Formação

Região Sul recebe quarta etapa da Brigada Nacional Oziel Alves, no Rio Grande do Sul

Entre os dias 11 e 22 de março, 40 militantes do MST participaram de formações política, teórica e prática, no Instituto de Educação Josué de Castro, em Viamão
Foto: Equipe de comunicação da Brigada Oziel Alves – Região Sul

Por Katia Marko – MST/RS
Da Página do MST

Com muita mística e animação aconteceu entre os dias 11 e 22 de março a 4° etapa da Brigada Nacional Oziel Alves – Região Sul, dessa vez realizada no Instituto de Educação Josué de Castro, em Viamão/RS.

Os 40 brigadistas do MST vindos dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul passaram duas semanas tendo formações política pedagógica, teórica e prática. Essa foi a última etapa a ser realizada nos territórios. A partir de agora, a turma retorna para a base para se preparar para o 7º Congresso Nacional do MST, que acontecerá em Brasília no mês de julho.

O território escolhido para esta etapa foi o Instituto de Educação Josué de Castro (IEJC), localizado desde 2021 no assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, no Rio Grande do Sul. O IEJC, antes muito conhecido pelo nome da entidade que o geria, Iterra, se deslocou para o Assentamento em 2020, depois de 25 anos em Veranópolis, num espaço cedido no Seminário São José pelos freis Capuchinhos. Já o Assentamento Filhos de Sepé é um território totalmente livre de agrotóxico, sendo o maior assentamento do MST, no estado do RS, com 376 famílias e referência na produção do arroz agroecológico.

Cada etapa da brigada apresentou um foco diferente

Segundo Vanessa Borges, da direção estadual do MST no Rio Grande do Sul e do Setor de Formação, a Brigada Oziel Alves trabalhou com vários tipos de conteúdo e metodologia. “Primeiro porque ela pretende ser um curso de formação, entendendo que a formação perpassa por vários elementos da formação humana mesmo.”

Foto: Equipe de comunicação da Brigada Oziel Alves – Região Sul

Vanessa destaca que a formação política não se dá somente na sala de aula, mas ela também na sala de aula. “Ela tem que aliar estudo, tem que aliar luta, aliar trabalho e tem que aliar vivência. Então, esses são elementos que estão construídos dentro do nosso plano e nosso projeto de formação. A Brigada Oziel Alves trouxe vários desses elementos.”

Ela lembra que a primeira etapa teve um foco principal, em militantes que, muitas vezes, tinham um contato menor com o MST. “Alguns já tinham mais contato com o Movimento, mas outros era o primeiro curso de formação em que estavam participando. Então a gente fez uma primeira etapa voltada especificamente para a gente tomar um banho de MST. E essa foi a síntese da etapa. Estudamos a história da luta pela terra nos estados onde a gente está, nos estados da região Sul. Como estávamos no Paraná, levamos militantes históricos do estado para contar sobre a luta que eles vivenciaram.”

Segundo a dirigente, foi uma etapa muito mística. “A mística foi muito presente em todas as atividades, em todos os temas, em todos os espaços que a gente construiu nessa etapa. As sínteses foram altamente místicas e altamente artísticas também, com muitas linguagens sendo utilizadas, e acho que esse foi um grande marco dessa nossa primeira etapa.”

Foto: Equipe de comunicação da Brigada Oziel Alves – Região Sul

A segunda etapa teve o foco na economia política, na história política do Brasil, na constituição política e econômica do Brasil. “Foi o momento de a gente estudar e entender de onde veio esse MST, qual é o contexto político e social da construção do nosso país, um país dependente, capitalista, que foi colonizado, que sofreu 300 anos de escravidão”, enfatiza Vanessa.

