Assentados do MST cobram melhorias nas estradas rurais em Sant’Ana do Livramento (RS)

Por Marcelo Ferreira e Fabiana Reinholz
Do Brasil de Fato

Má conservação, buracos, valas e barro em dias chuvosos são algumas das reclamações que as famílias do Assentamento Ibicuí e de outros assentamentos de Sant’Ana do Livramento (RS) têm sobre as estradas da cidade. Problema que atravessa diversas gestões municipais, conforme afirmam coordenadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Em reunião realizada na manha desta segunda-feira (8), após mais de 100 famílias terem ido até a prefeitura, um acordo foi firmado para que se resolva a questão.

O município de Sant’Ana do Livramento, localizado na Fronteira Oeste do estado, divisa com Uruguai, possui 29 assentamentos da reforma agrária. São cerca de mil famílias assentadas, que contam com uma produção diversa, como na agropecuária, com o gado de corte. Conforme expõe dirigente estadual do MST RS Vicente Willes, o problema nas estradas prejudica o escoamento de produção e também o descolamento das famílias.

Na mesma região está a Cooperativa Regional dos Assentados da Fronteira Oeste Ltda (Coperforte), que segundo o dirigente, é o maior produtor de leite em assentamento do Rio Grande do Sul. “Também trabalhamos bastante com produtos hortifrutis, uma produção de um milhão e meio de PAA – Programa de Aquisição de Alimentos, que vai para vários municípios, como Pelotas, Santa Maria, Porto Alegre e e também para entidades aqui de Sant’Ana do Livramento.”

Ele também chama atenção para a questão das escolas rurais do município. “Temos várias escolas rurais dentro do município, inclusive uma escola Antônio Conselheiro, que tem perto de 200 alunos, e que fica nessa região onde está essa maior precariedade nas estradas”, alerta.

Problema recorrente

De acordo com Vicente, a situação precária das estradas é recorrente e de longa data. “Há uma cultura no município que os governantes não têm muita prática de atender, essa questão da manutenção das estradas como um projeto de ajudar no desenvolvimento, de ajudar na questão social. Livramento é uma cidade mais de comércio e turismo, e essa questão das estradas rurais, passando por vários governos, inclusive de esquerda, sempre foi bem problemática”, relata.

O dirigente avalia que no último período dois fatores afetaram e prejudicaram ainda mais a situação: um político e outro climático. “Temos aqui a vitória de um governo de extrema-direita, uma prefeita do PL, que era
então delegada de polícia e que hoje está à frente do Executivo. E também as mudanças climáticas. Essa chuvarada que atingiu o estado também nos atingiu. Os níveis de chuva subiram muito em todos os meses do ano passado”, afirma.

Ele chama atenção para a situação do Assentamento Ibicuí, que fica a 35 km da cidade e que possui 69 famílias. “É um dos últimos assentamentos da reforma agrária que aconteceram e ainda tem bastante dificuldade na questão econômica. As famílias ainda dependem bastante do ônibus coletivo e de algumas políticas públicas para se manter. E, nesses últimos períodos, nós tivemos vários acordos, várias reuniões com o Executivo municipal, fechando várias propostas de fazer essas manutenção. Contudo elas acabaram não sendo cumpridas”, afirma.

Um dos coordenadores do Assentamento Ibicuí, Joraci dos Santos relata que a comunidade está há tempos na luta por estrada e por melhoria no assentamento. Assim como exposto por Vicente, ele reforça que independente da gestão governamental os problemas persistem. “A gente não tem mais como escoar produção, não tem mais como deslocar do assentamento, com essa estrada cheia de buracos e valetas. E a gente vem aqui, pede, faz manifesto, eles prometem e não cumprem”, reclama.

“Não sei o que eles têm contra nós, nós estamos abandonado lá, a gente vem fazendo pedido de socorro, porque esses dias uma criança se queimou lá, nem bombeiro não pôde entrar porque não tinha estrada, tinha chovido bastante, estava ruim lá”, complementa.

Reunião com o Executivo

Durante este domingo (7), as famílias assentadas fizeram uma assembleia com a direção do movimento e decidiram, por unanimemente, irem até a prefeitura cobrar providências. “A gente acabou mobilizando outros assentamentos que também sofrem do mesmo problema, talvez numa escala um pouco menor, mas também têm esse problema de estradas. E conseguimos mobilizar no dia de hoje em torno de umas 100, 120 famílias”, relata Vicente.

A mobilização surtiu efeito e um grupo foi recebido pelo prefeito em exercício, o vice-prefeito Evandro Gutebier (Republicanos), o secretário de Administração, Matheus Medina. “Conseguimos marcar uma agenda com eles, fizemos uma comissão de famílias e colocar a nossa problemática das estradas, a preocupação que as famílias estavam”, conta.

Joraci complementa que o movimento não sairia do encontro sem um encaminhamento para a situação. Após um breve momento de ânimos exaltados, segundo ele, ficou acordado que o Executivo enviaria uma patrola para fazer os reparos na estrada. “Além de que o Executivo enviaria um caminhão para levar pedra onde for necessário, e também uma outra máquina que está em outra parte do município, para fazer a estrada geral”, acrescenta Vicente.

Segundo foi relatado pelo Executivo municipal ao movimento, Sant’Ana do Livramento possui atualmente um parque de máquinas com três motoniveladoras e três tratores com lâmina, que o daria para fazer um serviço de melhoria. Contido possui somente um caminhão, o não daria conta de puxar pedra para onde está o assentamento.

“Ficou da gente entrar em contato com os outros poderes públicos, Incra, governo do estado, governo federal, deputados, pra gente achar um outro recurso e tentar, no mínimo, fazer a aquisição de mais um caminhão para ajudar nesse serviço, ou algum recurso para horas máquina para ajudar na manutenção”, expõe o Vicente.

Segundo o coordenador, “a prefeita não tá nem aí com os assentados e a zona rural para ela não existe”. Por isso ele celebra a resposta concreta de ajuda. “Acho que agora pode ser que vai andar, porque a gente produz leite, a gente cansou de perder de 500 litros de leite. Choveu, as estradas cheias de buraco, o caminhão não conseguiu entrar porque não tinha como cruzar. Foi perdido o leite, foi perdido as produções de batata, de mandioca que a gente produz”, conta.

Prefeita critica ação do MST

Em publicação nas redes sociais, a prefeita de Sant’Ana do Livramento, delegada Ana Tarouco (PL), criticou o ato dos assentados na prefeitura. “O movimento que não representa os interesses das pessoas trabalhadoras do campo, invade a prefeitura para fazer palanque eleitoral para uma meia dúzia de ‘bloqueiros’ que lá já estiveram e não mudaram em nada a realidade de seus ‘seguidores desinteressados’!”, escreveu.

A redação do Brasil de Fato RS procurou a prefeitura de Sant’Ana do Livramento e questionou sobre as soluções para o problemas das estradas rurais do município. Até o fechamento desta matéria, não houve retorno. O espaço segue aberto.

Edição: Katia Marko/ Brasil de Fato