Proteção Ambiental

Município de Nova Santa Rita celebra inauguração da RPPN ‘Sonho Camponês’

Reserva é a primeira localizada em assentamento da Reforma Agrária no Rio Grande do Sul
“Essas catástrofes ambientais acontecem porque as pessoas não preservam”, afirmam Azilda Ristow e Olímpio Wodzik, proprietários da RPPN “Sonho Camponês”. Fotos: Tiago Giannichini

Por Clara Aguiar
Do Brasil de Fato | Nova Santa Rita

Na manhã de sexta-feira (14), foi realizada a cerimônia de inauguração da Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) “Sonho Camponês“, localizada no lote dos assentados Azilda Ristow e Olímpio Vodzik, no Assentamento Itapuí, em Nova Santa Rita/RS.

O evento contou com a presença do ministro-chefe da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta, além do prefeito de Nova Santa Rita, Rodrigo Battistella, da deputada federal Reginete Bispo (PT), do deputado estadual Adão Pretto (PT), além de diversas lideranças locais e membros da comunidade. Os participantes tiveram a oportunidade de conhecer a área da reserva.

“Nova Santa Rita cada vez mais é uma referência num projeto, num modelo de gestão. Hoje, é um grito de alerta que mostra que outro caminho é possível, que outro mundo é possível, como tantas vezes nós, em diferentes momentos, já falamos. Mais uma vez o MST mostrando através da solidariedade um compromisso social”, afirmou Paulo Pimenta.


O evento contou com a presença de Paulo Pimenta, Ministro-Chefe da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, além de diversas lideranças locais e membros da comunidade. Foto: Tiago Giannichini

Azilda Ristow e Olímpio Wodzik, proprietários da RPPN “Sonho Camponês”, expressaram suas preocupações ambientais e a necessidade de preservação. “Essas catástrofes ambientais acontecem porque as pessoas não preservam. E a natureza está querendo os seus direitos. Como nós reivindicamos direitos, a natureza também vai reivindicando os seus direitos. Tem o rio em torno pra ela transbordar, o pessoal tá ocupando a ‘transbordação’. O pessoal tá retirando as matas e ciliares do rio. A mata é uma reserva de água, de biodiversidade, então é tudo. Tu caminha por aí, no meio do mato, tu vê na prática como é o funcionamento prático da esponja? Tu pode até ajudar alguma coisa, plantar, mas na verdade, em relação à natureza, é só tu dar a chance pra ela se regenerar.”


“Como nós reivindicamos direitos, a natureza também vai reivindicando os seus direitos”, defendeu Olímpio. Foto: Tiago Giannichini

Olímpio lembrou que eles que trabalham com agricultura estão muito mais sujeitos às mudanças climáticas que estão acontecendo. “E só não vê quem não quer, né? Então se o pessoal quer produzir alimento, e o pessoal urbano quiser se alimentar, vão ter que ajudar a transformar esse sistema em um sistema que seja mais sustentável, que possa produzir alimento”, afirmou. 


Os participantes da inauguração tiveram a oportunidade de conhecer a área da reserva. Foto: Tiago Giannichini

O deputado estadual Adão Pretto enalteceu a iniciativa do casal: “Quero saudar o Seu Olímpio, que eu conheço há muito tempo, a sua família, que era amiga do meu saudoso pai, o Adão Pretto, e esse território, que além de ser muito produtivo (Nova Santa Rita) no arroz agroecológico, também nos dá o exemplo na preservação. Nós precisamos, de forma responsável, dar o exemplo, e o MST, os assentamentos, as áreas de reforma agrária, sempre foram um farol, uma referência nessa dedicação da preservação e do cuidado com a natureza. Tudo o que nós estamos vivendo aqui no Estado do Rio Grande do Sul é por causa do descuido do ser humano, do descuido de governo”, refletiu.


Azilda e Olímpio produzem morangos orgânicos que vendem na Feira do Menino Deus em Porto Alegre. Fotos: Tiago Giannichini

A RPPN “Sonho Camponês” abrange uma área de 6,95 hectares e é reconhecida como a primeira reserva particular de patrimônio natural em um assentamento na região. Este projeto exemplar não apenas visa a preservação ambiental, mas também está integrado a um sistema familiar que adota práticas de agroecologia e agricultura regenerativa, reforçando o compromisso com a sustentabilidade e a educação ambiental. 


