Celebração
Festa no assentamento Pedra Vermelha, em Pernambuco, tem tradição e alegria no Campo
Por Leandro Macedo
Da Página do MST
O último domingo (05) foi um dia marcante para a história do assentamento Pedra Vermelha. Foram celebradas conjuntamente duas ocasiões importantes: o dia do padroeiro do assentamento, São José Agricultor, e o aniversário de 40 anos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
O assentamento Pedra Vermelha, que fica na Zona Rural do município de Arcoverde – PE, próximo ao bairro Sucupira, tem uma importância histórica para o Movimento em Pernambuco. É composto por um total de 28 famílias e foi um dos primeiros assentamentos do estado. A ocupação, que teve início em 1991, contou com lideranças como Jaime Amorim e Rubineuza Leandro, dirigentes do MST de âmbito nacional e estadual, que dedicam suas vidas à luta por Reforma Agrária Popular.
As histórias dos camponeses e camponesas que enfrentaram fome, mortes, falta d’água, repressão física e institucional e todas as adversidades de uma década morando em barracas de lona têm uma força que é estranho não serem mais conhecidas. O acampamento tornou-se oficialmente assentamento em 02 de julho em 2002, a partir do reconhecimento formal do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Desde então, vem acumulando histórias já menos dramáticas, mas não menos brilhantes. Uma delas é a da Festa do Padroeiro São José do Agricultor.
Maria Teresa, Agente Comunitária de Saúde e uma das seis pessoas que estão desde a primeira ocupação até hoje, relembra desta época.
“Era uma coisa que a gente tinha muito antiga, a festa de São José foi a primeira festa criada aqui […]. Eu e Clecilda, só foi nós duas, e em março a gente tomou a decisão. Depois, com o padre, ele disse que o dia de São José Agricultor não era 19 de março, e sim dia 1º de maio, que era o dia do trabalhador e de São José Operário. Aí, assim, foi uma coisa que era já uma coisa cultural, era uma festa muito grande, muito bonita. Parecia festa já de um povoado grande”.
Os assentados e assentadas que participaram da organização da festa rememoram emocionados que já se passaram catorze anos desde a última vez em que a data do padroeiro foi celebrada. Este apagamento foi aproximadamente simultâneo ao afastamento da ilustre professora Clecilda Lucena de Lima, arte-educadora e agente de cultura popular, que ensinou por décadas na escola do assentamento.
A professora Clecilda foi a principal promotora das edições anteriores da festa, que celebravam não apenas a memória do santo, mas também personagens e grupos históricos da Cultura Popular arcoverdense, tais como o Reisado das Caraíbas, o Samba de Coco de Lula Calixto, grupos locais de forró, além de apresentações de dança e teatro das próprias crianças do assentamento.
A comemoração foi organizada pelas assentadas locais, pelo setor de cultura da Regional Ipanema do MST em PE (que compreende nove municípios entre Alagoinha e Sertânia) e teve o apoio da prefeitura de Arcoverde, da população local e da maioria dos conjuntos musicais que foram contatados. A programação contou com a Orquestra Filarmônica Joaquim Belarmino Duarte (representada pela AMUSA – Associação de Músicos de Sopro de Arcoverde), o Samba de Coco Raízes de Arcoverde, Erim Diamantes, Ronaldo Vaqueiro e Bruno C*zar.
“A Festa só foi possível desse jeito, contando com o apoio de várias pessoas e com atrações tão prestigiadas e relevantes para a cultura arcoverdense, por causa da relação que este assentamento tem com a cidade e que o MST tem com as populações historicamente reprimidas deste país”, disse Leandro do MST, coordenador do setor de cultura da Regional Ipanema e pré-candidato a vereador do Movimento em Arcoverde.
Muitas pessoas não entendem que o propósito do MST não é apenas reivindicar Reforma Agrária Popular e desapropriar latifúndios improdutivos, que são terras com mais de mil de hectares abandonadas, sem cumprir função alguma. É colocá-las para produzir a serviço da nação e do povo brasileiro, com alimentos saudáveis numa agricultura sustentável e agroecológica para toda a população”.
Leandro destaca ainda que o Movimento toca em questões centrais para o desenvolvimento soberano, popular e sustentável do país. Segundo ele, a questão da Reforma Agrária, por exemplo, é muito séria, mencionando que o Brasil possui hoje aproximadamente 200 milhões de hectares de terras improdutivas que não cumprem sua função social e, portanto, devem ser destinados à Reforma Agrária, conforme indica o Artigo 186 da Constituição Federal.
“O problema é que num país de alta concentração fundiária, onde o latifúndio e os interesses econômicos de países estrangeiros imperam há mais de cinco séculos, isso não acontece sem luta. E o MST é um dos principais movimentos sociais que têm arregaçado as mangas para ocupar e denunciar a irregularidade da terra, chamando a atenção do Estado para que avalie, através do INCRA, se a desapropriação é pertinente.”, completou.
Atividades como esta, de resgate da história e cultura do MST estão sendo realizadas por todo o Brasil, especialmente motivadas neste ano pelo aniversário de 40 anos do Movimento. Partem de um projeto de Reforma Agrária que considera não apenas a produção em si, mas também o bem-estar das pessoas que produzem, a solidariedade nas relações, a erradicação da fome, a preservação do legado cultural e ancestral dos camponeses e camponesas que cultivam, com suas mãos calejadas, o alimento da população brasileira.
*Editado por Fernanda Alcântara