Mulheres
Trabalhadoras rurais de diferentes países apostam em feminismo camponês contra crises do capitalismo
Por Lucas Estanislau
Do Brasil de Fato
Em um contexto global marcado pelos efeitos da pandemia da covid-19 e pelo aumento dos conflitos armados, as mulheres no campo sentiram o aumento da violência baseada em gênero. Por isso, centenas de trabalhadoras rurais se reuniram em Bogotá, capital da Colômbia, neste sábado (2), para realizar a 6ª edição da Assembleia Internacional de Mulheres da Via Campesina, plataforma criada em 1993 que reúne as principais organizações de luta no campo.
Os movimentos apontaram as dificuldades a esse grupo social causadas pela “violência contra nossos corpos, a violência política e a violência patrimonial”, que impede o acesso de mulheres a recursos naturais.
Segundo dados da ONU, cerca de 7 em cada 10 mulheres passou por casos de violência doméstica durante a pandemia da covid-19. Para a canadense Nettie Wiebe, professora da Universidade de Saskatchewan e trabalhadora rural, a mulher camponesa sofre de maneira mais acentuada com esse e outros tipos de agressões.
“A forma como a terra tradicionalmente foi possuída é muito patriarcal, então as mulheres que participam da maioria da produção nas áreas rurais enfrentam a violência da falta de recursos. Enquanto elas estão ocupadas em cultivar a terra e alimentar as famílias, elas também enfrentam muita violência de gênero”, afirma.
Wiebe explica que as campanhas das organizações presentes no evento busca “resolver esse problemas e fazer as pessoas entenderem que essas áreas devem ser seguras para as mulheres e elas devem ter acesso a recursos como terra, água e sementes”.
“No contexto global, o maior problema para as mulheres é o patriarcado. Todas as nossas sociedades, seja no Canadá ou em qualquer outro lugar, ainda são profundamente patriarcais”, diz.
Francisca Rodríguez, presidenta da Associação Nacional de Mulheres Rurais e Indígenas do Chile (ANAMURI), também denuncia o patriarcado como o mais grave elemento de opressão de trabalhadoras do campo e uma das principais estruturas a ser combatida.
“O patriarcado, que sustenta o capitalismo, fez a diferenciação entre nós, é uma prática que nos divide e nos invisibiliza. Essa é uma das mais importantes lutas: visibilizar o papel da mulher e estar nos espaços de tomadas de decisão”, disse.
A ativista também afirma que durante a pandemia do novo coronavírus “tudo recaía nos ombros das mulheres e sentíamos a violência com mais força, havia muita violência doméstica, mas também violências nas formas de nos relacionarmos e não podemos permitir isso”.
Unidade no campo
As representantes das distintas organizações presentes também destacam a necessidade de buscar unidade entre os mais variados setores para que o chamado “feminismo camponês” seja discutido e compreendido em outras áreas da sociedade.
Nury Martínez, presidenta da Fensuagro da Colômbia, propôs que os problemas do campo não podem ser resolvidos só com as mulheres, “por isso é importante a unidade entre nós e outros movimentos de outros setores da sociedade para poder avançar”.
“A crise humanitária aumentou com a pandemia e isso tem a ver com um sistema que está presente não só na América Latina, é também um problema das guerras no mundo e dos problemas econômicos”, disse.
Os movimentos ainda decidiram manifestar apoios globais como à causa Palestina e ampliar os mecanismos para a construção de economias feministas, que visam liberar trabalhadoras de situações de dependência.
Editado por Rodrigo Chagas e Maria Silva