Aromas de Março
Não é guerra. É genocídio!
“A noite da cidade é escura, exceto pelo brilho dos mísseis, silenciosa, exceto pelo som dos bombardeios, assustadora, exceto pela garantia das súplicas….”
Heba Abu Nada, poeta e romancista palestina
Assassinada pelos bombardeios em Gaza, em 20 de outubro de 2023
Dia 7 de dezembro completaram dois meses do genocídio israelense em Gaza.
Notem bem: não se trata de uma guerra, mas sim de genocídio, ou seja, do extermínio de toda a população da Faixa de Gaza.
Nesses 60 dias de bombardeios diários, mais de 16.200 palestinas e palestinos foram assassinados, dentre eles, mais de 7.000 crianças e 4.800 mulheres. Ou seja, 75% das vítimas são mulheres e crianças.
Uma criança é assassinada e duas feridas a cada 10 minutos em Gaza! Mais de 1,9 milhão de pessoas, ou seja, praticamente toda a população de Gaza, foi expulsa de suas casas e aldeias e tem limite de acesso às condições básicas de sobrevivência, como água e comida. Ou seja, quem sobrevive aos bombardeios, está exposto a morrer dessas diversas faltas, falta de moradia, falta de água e alimento, falta de atendimento médico e medicamentos.
Não é guerra. É genocídio! Mesmo a ONU, que nada tem feito para evitar o genocídio, já reconheceu nas palavras de Antônio Guterres, seu Secretário Geral: “Gaza se tornou um cemitério de mulheres e crianças”.
Mas devemos também lembrar que esse genocídio não começou no dia 7 de outubro, como a mídia burguesa quer que acreditemos. Começou há mais de 75 anos, com a expulsão e o assassinato de milhares de palestinas e palestinos para a formação do ilegítimo Estado de Israel em terras palestinas.
Assim, o processo de formação do Estado de Israel é o início do genocídio do povo palestino. Mas é também o início da resistência desse povo, que tem na luta pela terra e pela existência o foco principal da sua luta contra a colonização israelense.
As mulheres palestinas sempre tiveram um papel central nessa resistência heroica, atuando nas diversas frentes de batalha e com todas as armas que possuem: do fuzil à caneta.
Mulheres como Shadia Abu Ghazaleh, uma das primeiras mulheres palestinas a participar da resistência militar após a ocupação de 1967; Leila Khaled, membro da Frente Popular pela Libertação da Palestina, que foi a primeira mulher a sequestrar um avião, em 1969. Ou como Fadwa Tuqan, poetisa que, segundo palavras do Ministro da Defesa israelense, em 1967: “Cada um dos seus poemas faz dez guerrilheiros”. E Heba Abu Nada, assassinada com seus dois filhos pelos recentes bombardeios israelenses em Gaza. Pouco antes de ser morta, ela escreveu: “Se morrermos, saibam que estamos satisfeitos e firmes, e digam ao mundo, em nosso nome, que somos pessoas justas, do lado da verdade”.
São milhares de mulheres palestinas que resistem cotidianamente, de várias formas: escrevendo, poetizando, arremessando pedras contra tanques, participando de protestos e se recusando a deixar sua terra. Lutam pela defesa de sua identidade palestina, mantendo vivas as memórias do seu povo e passando-as adiante, denunciando a limpeza étnica e a colonização.
Que a luta contra a colonização e a memória preservada pelas mulheres palestinas sirvam de inspiração a todas as mulheres Sem Terra. Nossa luta se irmana, é a mesma luta pela terra, pela liberdade, pela vida. Não há como lutar pela libertação das mulheres, em qualquer parte do mundo, sem garantir a libertação das mulheres palestinas.
Por isso, são tão importantes as ações de solidariedade que o MST vem construindo, seja na organização e envio de alimentos, que produzidos nas nossas ações de enfrentamento aqui, alimentam a luta e a esperança na Palestina, seja na construção de mobilizações contra a invasão, no debate e na defesa deste território e de seu povo.
É urgente e necessário que hasteemos a bandeira Palestina! Em nossos acampamentos e assentamentos. Nas ruas. Nas escolas. Em nossas cooperativas e centros de formação. Afirmando nossa caminhada de mulheres Sem Terra, lado a lado com as mulheres palestinas, pelo cessar fogo imediato em Gaza, pelo fim da ocupação de Israel, pelo retorno às suas terras de todos refugiados e refugiadas palestinos espalhados pelo mundo, pela garantia da vida.
Palestina vive, resiste e será livre!
*Editado por Fernanda Alcântara