Internacionalismo

Declaração de denúncia e de solidariedade ao Povo do Haiti pelos 20 anos da MINUSTAH

Movimentos populares brasileiros se solidarizam com a luta do povo haitiano e exigem reparação e justiça pelos crimes cometidos durante a missão da ONU no Haiti
Militância do MST atua no Haiti desde 2009. Foto: Brigada Internacionalista Dessalines

Da Página do MST

Neste 01 de junho de 2024 se completa 20 anos da intervenção militar organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti, a MINUSTAH. E a 20 anos o povo haitiano e suas organizações políticas seguem denunciando e cobrando justiça aos organismos internacionais pelos os inúmeros crimes cometidos pelos soldados da MINUSTAH no Haiti.

Os movimentos populares brasileiros articulados na ALBA Movimentos queremos por meio desta declaração, expressar nossa permanente e consequente solidariedade com a luta do povo haitiano, nos juntar ao seu grito de denúncias e cobrar justiça e reparação, sobretudo do estado e do exército brasileiro por ter liderado a missão da MINUSTAH.

Queremos aqui repudiar as ações e os crimes cometidos pelos soldados brasileiros que de 2004 a 2017, 13 anos de missão deixou um legado no Haiti que não nos honra como povo brasileiro. O que as missões militares deixaram no Haiti é um histórico de violência e violações de direitos humanos, com mais de 30 mil mortos, mais de 2 mil vítimas de abusos sexuais — a maioria mulheres e crianças, os dados apontam que mais de 300 crianças sofreram tais abusos. As tropas foram responsáveis por massacres nos bairros populares na capital Porto Príncipe. Os dados mostram que de 2005 a 2006 foram pelo menos 8 mil pessoas mortas, entre elas a maioria mulheres e jovens menores de 18 anos. Também é importante ressaltar e denunciar os 800 mil

casos de cólera, deixando um saldo de mais de 30 mil mortes, cólera essa que foi introduzida pelos soldados da MINUSTAH no país.

Uma intervenção desse tipo como a MINUSTAH que se utiliza de uma suposta defesa dos “direitos humanos” para, na verdade, afirmar o sistema neocolonial imposto por países como EUA e para violar vilmente os direitos e a soberania do povo haitiano. Por isso denunciamos qualquer tentativa de uma nova intervenção militar no Haiti.

É necessário delimitar que as práticas de dominação e imposição de força somente reproduzem, acentuam e perpetuam as desigualdades que caracterizam as relações homens-mulheres, como a hierarquização dos poderes, dominação e culto ao chefe, violência física, obediência e falta de espírito crítico. A referência dessas sociedades, de uma masculinidade violenta e ligada à força está geralmente vinculada ao racismo e a formação de gangues.

A crise do Haiti só pode ser resolvida pelo povo haitiano, e este povo deve ser acompanhado pela imensa força da solidariedade internacional. O mundo pode olhar para os exemplos demonstrados pela Brigada Médica Cubana, que foi pela primeira vez ao Haiti em 1998; pela brigada da Via Campesina/ALBA Movimentos, que trabalha com movimentos populares na produção de alimentos, no reflorestamento e educação popular desde 2009; e pela assistência fornecida pelo governo venezuelano, que inclui o petróleo com desconto.

Por isso, exigimos:

  • Que as Nações Unidas, paguem pelos crimes cometidos pela MINUSTAH, reparação já. E que os soldados brasileiros sejam julgados pelos crimes cometidos ao povo haitiano.
  • Que o povo do Haiti tenha reconhecido seu direito de construir sua própria estrutura política e econômica de forma soberana, digna e justa, e para criar sistemas de educação e saúde que possam atender às necessidades reais do povo.
  • Que todas as forças progressistas do mundo se oponham a qualquer tentativa de invasão militar do Haiti.
  • Punição dos crimes cometidos contra as mulheres e crianças durante a MINUSTAH e a participação igualitária das mulheres e movimentos sociais nos processos de prevenção e gestão dos conflitos, manutenção de paz e reconstrução pós conflitos.

Viva a luta do povo haitiano por um Haiti digno, soberano e livre ocupação!

Reparação ao povo haitiano pelos crimes da MINUSTAH!

São Paulo, 1 de junho de 2024

Assinam a declaração:

Conselho Pastoral dos Pescadores 

Central dos Movimentos Populares

Levante Popular da Juventude

Marcha Mundial das Mulheres

Movimento dos Atingidos por Barragens 

Movimento Brasil Popular

Movimento dos Pequenos Agricultores

Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto 

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra 

Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos

Movimento de Moradia da Cidade de São Paulo

Movimento pela Soberania Popular na Mineração

Rede de Médicos e Médicas Populares

União Brasileira de Mulheres