Ciência
Para Stedile, a organização popular aumenta o desenvolvimento no campo
Por Aldenor Ferreira,
Do BNC Amazônia
Em discurso proferido no Campus Lagoa do Sino da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) João Pedro Stedile, líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), indicou o caminho para o desenvolvimento do Brasil.
A fala de Stedile ocorreu por ocasião da colheita de sementes de soja não transgênicas, um projeto coordenado pelo Prof. Dr. Alberto Carmassi, da UFSCar, e cooperativas ligadas ao MST.
Diante de uma plateia qualificada, que reuniu camponeses, estudantes, professores, diretores de agências e autarquias, bem como o próprio Ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, Stedile declarou: “para que haja desenvolvimento é preciso haver a reunião de três fatores: ciência, povo organizado e Estado.
Ciência, povo organizado e Estado
Para Stedile, se estes três fatores não estiverem operando ao mesmo tempo, e em consonância, eles acabam se anulando. Não basta ter ciência avançada se o conhecimento por ela produzido não alcançar o povo.
Por outro lado, povo sem organização, na prática, acaba sem acesso às tecnologias que o desenvolvimento científico pode gerar. Também não tem acesso às políticas públicas fomentadas pelo Estado. Por fim, sem os investimentos públicos necessários não há desenvolvimento científico e tecnológico. Consequentemente, não se tem um Estado plenamente desenvolvido.
Portanto, é condição sine qua non para o desenvolvimento a sinergia entre ciência, povo organizado e Estado. No evento realizado na UFSCar, segundo Stedile, estavam presentes os três fatores. Lá, havia a Ciência, representada pela Universidade, o povo organizado, representado pelo MST, e o Estado, representado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA).
Chutando a escada
No livro “Chutando a Escada: a estratégia do desenvolvimento em perspectiva histórica” (2004),o professor Ha-Joon Chang da Universidade de Cambridge, ao analisar os Países Altamente Desenvolvidos (PADs), fala da importância das políticas industrial, comercial e tecnológica para a ascensão destes países, bem como da importância das instituições, dentre elas a democracia e o Estado, para esta ascensão.
Chang mostra, ainda, que os países em desenvolvimento têm sofrido pressões, por parte dos PADs e das políticas internacionais fomentadas e controladas pelo establishment, para que não adotem as boas práticas que outrora eles mesmos adotaram para promover seu desenvolvimento.
Os PADs tentam, a todo custo, esconder os segredos de seus respectivos sucessos. Noutras palavras, estão “chutando a escada” por onde um dia subiram, impedindo, desta forma, que outros países alcancem o pleno desenvolvimento.
Neste sentido, as boas práticas e boas políticas que os PADs adotaram e que lhes permitiram obter sua prosperidade econômica, social e política, perpassam, dentre outras coisas, pelo que João Pedro Stedile apontou, principalmente, no que tange ao papel fundamental do Estado no desenvolvimento científico e tecnológico.
Neste contexto, o caminho indicado por Stedile está em consonância com os fatos históricos, econômicos e políticos que marcaram o desenvolvimento dos países ricos. Afinal, é o Estado o principal indutor do desenvolvimento. Aqui, lá e acolá.
Concluo, afirmando que é uma falácia a ideia neoliberal de Estado mínimo. O livre mercado, na prática, nunca existiu ou existiu apenas nos discursos. O laissez-faire é discurso para os outros, nunca para as grandes economias capitalistas. Os países ricos chutaram e continuam chutando a escada por onde ascenderam.