Reforma Agrária Popular
Assentamento Aruega: a semente da luta do MST em Minas Gerais
Por Agatha Azevedo
Da Página do MST
Com os lemas “ocupação é a única solução ” e “terra para quem nela trabalha”, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) chegou à Minas Gerais na década de 1980, com o desejo de construir dignidade no campo após o período ditatorial brasileiro.
Em meio às contradições políticas, surgia o MST em Minas Gerais, com a ocupação no Vale do Mucuri. “Na conjuntura brasileira nós tínhamos acabado de sair da ditadura. Então os trabalhadores da Aruega sofreram forte repressão porque no campo a ação truculenta do estado ainda era muito forte”, afirma Maria José Santos, assentada na Fazenda Aruega.
O processo de mobilização para a ocupação foi realizado em parceria com sindicatos e instituições políticas e religiosas da região. Hildelbrando Gomes Ferreira, assentado no território, relembra os dias de resistência e ressalta que “foi muito difícil no início. O MST veio pra região fazer trabalho de base nas comunidades”.
Segundo o camponês, os dias de escassez marcaram o começo da história da Fazenda Aruega. “O povo da roça sofre muito sem acessos. Nós ficamos aqui mais de 4 anos debaixo da lona preta vivendo de doação, até conseguir começar a produzir”, diz.
As contradições que o povo vivia na roça foram o estopim da ocupação. “Foi um momento de pautar a luta pela Reforma Agrária naquele latifúndio improdutivo e pra dizer que a única solução pros problemas de desigualdade social e pra fome era a ocupação”, contextualiza Maria José.
Constituído de maioria negra, o assentamento é um retrato do Brasil, que garante a terra aos que foram expropriados dela. “Se a gente for conversar com as pessoas aqui, eles vão contar de histórias terríveis que a gente diz que são análogas à escravidão. Isso tem relação com a história do Brasil e da colonização”, afirma Maria José.
Hidelbrando relembra o enfrentamento aos latifundiários e os tempos em que a polícia rondava as famílias Sem Terra no local. “Eles (os fazendeiros) tinham medo da gente ocupar outras fazendas e se uniram contra o Movimento e, depois de poucos dias começou a vir polícia para o acampamento”, afirma.
Terra compartilhada
Mesmo com a união dos fazendeiros e políticos da região, as famílias resistiram na terra e seguem disputando um projeto de assentamento baseado nos princípios do MST.
“Até hoje nós brigamos e somos contra os assentados pegarem título da terra. Isso serve pra endividar e vender essa terra. Tem caso na região que o assentamento voltou pras mãos dos fazendeiros e nós não queremos isso.O pessoal da zona rural tem esse compromisso de produzir pra todas as pessoas”, pontua Hildelbrando.
Até hoje o território sofre assédio por parte das políticas de titularização da terra, mas a luta segue avançando. Um dos exemplos é a Escola Estadual Fazenda Aruega, que atende dos anos iniciais ao ensino médio desde 2019.
Sueli Ramos Ferreira afirma que a escola é uma das maiores conquistas do assentamento. Para ela, é o envolvimento de todos e todas que traz a abundância.
“Hoje aqui a gente tem trabalho de todos os setores e foca em manter os trabalhos de resgate da cultura e mobilização da juventude”, explica Sueli.
Participação e diversidade
A participação das mulheres e da juventude se faz presente no setor de produção e nas lutas, nas hortas e nos quintais. O território é forte na produção de café, cana de açúcar e mandioca.
Para Sueli, assentada na Fazenda Aruega, a diversidade tem se tornado cada vez mais presente no território, para garantir a permanência dos sujeitos no campo. “Além do lar, somos as donas da agricultura, das roças e da comunidade”, afirma.
Ao dizer que o modo de viver do Movimento produz relações saudáveis, Maria José projeta o futuro de seu assentamento e da Reforma Agrária no estado. “Nós fomos construindo uma nova sociabilidade, pautando valores e princípios baseados na agroecologia, na solidariedade, e no cooperativismo”.
A assentada reforça ainda os 36 anos de história e resistência da Fazenda Aruega e os 40 anos do MST para apontar a importância na construção da Reforma Agrária Popular. “É uma luta que pauta a educação, a saúde, a produção de alimentos saudáveis, e que envolve os camponeses e os trabalhadores da cidade “, afirma Maria José.
*Editado por Solange Engelmann