Libertação de Julian Assange
Manifestantes exigem a libertação de Julian Assange: ‘Não temos o direito de nos calar’
Por Maria Helena dos Santos
De Brasil de Fato
Intitulado como o “Dia D”, data em que se inicia mais um capítulo judicial no Reino Unido envolvendo o futuro do jornalista australiano Julian Assange, manifestantes se reuniram em Porto Alegre para pedir pela sua liberdade no final da tarde desta terça-feira (20).
O jornalista está encarcerado na penitenciária de segurança máxima de Belmarsh, em Londres, e tenta evitar uma extradição para os Estados Unidos, onde é acusado de 18 crimes ligados à divulgação de milhares de documentos secretos sobre as guerras no Afeganistão e no Iraque.
O grupo se concentrou na Esquina Democrática, em Porto Alegre, no mesmo momento em que o Tribunal Superior de Justiça de Londres analisava um novo recurso do australiano para evitar sua extradição aos Estados Unidos. Outros atos também foram convocados nas cidades de Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro e em outros países do mundo.
“Julian Assange é um editor e o principal defensor da liberdade de expressão no mundo. Ele ganhou prêmios por suas publicações e jornalismo, incluindo da Anistia Internacional, da Time Magazine e da welda, e pode pegar uma sentença de 175 anos. Se Julian ser extraditado, será aberto um precedente legal de que qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, poderá ser presa por publicar a verdade”, representando o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS, o Comitê Gaúcho do Fórum Nacional de Democratização da Comunicação e o Brasil de Fato RS, Katia Marko reforça que a prisão do jornalista configura um ataque à liberdade de imprensa.
Segundo a jornalista, se Assange teve a coragem de revelar crimes de guerra dos EUA, quem somos nós para nos calar. “Não podemos ter medo de defender a liberdade de Assange e defender o fim das guerras, como esta que assistimos na Palestina, com a morte de milhares de crianças e mulheres inocentes. Basta de crimes contra a humanidade.”
O jornalista começou a ganhar notoriedade mundial a partir de 2006 quando fundou o WikiLeaks, com documentos sobre execuções extrajudiciais no Quênia, o que lhe rendeu o prêmio Amnesty International Media Award, em 2009. Na plataforma, também publicou documentos sobre resíduos tóxicos na África.
Em 2010 publicou diversos documentos sigilosos do governo dos Estados Unidos. Entre eles estavam registros secretos do exército do país, inclusive sobre violações de direitos humanos nas guerras do Afeganistão, iniciada em 2001, e do Iraque, em 2003. O conteúdo atraiu o interesse de veículos da mídia tradicional de diversas nações e gerou grande repercussão mundial. Desde então, Assange se tornou alvo de investigações criminais no país.
Nos anos seguintes, a divulgação de outros documentos manteve o WikiLeaks em evidência. Em 2015, por exemplo, novas publicações revelaram que a então presidenta brasileira Dilma Rousseff e outros componentes de seu governo foram alvos de espionagem pelos Estados Unidos.
“Nós, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul, defendemos a liberdade de Julian Assange porque o ataque ao Assange é um ataque a todos os jornalistas no mundo. Se essa extradição for consumada, será um salvo-conduto à censura e à prisão de qualquer jornalista aqui em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, no Brasil ou no mundo. Nós repudiamos este ataque à liberdade de expressão que está sendo efetuado pelos Estados Unidos e exigimos a Liberdade de Julian Assange”, avalia a jornalista.
Já para o presidente da Associação José Martí-RS, Ricardo Haesbaert, o governo dos Estados Unidos quer usar o caso contra Julian Assange para mudar fundamentalmente a natureza da sociedade global. “De uma sociedade onde jornalistas e editores sejam capazes de informar o público e fazer os governos prestarem contas, para uma onde um editor pode ser condenado à prisão perpétua se publicar documentos verdadeiros sobre crimes de guerra”, afirma.
Ricardo reforça ainda que políticos de todo o espectro, todas as principais organizações de direitos humanos, de liberdade de expressão, de comunicação social já expressaram publicamente a sua oposição à extradição. “E, temos agora, recentemente, a decisão do Parlamento australiano, já que ele é um cidadão australiano, pedindo que Julian volte para a Austrália, seja extraditado para a Austrália e não para os Estados Unidos, para o imperialismo estadunidense, por isso nós estamos aqui”, comenta.
“A liberdade de Julian Assange é também a liberdade de expressão do nosso povo. Os Estados Unidos não têm o direito de intervir nos nossos povos, não têm direito de intervir nas nossas liberdades, nas liberdades democráticas, na nossa soberania. O que os Estados Unidos fazem no mundo inteiro é atacar justamente a soberania dos povos, os nossos direitos, os nossos bens naturais. É o que acontece em Cuba, é o que acontece na Palestina. É o que acontece no Brasil”, afirma Lucas Gertz Monteiro, representante do Levante Popular da Juventude.
O ato, organizado pela Associação José Marti, MST/RS, Levante Popular da Juventude e Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC RS), encerrou com uma performance da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz.
Julgamento de Julian Assange
O ativista australiano Julian Assange não compareceu nesta quarta-feira (21) ao segundo e último dia de audiências do julgamento em que um tribunal de Londres analisa seu recurso para evitar uma extradição aos Estados Unidos. Assange também não compareceu na terça-feira (20) ao primeiro dia.
Um dos advogados do fundador do WikiLeaks, Edward Fitzgerald disse que seu cliente “não se sente bem”, porém sem dar maiores detalhes ao anunciar a indisposição em declaração registrada pela AFP na abertura da audiência na Suprema Corte de Justiça do Reino Unido.
:: Com saúde debilitada, Assange não comparece a audiência sobre sua extradição ::
Dois juízes do tribunal vão analisar uma decisão do Judiciário britânico que, em junho do ano passado, negou a Assange o direito de recurso contra a extradição aos Estados Unidos.
A saúde do ativista, hoje com 52 anos, se tornou uma preocupação ainda maior nos últimos dias. Preso há quatro anos em um centro de segurança máxima na região de Londres, ele corre risco de morrer, segundo a família e os advogados.
“Sua saúde está piorando, fisicamente e mentalmente. Sua vida está em perigo a cada dia que ele permanece na prisão e, se for extraditado, ele morrerá”, disse a esposa do ativista, Stella Assange, em coletiva de imprensa na capital britânica na última semana.
*Editado por João Carlos