Direitos Humanos
20 anos da morte de Clóvis Moura: reflexões de vida e obra
Da Página do MST
Clóvis Steiger de Assis Moura nasceu em 1925, em Amarante, no agreste do Piauí. Cresceu na casa do avô que, segundo sua própria definição, era uma espécie de patriarca em declínio. Acabou migrando para o Rio Grande do Norte, onde estudou no colégio dos Maristas.
Em 1948, aos 23 anos, Clóvis Moura empreendeu uma longa pesquisa sobre a luta dos trabalhadores escravizados e a questão do negro. O trabalho intenso resultou na obra Rebeliões da Senzala- Quilombos Insurreições e Guerrilhas, concluído em 1952, mas que apenas foi lançado em 1959, pela Edições Zumbi.
Moura, na verdade, enfrentou uma verdadeira batalha para ver o livro pronto. Em março de 1949, no início de suas pesquisas, consultou seu companheiro de militância, o historiador e editor Caio Prado, sobre o tema que pretendia escrever.
Foi dissuadido da empreitada, devido a eventuais dificuldades logísticas e à pouca relevância do projeto. Caio Prado afirmou por carta que não pretendia desanimá-lo e o aconselhou a procurar assuntos de maior interesse do público geral, como a vida no sertão e as tradições locais.
Em 1952 Caio Prado devolveu os originais ao amigo, elogiando a dimensão da obra, mas recusando-se a publicá-la, por causa de questões comerciais e financeiras.
Por mais de 40 anos, Moura cobrou o lugar do negro na sociedade brasileira, com opiniões muito pessoais, muitas vezes não sendo bem recebido por algumas correntes do movimento negro. Dizia que, com a abolição, os negros saíram das fazendas, mas jamais conseguiram entrar nas fábricas.
Nos anos 40, já como jornalista e sociólogo, ingressou no Partido Comunista, militando na imprensa da Bahia e depois em São Paulo. Quando houve a divisão do Partido Comunista Brasileiro, Clóvis Moura foi um dos poucos intelectuais de peso a abandonar o PCB e compor o novo Partido Comunista do Brasil, colaborando com Pedro Pomar na elaboração desse novo projeto.
Em 1975, criou o Instituto Brasileiro de Estudos Africanistas e promoveu cursos, debates e outras atividades culturais com a participação dos militantes do movimento negro que começava a se organizar naquela época.
Comunista sem partido e abandonado por vários de seus companheiros, recusou-se a compactuar com a orgia neoliberal que se apossou do país e mesmo de amplos setores de nossa esquerda.
Intelectual, marxista e apaixonado pela vida, destacou-se pela retidão de seu caráter, perseverança e bom humor. Em seus últimos anos de vida, colaborou estreitamente com os movimentos, escrevendo ensaios para a Editora Expressão Popular.
Em 23 de dezembro de 2003, o movimento negro brasileiro contemporâneo perdeu um de seus mais importantes pensadores e o povo brasileiro perdeu um de seus melhores revolucionários. Clóvis Moura faleceu no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, aos 78 anos de idade.