“Tu pode até ajudar alguma coisa, plantar, mas na verdade, em relação à natureza, é só tu dar a chance pra ela se regenerar”, alertam Dona Azilda e Seu Olímpio. Foto: Tiago Giannichini

O prefeito de Nova Santa Rita, Rodrigo Battistella, expressou seu orgulho pela cidade se tornar uma referência na alimentação orgânica e na preservação ambiental. “Tenho orgulho, eu como prefeito dessa cidade que está se tornando uma grande referência na alimentação orgânica. Quando é a boa luta e a boa causa, nós sempre vamos estar na linha de frente. E com certeza o meio ambiente vai voltar a ser uma preocupação diária não só de nós gaúchos, mas de todos os brasileiros. Queremos que essas atitudes virem uma prática aqui no nosso estado, que a gente possa ter mais propriedades particulares preservadas para que a gente possa dar o direito à natureza também de poder respirar”, destacou. 


Filhos, noras e netos do casal também participaram da inauguração. Foto: Tiago Giannichini

A deputada federal Reginete Bispo compartilhou seu sentimento de esperança com a iniciativa em meio aos desafios enfrentados pelo estado: “Quero dizer sobre a alegria de estar aqui celebrando a preservação do meio ambiente no meio de tanta tragédia que o nosso Estado vive. Gente com amor pela natureza, gente pra cuidar do meio ambiente, né? Porque a gente vive essa tragédia no Rio Grande do Sul. A gente vive uma parte do ano sem água e outra parte com excesso de água. Então, é uma desarmonia, um desequilíbrio.”


Reserva é a primeira localizada em assentamento da Reforma Agrária no Rio Grande do Sul. Foto: Tiago Giannichini


“A gente quer reconstruir essa relação entre homens e natureza para romper aquilo que o capitalismo fez ao longo da sua história”, comenta Alvaro Delatorre, engenheiro agrônomo do MST/RS. Foto: Tiago Giannichini

O processo de criação da RPPN “Sonho Camponês” também está ligado ao projeto do Centro de Educação Ambiental Camponês (Ceacamp), desenvolvido pela família de Azilda e Olímpio. Desde 2017, eles utilizam a diversidade natural do lote como ferramenta voltada à educação. Grupos de escolas, universidade e agricultores são recebidos periodicamente para conhecer a área durante visitações e palestras sobre o processo ambiental. O sistema composto por agricultura e floresta também é aberto para pesquisas científicas de diferentes vertentes. A ideia é que a unidade de conservação de característica permanente impulsione mais projetos, agregue pessoas de diferentes gerações e inspire outras propostas focadas na proteção da natureza nos diversos ecossistemas e condições.    


“O MST acredita que a terra deve cumprir sua função social, o que implica na adoção da produção agroecológica”, defendeu Delatorre. Foto: Tiago Giannichini

Alvaro Delatorre, engenheiro agrônomo do Setor de Produção, Cooperação e Meio Ambiente do MST/RS, lembrou sobre a importância de reconstruir a relação entre seres humanos e natureza. “Aqui, a fauna tem direito, a floresta tem direito, a sanga tem direito. A vertente tem direito, o mato tem direito. E tem um fator que é extremamente importante e que a gente precisa reconhecer e valorizar sobretudo com o que está acontecendo. E a gente quer reconstruir essa relação entre homens e natureza de tal forma que a gente rompa aquilo que o capitalismo fez ao longo da sua história, que foi separar o homem da natureza de tal forma que ele pudesse explorar cada vez mais a natureza.”


“Que o seu Olímpio e a dona Azilda sejam reconhecidos e recompensados por isso que eles fazem”, concluiu Delatorre. Foto: Tiago Giannichini

De acordo com Delatorre, o MST acredita que a terra deve cumprir sua função social, o que implica na adoção da produção agroecológica e métodos de transição energética e destacou o trabalho de dona Azilda e Olímpio. “Que o seu Olímpio e a dona Azilda sejam reconhecidos e recompensados por isso que eles fazem”, completou. 


A reserva não apenas visa a preservação ambiental, mas também está integrado a um sistema familiar que adota práticas de agroecologia e agricultura regenerativa. Foto: Katia Marko

O evento foi encerrado com um café da manhã típico camponês, composto por produtos locais, reforçando os laços comunitários e o compromisso com práticas sustentáveis e a preservação ambiental para as futuras gerações.


Edição: Katia Marko