MST em São Paulo

MST realiza formação pioneira integrada à produção agroecológica em São Paulo

A formação resgata um histórico organizativo e pedagógico na produção de alimentos saudáveis com uma matriz intersetorial ligada à agroecologia
Foto: Yuri Gringo

Por Lays Furtado
Da Página do MST

Com início nesta segunda-feira (27), a Formação Integrada à Produção Agroecológica (FIPA) reúne Centro Agroecológico Paulo Kageyama (CAPK), militantes ligados às práticas da produção de alimentos das áreas de acampamentos e assentamentos do MST das regiões sudeste, sul e centro-oeste do país.

A iniciativa é tomada no marco celebrativo dos 40 anos do MST, onde o Setor de Produção, Cooperação e Meio Ambiente (SPCMA) do Movimento em conjunto com outros setores de forma integrada, empreendendo um conjunto de ações com vistas ao fortalecimento da sua organicidade e do avanço da Reforma Agrária Popular, visando o desenvolvimento dos territórios conquistados na luta pela democratização do acesso à terra e seus recursos. 

A programação formativa conta com duração de um mês de estudos, onde 35 estudantes estarão dedicados a uma programação de estudos e práticas no Centro de Agroecologia Paulo Kageyama, espaço dedicado para a formação política, agrícola e organizativa. A organização é feita intersetorialmente, envolvendo dezenas de membros entre Setor de Formação e de Produção do MST, mas também envolvendo a colaboração de integrantes de outros setores e espaços formativos do Movimento.

Uma das coordenadoras político-pedagógicas do curso, Andreia Matheus, do setor de produção do MST, conta que: “a Formação Integrada à Produção Agroecológica faz parte desse esforço de formar militantes nos aspectos político, técnico e produtivo. Na perspectiva de construção e consolidação de processos de conversão agroecológica.” Considerando que a massificação desse modo de produção é urgente para a mudança da matriz agrícola regional e nacional, hoje promovida pelo agronegócio que utiliza métodos de produção que vão na contramão da sustentabilidade ambiental e construção da soberania alimentar.

Ana Chã da coordenação nacional do Coletivo de Cultura do MST. Foto: Yuri Gringo

Integrante da coordenação da formação, através do Coletivo Nacional de Cultura do MST, Ana Chã, destaca que a integralidade pedagógica do curso é construída a partir da “conjugação de conhecimentos científicos e tradicionais, com um olhar para o ser humano de uma forma integral, em sua relação plena com a natureza e com os outros seres humanos.”

A partir dessa experiência formativa, espera-se que tal iniciativa piloto sirva de referência e motivação para as demais regiões, de modo que seja possível construir um amplo processo formativo em nível nacional, para fortalecer os processos de luta e organização produtiva. A realização de FIPAs em âmbito regional possibilitará também, o envolvimento de um número maior de militantes e o desenvolvimento de atividades produtivas de acordo com os biomas, além de incorporar aspectos organizativos e culturais existentes em cada região.

Inovando métodos de formação com matriz agroecológica

Durante a fala de abertura do curso, Geraldo Gasparini, coordenador do setor de formação do MST, contou que apesar da FIPA ser um processo de estudo pioneiro com relação a sua especificidade de matriz agroecológica, o método organizativo deste ciclo de estudos tem origens no Movimento desde o final da década de 1980 e começo dos anos 90, onde duas experiências formativas do gênero marcaram o processo de organização e consolidação dos primeiros  assentamento da Reforma Agrária, conquistados pelas famílias Sem Terra.

“A primeira dessas experiências, foi o Laboratórios de Organização do Campo (LOC), tendo como um dos referenciais principais os Elementos da Teoria da Organização, formulado pelo sociólogo brasileiro Clodomir de Morais” – contou o dirigente. Tratava-se de um processo coletivo, com duração de 2 meses aproximadamente, período no qual as famílias assentadas realizavam todo o planejamento da vida do assentamento: divisão dos lotes, organização dos núcleos de moradia, da produção, do trabalho coletivo, etc. Em outras palavras, pensava-se o assentamento como um todo.

Diego Moreira, da direção nacional do Setor de Produção do MST. Foto: Yuri Gringo

“A outra experiência do gênero, foi tomada pela Formação Integrada a Produção (FIP) que consistia num processo realizado nos assentamentos de Reforma Agrária, conjugando entre outras coisas, o estudo, a luta, a vivência dos valores humanistas, o trabalho produtivo, a disciplina e a cultura, com vistas à formação de quadros.” – destacou Diego Moreira, da direção nacional do MST.

Resgatando o legado histórico deixado pelas FIPs, o Setor de produção, Cooperação e Meio Ambiente criou esta nova experiência piloto, à qual inserem a matriz agroecológica como uma inovação dos estudos integrados de produção, e que agora vem a tornar-se realidade por meio da Formação Integrada à Produção Agroecológica (FIPA). Ao mesmo tempo em que potencializa o diálogo de saberes, articulando momentos de formação política, formação técnica e produtivas específicas alinhando teorias e práticas.

Centro Agroecológico Paulo Kageyama, Jarinu, SP. Foto: Yuri Gringo

Todo este conhecimento integrado, tem a função de compreender a importância da organização dos processos produtivos nos assentamentos e acampamentos da Reforma Agrária e a necessidade de estruturação de cadeias produtivas como forma de fazer frente aos avanços do capital no campo e garantir a autonomia das famílias agricultoras, com a cooperação na produção de alimentos saudáveis e trabalho digno.

*Editado por João Carlos