Já a terceira etapa trabalhou com a literatura, pois foi quando aconteceram as oficinas literárias. “Realizamos um sarau literário e conseguimos trazer para a etapa essa produção literária, não somente na oficina, mas ali os Núcleos de Bases, que passaram a produzir poemas para as místicas, poemas e textos para a própria jornada socialista. Então, a turma se apropriou da escrevivência, do festival literário como uma forma de expressar aquele conteúdo que estava sendo estudado. Nessa etapa, além disso, a gente discutiu gênero, sexualidade e classe”, afirma a dirigente.

Ainda sobre a terceira etapa, Vanessa destaca que ela teve três focos fundamentais. O primeiro foi o foco da cultura. “A gente discutiu a indústria cultural e o agronegócio, como ele hegemoniza essa indústria cultural e como ela interfere nos nossos territórios, nas nossas lutas. A gente fez o debate da agitação e propaganda, a cultura política dentro do MST e como essa cultura está no nosso dia a dia, na nossa forma de luta.”

Também foram realizadas oficinas de agitação e propaganda das mais variadas, que dialogavam com a comunicação e com as artes. “Foi uma etapa onde, de fato, esse tema da cultura veio bem intensamente, assim como o tema do internacionalismo. Debatemos o internacionalismo do MST, a geopolítica da América Latina para nos situarmos, enquanto camponeses, lutadores, militantes do MST, numa luta muito maior do que só a nossa. E situamos muito fortemente na América Latina, inclusive discutindo como que nós, dentro do movimento, atuamos e transformamos esse sentido do internacionalismo em algo prático, em algo que está dentro da nossa vida militante, dentro das nossas ações militantes”, pontua Vanessa.

Outro elemento fundamental foi a questão da organicidade. “Foi a etapa da organicidade, justamente por ela ter acontecido dentro de um assentamento, dentro de uma cooperativa. A gente construiu toda a organicidade em torno do momento que a gente achava que estava a turma”, explica a participante do curso.

O tema da raça e classe também esteve bastante presente nessa etapa, segundo Vanessa. “Nós trouxemos a questão racial na sociedade de classe, entendendo como que se dá todo esse elemento do racismo no nosso país. Como ele é estrutural e também é estruturante da sociedade de classe que vivemos atualmente e como que também interfere dentro da nossa militância, dentro das nossas áreas e como que a gente precisa se organizar para combater de fato o racismo e sermos militantes antirracistas fundamentalmente, não somente contra o racismo, mas sermos de fato antirracistas.”

E por fim, na quarta etapa o foco foi a tática e a estratégia. Vanessa explicou que os militantes debateram o que é tática e estratégia, estudaram seus fundamentos, a crise estrutural do capital e como ela tem levado à ascensão da extrema direita, não só no Brasil, mas no mundo. Para depois olhar para a Reforma Agrária Popular como a linha estratégia de construção do programa agrário do MST e do projeto de agricultura para o Brasil.

Foto: Equipe de comunicação da Brigada Oziel Alves – Região Sul

Brigada presta homenagem ao jovem Oziel Alves

Marinho Prochnow, da direção estadual do MST no Paraná e da coordenação da brigada, recorda que o MST desde a sua origem tem na sua essência o estudo das experiências acumuladas pela classe trabalhadora em todo o mundo, ou seja, das lutas feitas pelos trabalhadores/as em prol dos seus direitos para conquistar o que necessita para melhorar de vida.

“A formação política no MST é baseada em alguns pilares centrais, seja no estudo, seja no trabalho, seja na luta e na convenção social. Também nos aspectos culturais que tem a ver com a vida e com as formas de organizar as relações do povo.”

Na sua opinião, a Brigada Oziel Alves é privilegiada por levar o nome de um grande lutador. “Carregar o nome do jovem Oziel Alves, brutalmente assassinado no Massacre da Curva do S, no dia 17 de abril de 1996, nos traz uma grande responsabilidade nesse momento histórico dos 40 anos do MST, cumpre e está cumprindo um papel fundamental no que diz respeito à formação política da classe trabalhadora.”

