação nacional do setor de gênero do MST, explica que estão previstas um conjunto de ações nos acampamentos e assentamentos do Movimento voltadas para o debate sobre a construção de relações humanas emancipada e de como criar estratégias coletivas para enfrentar os diversos tipos de violências que atingem as camponesas.
“Então, o nosso foco de atuação nesse 25 vai ser com atividades desenvolvidas em várias perspectivas. Atividades com as mulheres na perspectiva da formação e do cuidado. E atividades mistas, com os homens também na perspectiva do debate, da formação, do estudo, da compreensão de como se desenvolvem as relações humanas nesse modo de produção capitalista, além de pensar as relações humanas para a superação deste modo de produção também”, afirma.
“Las Mariposas”
A data do 25 de novembro, que demarca o Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher foi criada em 1999, pela Assembleia Geral da Nações Unidas, em homenagem às “Mariposas”.
As lutadoras da República Dominicana, Patria, Minerva e Maria Teresa, conhecidas como “Las Mariposas”, que em português significaria “as borboletas” foram brutalmente assassinadas pelo ditador Rafael Leônidas Trujillo, no dia 25 de novembro de 1960.
As irmãs Maribal lutavam por liberdades democráticas e combatiam a ditadura. Seus corpos foram encontrados no fundo de um precipício e apresentavam sinais de tortura. O crime causou repercussão nacional e internacional, e comoção no país, além de contribuir para a queda do regime trujillista.
Enfrentamento às violências contra as mulheres no campo
A data é muito significativa para as mulheres Sem Terra e um marco importante para reafirmar as lutas e resistência no enfrentamento a todas as formas de violência contra as mulheres, praticadas todos os dias pelos sistema capitalista, que ampliação a exploração sobre os corpos femininos. O capitalismo também perpetua o racismo contra as mulheres negras, as mais atingidas pela pobreza no campo e na cidade.
Dados da Rede PENSSAN mostram que em 2022 havia mais de 33 milhões de pessoas passando fome no Brasil. Nesse contexto, entre todas as famílias que passam fome no Brasil, 39,5% são chefiadas por mulheres negras. E 34,3%, por homens negros. O que demonstra um recorte de raça e gênero na insegurança alimentar, entre novembro de 2021 e abril de 2022, como aponta o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (II Vigisan).
Ao mesmo tempo, as mulheres negras também são as maiores vítimas da violência doméstica, a violência patrimonial e a violência política, que vem crescendo entre parlamentares femininas e em cargos públicos.
“As mulheres Sem Terra também estão expostas a processos de violência. E isso demanda que a gente tenha uma atenção permanente e no enfrentamento a essas violências e na projeção dessas mulheres nos espaços político e na construção de autonomia política e econômica das mulheres. Assim, o 25 de novembro, é uma data importante não só para as mulheres do MST, mas para todo sujeito Sem Terra que se coloca na construção de outra sociedade necessária, que rompa com os processos de violência que se materializa na violência contra o meio ambiente, na violência contra os sujeitos”, pontua Lucinéia.
A violência também tem tirado a vida de várias mulheres Sem Terra. Levantamentos mostram que entre 2021 a 2023, o MST já perdeu mais de sete mulheres lutadoras nos territórios da reforma agrária, vítimas de feminicídios ou suicídios devido à violência doméstica, são elas: Neurice Torres, mais conhecida como dona Neura, militante e dirigente do MST em Goiás, Ana Leite, do RS; Edineia Ribeiro Santos e Grace Anne Peres de Oliveira, de MG; Marlene de Jesus Nunes, da BA; e Marleide Viera, do PE.
Somente no primeiro 1º semestre deste ano, o Brasil registrou 722 feminicídios, entre os meses de janeiro e junho de 2023, somando 2,6% a mais do que os crimes de mesma natureza contabilizados no primeiro semestre de 2022. Os dados são do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O levantamento anterior do 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023, com levantamento de 2022, também apontou para um aumento nos crimes de feminicídio no país em 2022.
As estatísticas comprovam que “o lugar mais perigoso para as mulheres é sua própria CASA”, denuncia Lucineia.
Em defesa da vida das mulheres Sem Terra
Como subsídio para os debates e processos de formação neste 25 de novembro, as camponesas receberam um conjunto de materiais de apoio: on-line, impressos, em áudio e vídeo. A data também dá continuidade há um trabalho desenvolvido no MST há algumas décadas em torno da igualdade de gênero e luta contras as violências, que se intensificou com a pandemia de Covid-19. Processo que resultou na realização da Assembleia Nacional do MST Basta de Feminicídos, em setembro deste ano, com a participação de mais de 300 trabalhadoras e trabalhadores Sem Terra de todo país, que pautou ações de enfrentamento às violências contra as mulheres e em defesa da vida nos territórios e na luta pela Reforma Agrária Popular.
Nesse contexto, atualmente as mulheres do MST estão envolvidas em um processo de escuta, acolhimento, trabalho de base e elaboração de materiais de orientações, campanhas e documentos, como foco no enfrentamento às violências contra às mulheres, como o “Protocolo de enfrentamento às violência e orientação das relações humanas no MST e nos territórios”.