Enchentes no RS

MST organiza Brigada de Saúde Popular para atender famílias atingidas pelas enchentes no RS

Um espaço físico foi montado para oferecer orientações, atendimento médico, psicológico, receitas e medicamentos
A Brigada, composta por diversos profissionais e voluntários, está realizando os atendimentos no bairro Assentados, em Eldorado do Sul, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Foto: Vinicius Costa/MST

Por Clara Aguiar
De Brasil de Fato

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) organizou uma Brigada Solidária de Saúde Popular em Eldorado do Sul, um dos municípios mais afetados pelas enchentes no estado. Localizada na Região Metropolitana de Porto Alegre, a cidade teve cerca de 90% de sua área submersa, deixando 30 mil moradores desalojados.

A Brigada de Saúde do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), composta por diversos profissionais e voluntários, está atendendo às necessidades básicas de saúde das famílias assentadas afetadas pelas enchentes.

“Viemos aqui para fazer um trabalho em conjunto com a Secretaria Municipal de Saúde para oferecer atendimento médico e vacinação na comunidade”, explica Marcos Tiaraju, supervisor do Programa Mais Médicos para o Brasil. Ele destaca que um espaço físico foi montado dentro da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap), localizada no bairro Assentados, para oferecer orientações de saúde, atendimento médico, psicológico, receitas e medicamentos. 

“Viemos aqui para fazer um trabalho em conjunto com a Secretaria Municipal de Saúde para oferecer atendimento médico e vacinação na comunidade”, explica o médico Marcos Tiaraju. Foto: Vinicius Costa/MST

“Estamos enfrentando riscos de doenças transmissíveis como leptospirose, dengue, gastroenterite e diarreia”, alerta Tiaraju. Em resposta a esses desafios, a Brigada planeja expandir seu trabalho para outros municípios atingidos. “Nós estaremos organizando também brigadas de limpeza e infraestrutura para ajudar a recuperar as unidades de saúde dos municípios,” afirma.

O médico destaca que o MST pretende expandir os atendimentos para fora dos assentamentos. De acordo com ele, uma parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Viamão já foi estabelecida para a expansão desse atendimento.”Enquanto essas unidades não funcionam, nós estamos inclusive construindo talvez a possibilidade de que pessoas de fora dos assentamentos possam ser atendidas aqui por nós também, estendendo esse nosso espírito solidário à comunidade em geral, porque todos foram afetados”, conta. Um acompanhamento descentralizado será iniciado na próxima semana, com a equipe médica da Brigada visitando in loco as famílias afetadas. 

“Montar esse espaço, enquanto Brigada e enquanto Movimento Sem Terra, é de uma importância tamanha porque podemos atender todas as famílias deste assentamento, mais de 60, e também famílias de assentamentos em municípios vizinhos.” Atuando na Brigada, Marcos Tiaraju, de 39 anos, é filho de Roseli Seleste Nunes da Silva e José Correa da Silva. Ele foi a primeira criança nascida em um acampamento do MST e se formou médico após ter passado seis anos estudando em Cuba. 

Enchente aumenta risco de doenças

De acordo com o Ministério da Saúde, as enchentes que afetam o Rio Grande do Sul trazem inúmeros riscos à saúde pública, intensificando a proliferação de diversas doenças infecciosas. Em situações de inundação, a exposição a água contaminada e a ambientes úmidos favorece o surgimento de enfermidades que podem ter consequências graves para a população. Uma das doenças mais comuns e perigosas em situações de enchente é a leptospirose. Causada por uma bactéria presente na urina de roedores, a leptospirose se espalha facilmente em áreas alagadas, onde a água contaminada entra em contato com a pele humana, especialmente em caso de feridas abertas. Os sintomas incluem febre alta, dores musculares, vômitos e, em casos graves, pode levar a complicações renais e hepáticas.

Além da leptospirose, o risco de dengue também aumenta significativamente durante as enchentes. A água parada, resultante do acúmulo de chuva, cria condições ideais para a reprodução do mosquito Aedes aegypti, vetor da dengue, zika e chikungunya. A dengue é caracterizada por febre alta, dores de cabeça intensas, dor atrás dos olhos, dores musculares e nas articulações, além de erupções cutâneas. Em casos graves, pode evoluir para dengue hemorrágica, que pode ser fatal.

Outras doenças que podem surgir ou se intensificar durante enchentes incluem a hepatite A, transmitida pelo consumo de água e alimentos contaminados com fezes humanas, e a gastroenterite, que causa diarreia e vômitos, devido ao consumo de água não tratada. A contaminação da água potável por agentes patogênicos é um dos maiores desafios em regiões atingidas por enchentes, tornando essencial o acesso a fontes seguras de água e a práticas de higiene rigorosas.

Além das doenças infecciosas, a presença de animais peçonhentos em áreas alagadas aumenta o risco de acidentes. Cobras, escorpiões e aranhas são forçados a deixar seus habitats naturais inundados, buscando refúgio em áreas secas, muitas vezes próximas às habitações humanas.

Um acompanhamento descentralizado também será iniciado na próxima semana, com a equipe médica da Brigada visitando in loco as famílias afetadas. Foto: Vinicius Costa/MST

Para Sérgio Reis Marques, coordenador do Setor de Saúde do MST, essa ação demonstra uma grande solidariedade nacional com o Rio Grande do Sul. “A Brigada que é montada com militantes de todos os lugares do Brasil, veio de Minas Gerais, de Pernambuco, de São Paulo… Psicólogos, cuidadores populares e também temos os médicos locais que são militantes do MST. A Brigada traz um acolhimento, é uma equipe que se desloca, tem ido nos assentamentos que foram afetados conversar com as famílias, foram fazer atendimento e se colocar à disposição”, explica.

Leka Rodrigues, dirigente nacional do Setor de Saúde do MST, assistente social e educadora popular, destaca também a importância de ações concretas na área de saúde em meio à tragédia socioambiental e humanitária que assola o Rio Grande do Sul. “Estamos aqui cuidando do nosso povo nesse momento de reconstrução da vida.”

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Enchente devasta produções agroecológicas

Com as enchentes, os assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Eldorado do Sul (RS) sofreram perdas significativas. As águas atingiram as casas, as hortas, a criação de pequenos animais das famílias, deixando apenas rastros de destruição. Na sede da Cootap, a diminuição do nível da água revelou o apodrecimento do arroz agroecológico, que estava armazenado e pronto para venda. Também houve perda de 100% das verduras cultivadas nos assentamentos. 

“Conquistamos essa terra com muita luta. Só eu perdi mais de 13 mil sacas de arroz e R$ 1,5 milhão em colheitas e infraestrutura. Vamos fazer muita luta para recuperar nossa capacidade de produzir”, relatou Otavino José Vedovato ao Brasil de Fato, morador do assentamento Integração Gaúcha (IRGA), em Eldorado do Sul.

*Editado por Katia Marko