Questão Ambiental

Quais as saídas para superação da crise climática?

Reflexões da Conferência Popular analisaram o atual cenário político, com base na conjuntura sócio ambiental, apontando elementos para frear para crise climática

Foto: Filipe Augusto

Por Wesley Lima

Da Página do MST

O Movimento Sem Terra realizou na manhã deste domingo (26), uma Conferência Popular na Estação Cultura, em Campinas (SP). Com o objetivo de refletir sobre os efeitos da crise climática no Brasil e no mundo, compreendendo a importância da Reforma Agrária Popular nesse enfrentamento.

A Conferência faz parte da programação da Feira Estadual da Reforma Agrária Neusa Paviato, que se encerra neste domingo (26), com um conjunto de atividades formativas, culturais e de comercialização de alimentos saudáveis, artesanatos, pratos típicos, entre outros produtos.

Com base na questão “quais as saídas concretas para superação da crise climática?”, a Conferência propôs realizar apontamentos práticos de ações e perspectivas políticas capazes de desenvolver processos de organização social, fortalecimento da produção de alimentos saudáveis pelos camponeses e na construção de lutas populares que denunciem o modelo de produção do agronegócio.

Para o debate, o espaço contou com a participação do deputado federal Nilto Tatto (PT/SP), da dirigente política da Marcha Mundial de Mulheres (MMM) Mirian Nobre e do MST, a Conferência teve a contribuição de Carla Bueno, do Setor de Produção, e Gilmar Mauro, da Coordenação Nacional do Movimento.

Foto: Filipe Peres

Em linhas gerais, as reflexões analisaram o atual cenário político, com base na conjuntura sócio ambiental, com a perspectiva de apontar elementos capazes de frear o acirramento da crise climática. A devastação dos biomas brasileiros foi um primeiro elemento sinalizado durante a Conferência.

De acordo com o MapBiomas, a área desmatada no Brasil cresceu 22,3% em 2022 segundo o mais recente Relatório Anual de Desmatamento (RAD 2022) da instituição, que consolida dados de todo o território nacional e seus biomas. Foram identificados, validados e refinados 76.193 alertas, que totalizaram 2.057.251 ha de desmatamento no ano passado.

Esses dados aparecem como elemento transversal nas reflexões, com o objetivo de chamar atenção para gravidade do tema e apontar o modo de produção do agronegócio como um dos principais atores dessa crescente. A agropecuária, por exemplo, consolidou-se como o principal vetor da derrubada de árvores, provocando 95,7% da devastação, o equivalente a 1,96 milhão de hectares. A atividade provocou em 2022 um impacto muito maior do que o garimpo, que devastou 5,9 mil hectares, e a mineração, com 1,1 mil hectares, aponta também o relatório.

Gilmar Mauro, olhando para esses números, alerta que a destruição da Amazônia vai construir um processo de desertificação no país. “A situação tende a piorar. Para parar de emitir gases, por exemplo, a humanidade precisaria abolir as tecnologias, como o automóvel e a utilização do petróleo. Destruir essas tecnologias causaria uma brutal contração econômica. Qual país do mundo faria isso?”.

Ele afirma que mesmo a Conferência das Partes (COP) dizendo que precisa diminuir as emissões, “nós não temos nenhum país do mundo que abriria mão dessas tecnologias. Ou seja, não vai ter diminuição de gases porque é da natureza e da lógica do capital produzir lucro, se expandir e acumular”.

Reforma Agrária Popular

Nesse sentido, Nilto Tatto explica que os setores do agronegócio que mais desmatam, queimam, que exploram os bens comuns da natureza é o setor que mais recebe investimento público e, por isso, “precisamos denunciar essa forma de funcionamento do Estado”. Do outro lado, “precisamos destacar que o modelo de agricultura que vai enfrentar a crise climática, é a agricultura familiar. E ela precisa desse investimento, de acesso a políticas públicas. Para isso acontecer, é preciso construir a Reforma Agrária.”

Conferência reuniu visitantes da Feira Neusa Paviato, em Campinas (SP). Foto: Filipe Augusto

Mirian Nobre segue o mesmo caminho narrativo e afirma que “a Reforma Agrária Popular é um jeito de recuperar vida! Porque a agroecologia, que é o processo de obter e experimentar conhecimentos, é muito intenso nas relações pessoais e nas relações com a natureza”.

Além de apontar a Reforma Agrária como uma saída frente a crise climática, Tatto sinaliza também que é fundamental avançar na construção de “uma consciência ambiental”. Ele ilustra isso, ao sinalizar que a tragédia no Rio Grande do Sul provocou uma comoção nacional de solidariedade e o desafio é “como é que esse movimento, mobilização, pode gerar uma tomada de consciência?”. E continua: “precisamos canalizar esse movimento solidário para a política e para necessidade de mudança. É importante fazer esse debate porque temos um quadro da política nacional repleta de desafios”, enfatiza. 

Alimentação saudável frente à crise

“Quando estamos falando sobre as questões climáticas e, estamos sendo impactos por elas, temos a oportunidade de avançar nas reflexões coletivas em torno desse processo […]. Quando a gente [MST] decidiu dialogar com a população urbana sobre alimentação saudável, a gente decidiu também massificar a agroecologia. A gente precisa fazer isso, garantindo maior biodiversidade alimentar”, explica Carla Bueno.

Nessa linha, ela conta que a agroecologia tem múltiplas raízes e a mais importante é a que vem de nossas bases ancestrais de produção. Porque é essa base que posiciona o elemento arbóreo. “Ou seja, uma forma de produzir capaz de reposicionar a produção de alimentos sem derrubar árvores”, argumenta.

Foto: Filipe Peres

Tendo isso como plano de fundo, ela diz ainda que é necessário alterar o padrão de consumo e “nós queremos construir os mercados populares, capazes de fortalecer a produção local, baratear o preço e, para isso, é fundamental massificar a produção, a agroecologia, desenvolver um modelo que potencialize o cooperativismo e o associativismo”, desafia Bueno.

Esse conjunto de elementos políticos e ações concretas nortearam o debate da Conferência, que conseguiu ao final, reafirmar a luta popular como uma frente estratégica, necessária e, para isso, é fundamental que ocorram mobilizações no campo, através da ocupação de latifúndios, mas também na cidade, denunciando o agronegócio.

*Editado por Lays Furtado