Meio Ambiente
“Todo dia é dia do meio ambiente”: mulheres catadoras e Sem Terra se reúnem em MG
Por Agatha Azevedo
Da Página do MST
Com o objetivo de valorizar o trabalho das mulheres catadoras na erradicação da pobreza, o Armazém do Campo recebeu as associações de catadoras e catadores de BH e da região metropolitana para debater a construção de cidades sustentáveis e a organização para o trabalho digno, enquanto combate as mudanças climáticas.
Além da discussão política, a atividade também contou com um almoço coletivo a partir da Cozinha Solidária Cidona. A ação faz parte das atividades do Mãos Solidárias, que conecta as ações do MST aos trabalhadores da cidade. As cozinhas são articuladas a nível nacional, com objetivo de levar alimentação saudável para o povo brasileiro através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
Entre as participantes, estavam militantes do MST, mulheres ligadas ao Movimento Nacional dos Catadores Recicláveis (MNCR), e de diversas associações, cooperativas e redes, como a Unicatadores, Redesol e Rede Cataunidos.
Trabalho e Renda
A atuação dos catadores e catadoras em Minas Gerais foi historicamente tratada de forma degradante, com o trabalho sendo feito de forma insegura em lixões e sob o risco de doenças, para conseguir sustentar as famílias.
Foi a partir da organização política que o trabalho foi sendo projetado para a sociedade como fundamental.
Segundo Madá Duarte Lima, a formalização do trabalho foi um dos passos para a vida dos trabalhadores e trabalhadoras começar a melhorar. “Os catadores precisavam ter reconhecimento enquanto classe trabalhadora e hoje nós somos classificados como profissionais”, afirma.
Para Dona Geralda, referência no trabalho com a reciclagem, as associações deram visibilidade para os catadores e as catadoras. “Antes ninguém enxergava a gente, a gente era lixo. Ninguém me via e hoje eu vejo o mundo. Hoje em dia a associação ajuda na esperança, na cidadania e na nossa autoestima”.
A pauta organizativa da catação se ocorreu a partir da necessidade de quem trabalhava com a reciclagem. “Naquela época a coleta seletiva não era uma realidade e o trabalho nas ruas não rendia muita renda”, aponta Madá. Foi preciso uma crise econômica para que propostas coletivas de trabalho aparecessem.
Da organização política, à construção da vida com acesso à saúde, alimentação e direitos, a pauta da produção de alimentos também se tornou um ponto de ação das trabalhadoras e trabalhadores da reciclagem. “A gente quer o básico e é o básico que a gente não tem”, afirma Jennifer Thaís.
A luta das catadoras e dos catadores atravessou a vida de Jennifer Thaís desde a infância, e mostrou a necessidade de lutar por uma vida melhor.
A maioria são mulheres, mães-solo e com filhos e eu vi ali a minha mãe” ,
relata.
Reforma Agrária
Para o MST, a relação entre a reciclagem e a Reforma Agrária é indissociável, já que ambos são fundamentais para a preservação do melo ambiente e da vida. “Aproveitamos o Dia Mundial do Meio Ambiente para lembrar que nesse contexto de crise climática é urgente a valorização do trabalho das mulheres catadoras. Essas mulheres são fundamentais para o avanço de cidades mais sustentáveis e seu trabalho precisa ser valorizado”, afirma Guê Oliveira, do Coletivo de Cultura do MST.
Para Priscila Araújo, coordenadora do Armazém do Campo, é na resistência coletiva que se faz mudança social na luta Sem Terra e na luta das catadoras. “O cooperativismo é o que nos une e organiza o povo. É a partir da ocupação dos nossos espaços que a gente se organiza e constrói”, pontua.
Não tem como pensar a reciclagem sem pensar a alimentação saudável, e essa relação passa pela dignidade da classe trabalhadora”,
afirmou Jennifer.
Nós começamos lutando pela terra, mas também lutamos pelo direito das mulheres, das crianças, contra as violências, contra os agrotóxicos, pela educação”,
completa Guê.
Segundo a militante Sem Terra, é a partir dessa luta que o Movimento propõe plantar 100 milhões de árvores em 10 anos para alimentar o Brasil de forma saudável e cuidar do meio ambiente.
A relação de troca de experiências entre o MST e as organizações de reciclagem também resgataram a importância da alimentação saudável com a Cozinha Solidária Cidona, coordenada por Bernardo Amaral. Segundo ele, o Mãos Solidárias vem propor essa interação entre o campo e a cidade, em que as mulheres estão “cuidando de si mesmas e do mundo”.
“A luta das catadoras e do MST é permeada por ancestralidade, memória e esperança”, diz Bernardo.
Para ele, a junção dessas lideranças demonstra que “a jornada por um mundo mais justo e sustentável exige a união de diferentes movimentos sociais e o fortalecimento das pontes entre quem cuida da vida dia após dia”.
*Editado por João Carlos