Mecanização

Máquinas chinesas podem reduzir jornada tripla de trabalho das agricultoras no Nordeste

Equipamentos estão em fase de teste no RN e podem melhorar qualidade de vida no campo, sobretudo para as mulheres
Mulheres agricultoras pilotam as máquinas chinesas no Rio Grande do Norte. Foto: Afonso Bezerra
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Por Afonso Bezerra
Do Brasil de Fato | Recife (PE)

O início da operação das máquinas chinesas na região Nordeste pode impactar positivamente no trabalho das agricultoras. A avaliação é das próprias trabalhadoras, que esperam, com a chegada do maquinário, diminuir o tempo de trabalho e aumentar o rendimento da produção. 

“Infelizmente, as mulheres têm jornada tripla, né? Elas trabalham na roça, elas trabalham em casa e muitas vezes ainda tem que ir para a feira. Muitas vezes ainda estudam. E isso [as máquinas chinesas] vai otimizar o nosso tempo na roça porque a gente também precisa ir para feira, a gente também precisa vir para os encontros do movimento para mostrar a nossa produção e ainda precisamos de outra coisa que é a logística de mercado”. 

Essa é a avaliação de Antônia Diana da Silva, agricultora e moradora do Assentamento São Romão, na cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte.

“É um sonho também do agricultor e da agricultora familiar essa mecanização do campo. Enquanto eu limpo uma carreira com a enxada, eu vou limpar quatro com a máquina”, comemora a trabalhadora, mencionando o grande salto que os equipamentos podem proporcionar para o cultivo familiar e para a agroecologia. 

“Dá pra usar a máquina pra tudo. Dá sim pra usar essas máquinas na produção agroecológica, trazendo alimento de qualidade e sem agrotóxico para mesa do trabalhador e para mesa da população brasileira”.

Início da operação

Na última sexta-feira(02), iniciou-se a operação em solo brasileiro dos equipamentos fabricados por empresas chinesas, durante uma demonstração na cidade de Apodi (RN). O ato contou com a presença do ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira (PT), e da governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), além de lideranças sindicais e dos movimentos populares. 

A iniciativa faz parte de uma parceria entre o Brasil e China, costurada pelos movimentos populares e o Consórcio Nordeste. O acordo teve início em 2022, quando o Consórcio assinou um memorando de entendimento com o Instituto Internacional de Inovação de Equipamentos Agrícolas e Agricultura Inteligente da Universidade Agrícola da China, e a Associação de Fabricantes de Máquinas Agrícolas do país. Também foi assinado pela Associação Internacional para a Cooperação Popular (conhecida como Baobá). 

“Os companheiros da China têm um compromisso conosco: a partir das máquinas que nós acharmos que são importantes, eles ajudarão a implantar fábricas de máquinas para a agricultura familiar aqui no Nordeste”, apontou João Pedro Stédile, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

“Não tem política bem-sucedida sem participação dos movimentos sociais. O MST é quem sugeriu e ajudou a viabilizar essa parceria”, explicou o ministro Paulo Teixeira, durante coletiva de imprensa no dia do ato, em Apodi.

A professora Yang Minli, da Universidade de Agricultura da China, citou as similaridades entre as realidades do Brasil e da China e enalteceu a parceria entre os dois países. Ela foi uma das principais articuladoras nesse intercâmbio. 

“Tanto a China como o Brasil são grandes países agrícolas. Nos últimos anos, a nossa parceria em agronegócio vem crescendo e cada um se beneficia com essa transação comercial. Porém, devemos lembrar que a China, apesar de ser um grande país, tem uma agricultura pequena, tal como aqui. A nossa agricultura fica a cargo de pequenas famílias, como aqui no Nordeste.” 

Inicialmente, as máquinas vão passar por um período de teste, para avaliar o nível de adaptação dos equipamentos à realidade brasileira. Foram apresentados, no ato, uma colheitadeira, uma platandeira e um drone, utilizado para o fertilização do solo. 

“A ideia é justamente testar essas máquinas que vem da China no nosso solo, no nosso campo, para ver sua eficiência. Vamos analisar a quantidade de combustível que se consome, o desgaste das peças, a manutenção, ver o seu desempenho dentro do campo, seja na colheita do arroz, seja na questão do manejo da terra. A ideia desse campo de testagem é ver sua eficiência no campo para daí fazermos as sugestões possíveis de adaptação”, explicou Maria da Saúde, do setor de produção do MST, em Pernambuco. 

 


Técnicos chineses fazem demonstração das máquinas em Apodi-RN. Foto: Afonso Bezerra

Desenvolvimento do Nordeste

A expectativa, segundo João Pedro Stédile, é avançar na construção de unidades fabris nos estados nordestinos. Durante o discurso no ato político em Apodi, na última sexta-feira(02), Stédile criticou o mercado concentrado de máquinas no Brasil e demonstrou como esse cenário é um grande obstáculo para a agricultura familiar camponesa.

“Aqui no Brasil tem oito fábricas de trator. Na China tem oito mil. Aqui no Brasil não tem nenhuma fábrica de fertilizante orgânico. Na China tem mil e duzentas fábricas de fertilizantes orgânicos e faz o adubo com matéria orgânica, com o que sobra das famílias, dos restaurantes.”

Com isso, a meta é construir uma fábrica de colheitadeira de arroz no Maranhão, com a possibilidade de atender o Pará e o Tocantins; uma fábrica na região do Cariri cearense; outra no Rio Grande do Norte e uma fábrica de bioinsumos em Pernambuco. 

“Sem fábrica no Nordeste, nós não teremos mecanização. Nós queremos que essas fábricas venham para cá para o Nordeste, venham para o Rio Grande do Norte, para que nós possamos ampliar a oferta de mecanização com preço justo”, explicou Alexandre Lima, Secretário de Agricultura Familiar do Rio Grande do Norte 

Edição: Matheus Alves de Almeida