Marinho acredita que a Brigada Oziel Alves, neste momento, tem um papel importante no debate, mas também na organização social do povo Sem Terra, na construção da Reforma Agrária Popular e na produção de alimentos saudáveis.

Foto: Equipe de comunicação da Brigada Oziel Alves – Região Sul

“Nesse momento histórico, a Brigada Oziel Alves terá uma grande e nobre tarefa que é organizar os trabalhadores para além do MST, conseguir organizar o público urbano que também enfrenta problemas gigantescos nesse país e onde na maioria das vezes o Estado não dá conta de resolver. Então é só a organização do povo, a organização popular que vai alcançar as conquistas e resolver os problemas do povo”, destaca.

Brigada Oziel Alves quer formar cerca de 700 militantes dirigentes

Marlon Rodrigues Fragas, do coletivo de juventude do MST no RS, integra a Brigada no estado. Para ele, a formação é essencial para ajudar no processo de formação da consciência da juventude Sem Terra.

“O estudo tem que estar no nosso cotidiano, no dia a dia, para a gente conseguir relacionar esses momentos que acontecem na sociedade, essa atualidade que a gente chama de análise conjuntura, com a nossa realidade no dia a dia, no campo, ou seja, no assentamento, no acampamento, nas cooperativas e também na relação com a sociedade.”

Marlon destaca que a Brigada Oziel Alves cumpre esse papel de reunir todos os estados e todas as grandes regiões em processos que estão interligados a partir da sua programação, a partir da sua lógica de formação, com os conteúdos.

“No marco dos 40 anos do nosso movimento, com a Brigada Oziel Alves queremos formar em torno de 700 militantes dirigentes para os processos de trabalho de base, processos de formação, processos de organização dentro dos nossos territórios, assentamentos, com o objetivo de fortalecermos as trincheiras e as nossas fileiras de luta”, salienta o militante.

Foto: Equipe de comunicação da Brigada Oziel Alves – Região Sul

Mobilização rumo ao 7° Congresso Nacional do MST

A educanda Tainara Carvalho, também do coletivo de juventude do MST no RS, veio do assentamento Itaguaçu, de São Gabriel, no RS. Ela participa da brigada desde a primeira etapa e afirma ter outro olhar hoje para a necessidade de organizar de fato a base.

“Em cada etapa a gente retorna com tarefas, de fazer movimentar de fato a base com as nossas atividades, com esse nosso ânimo que a gente vem da brigada e agora voltamos com a tarefa principal que é a mobilização rumo ao sétimo congresso, rumo aos 40 anos do MST.”

Segundo ela, a Brigada contribui muito não só na sua formação como militante, mas política, e também humana. “Nos faz compreender de fato qual é a nossa tarefa interna e também para além do Movimento. Para mim, o Oziel Alves representa essa rebeldia, dessa juventude que não ousou se calar, que foi além, que enfrentou sem medo.”

Já o educando Thaisson Campos, do coletivo LGBTI+, veio do Paraná. Diz se inspirar em Oziel Alves, um jovem que deixou o seu legado e transformou muitas mentes e corações.

“Ele, principalmente, pela sua força de vontade, nos mostrou o que significa ser um camarada, o que é o militante que se doa, como diz a música, doar suas vidas, suas batalhas e de uma forma que não cobrasse nada em troca”, reforça.

Thaisson acredita que o Oziel Alves fez isso, e infelizmente foi brutalmente assassinado, “mas a gente hoje faz a luta pensando em como podemos trazer e deixar na memória que sua luta foi de extrema importância”.

Para ele, militante que vem da base, que já passou por várias formações, “essa é mais uma formação que deixa explícito como formamos pessoas, e que traz consigo a sua cultura, a sua alegria. No meu caso, trouxe um entusiasmo para a minha luta.”

*Com a colaboração da Equipe de comunicação da Brigada Oziel Alves – Região Sul

**Editado por Solange Engelmann